A pesquisa e a prática docente: apontamentos a respeito da formação de professores

Rosa Luizari1

Diariamente a experiência nos traz a confirmação de que práticas docentes desvinculadas de reflexões sistemáticas podem trazer sérias consequências para a aprendizagem dos alunos. Dificuldades e desenganos parecem constituir um quadro natural no cotidiano de professores e esse pode ser o fator responsável por visões que rompem com a necessidade de estudos contínuos pelos profissionais atuantes em sala de aula. Esse corte entre teoria e prática – provavelmente efetuado após o término do curso de graduação e início da atuação profissional – passa despercebido entre muitos e, mesmo quem não é perito no assunto, pode vir a crer na falsa ideia da não-relação entre teoria e prática e o território da formação de professores estaria desprovido de um respaldo teórico que lhe é inerente. No entanto, são vários os estudos que vêm demonstrando a relevância da formação contínua de professores.

Selma Garrido Pimenta é uma das pesquisadoras que escreve a respeito do tema. Em texto publicado na revista Educação e Pesquisa, a autora explicita a trajetória construída a partir de experiências com a formação docente. No resumo, justifica o uso da expressão “pesquisa crítico-colaborativa” como resultado da “reconfiguração de sentido e do significado da pesquisa-ação” (PIMENTA, 2005, p. 521). Interessante é a afirmação da autora ao colocar o professor como alguém que pesquisa e não como sujeito de pesquisas realizadas por outros. Vejamos a seguinte afirmação: “[…] A certeza que tínhamos era a de que queríamos realizar pesquisas com os profissionais nos contextos escolares e não sobre eles […]” (PIMENTA, 2005, p. 521). O trecho citado leva-nos a romper com a ideia de oposição entre teoria e prática, pois os docentes que atuam no contexto escolar produzem conhecimentos e suas práticas resultam da análise sistematizada desses mesmos conhecimentos, passíveis de reorganização. Nesse sentido, Pimenta (2005) afirma que:

A pesquisa colaborativa, por sua vez, tem por objetivo criar nas escolas uma cultura de análise das práticas que são realizadas, a fim de possibilitar que os seus professores, auxiliados pelos docentes da universidade, transformem suas ações e as práticas institucionais (PIMENTA, 2005, p. 523). 

Os apontamentos realizados pela autora sugerem que a causa primária da realização da pesquisa colaborativa pode ser a problematização do contexto da prática do professor junto com ele e em uma abordagem qualitativa de investigação. O que se busca não é situar em condição de igualdade professores e pesquisadores universitários, mas investir de clareza e dialogicidade uma prática que não é solitária e muito menos ingênua ou inconsciente. Por meio da pesquisa colaborativa apropriamo-nos do bom senso para reconhecer não a finalidade dela como instrumento de solução de problemas e sim um meio para adequação de práticas docentes realizadas por sujeitos historicizados. Para melhor conduzir a aprendizagem dos alunos, cabe ao professor revestir o cotidiano escolar de todo o sentido que se faz necessário. Certamente, se a pesquisa é fato, tem a prática docente a sanção do diálogo e da urgência.  

 

1Rosa Acassia Luizari é pedagoga formada pela UNESP e pós-graduanda em Literatura Brasileira no contexto da Literatura Universal pela Faculdade Metropolitana de Ribeirão Preto-SP. Professora do Ensino Fundamental em Rio Claro-SP. Autora do livro Sinopse do Corpo (2020). Participa de antologias de poemas no Brasil e no exterior. Destaque Social, Cultural e Educacional 2020. Email: rosaescritora@yahoo.com

 

Para saber mais: 

PIMENTA, Selma Garrido. Pesquisa-ação crítico-colaborativa: construindo seu significado a partir de experiências com a formação docente. In: Educação e pesquisa. São Paulo, v. 31, n. 3, p. 521-539, set./dez. 2005. Acesse aqui


Imagem de destaque: Prefeitura de Olinda

 

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