A Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire e o contraste da militarização do governo Bolsonaro

Antônio Eustáquio de Oliveira Fam
Vagner Francisco Martelo

“Não há mudança, só alternância de poder; Discriminado hoje, discriminador amanhã; mudança aonde, aonde cidadão.” Inicia-se esse breve texto com uma parte da canção da Banda Dead Fish, “Anarquia Corporation”, que retrata muito bem a mentalidade do cidadão oprimido, que se diz cidadão. O Brasil de Bolsonaro é o reflexo da opressão que, de forma nítida e tacanha, vem se promovendo ideologicamente através de discursos de disciplina e educação para a produção. O verdadeiro discurso vem se transformando em políticas que oprimem cada dia mais o cidadão (povo pobre e sem dinheiro), distanciando, econômica e mentalmente, os opressores dos oprimidos.

Paulo Freire, com sua genialidade, que é ímpar, enfatiza que a relação dualista opressor e oprimido é reflexo de uma estrutura que está consolidada e que é fabricada para que permaneça da forma que está. Não obstante, faz se a seguinte reflexão que plagiarei do Texto de Freire: “Qual a razão da situação opressora?” É muito fácil entender que a relação de opressores e oprimidos é uma vertente para que o poder continue funcionando da forma que se encontra, criando mecanismos que impossibilitam a inversão desse quadro. A educação, como forma de libertação do povo, está condicionada e fadada ao fracasso enquanto mecanismo de dominação. Os projetos de privatização das universidades públicas mostram que a educação vai se tornar uma utopia para os pobres e oprimidos no Brasil. O que fazer? E o que não fazer? A segunda pergunta é mais fácil de responder, pois se materializa em nossa situação de passividade com a atual situação; isso caminha junto com os discursos de adeptos a esse governo supra opressor. Privatiza-se uma educação que não é transformadora (libertadora), que reflete ideários de uma concepção elitista (opressora) que vê na educação bancária forma de alienação e estagnação do povo.

Em relação à primeira indagação, reforço refazendo outras: como libertar um povo que se adestra a cada dia com opiniões e conteúdos de uma realidade opressora, que não abre caminhos para o diálogo ou para construção de uma cidadania libertária? Como pode o oprimido se libertar sem oprimir? Boas indagações para uma sociedade que se imerge cada dia mais na corrida capitalista para o consumo exacerbado; onde o que impera é aquisição de mais bens, e não a luta para sua libertação dessas formas de promoção de um Estado opressor. O consumo é uma forma elitista de opressão, que aliena o povo, que o transforma em força de produção dos opressores, para produzir mais para que o oprimido consuma mais: a verdadeira luta de classes. A educação se vê no meio dessa realidade consumista, onde o mercado e as políticas educacionais mantêm o aluno em casa, através da educação EAD, cortando ou, para ser mais exato, findando a relação dialógica entre as pessoas. A educação está sendo trabalhada para ser a menos dialógica possível. Com base nessa educação que imerge o discente em um ambiente em que não há diálogo, só se concretizará o que está sendo construído: a opressão dos opressores. A BNCC é o documento que institucionaliza o poder opressor sobre a classe oprimido, onde eles (opressores) estabelecem o que nós (oprimidos) temos que estudar e aprender – resumindo: viramos robôs de manobra. As perguntas acima levantadas, na medida do possível, só pairam o imaginário ideológico de uma população que está sendo calada e transformada em soldados de um governo imperialista e militar.

O papel da Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire é trazer a consciência àqueles que querem libertar-se de toda essa farsa que se instalou no poder público do Brasil, para que crie uma educação que possa ser planejada e construída pelos oprimidos que já venceram a concepção opressor-oprimido. Não se pode construir uma educação sem que haja a superação do opressor em cada pessoa, pois se criará outra forma de se oprimir, que pode transparecer ser libertadora.

REFERÊNCIAS

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 62. Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2016.

LIMA, Rodrigo Alves; MOZACHI, Leandro Pretti; BARBOSA, Alyand Mielle; ROCHA, Marcel Dadalto. Anarquia Corporation In: FISH, Dead. Sirva-se. Vitória: Lona Records, [CD]


Imagem de destaque: Divulgação/Amazon

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