A morte do professor

Cleide Maciel

Não sei bem ao certo a data (há 5/6 anos… ou mais?) em que o texto me chegou às mãos, pela primeira vez. Veio acompanhado da mensagem: – Vê o que achas!!! Abri o arquivo e comecei a “ler direto”, sofregamente. O mergulho no romance significava, também, um retorno à minha tese de doutorado. Daí aquela leitura potencializada, surpreendente a cada página… Jamais imaginaria que o Primeiro Congresso de Instrução Primária (evento realizado em Belo Horizonte, no período de 09 a 18 de maio de 1927), “pano de fundo” da minha pesquisa, iria se tornar mote para a escrita de um romance policial. Lembro-me que compartilhei com o autor minhas impressões, uma das quais não me esqueci: – o título! Julguei que poderia não ser atraente, que era por demais literal, que indicaria uma alusão muito pessimista à nossa profissão…  Agora, nos começos de 2022, não é mais o que penso!

A leitura do livro recém-publicado – A morte do professor (Luciano Mendes, ed. Caravana) – levou-me a outras paragens, me fez embrenhar, com novas emoções, pelos caminhos traçados pelo autor. A começar pelo título. O que me parecera fora de propósito, já neste momento, considero muito pertinente! Se essa permanência pode nos levar a pensar que “nada mudou”, o tempo em que se dá minha releitura é outro. As condições atuais da vida do professor podem estar refletindo o título, como uma sinistra alegoria. Não que o romance tenha essa pretensão… (ou teria?).

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De que modo a história da morte do professor é contada? A partir do recurso ao diálogo! Os personagens estão, na maior parte do tempo, conversando entre si ou consigo mesmos. Ficamos sabendo dos enredos, dos fatos, porque o narrador põe todos a falar. Esse é um artifício que produz, no texto, um movimento bem adequado a um romance policial. Nesse proseado, as letras vão compondo palavras, frases, parágrafos, capítulos numa sucessão quase que cinematográfica! Ora à custa do travessão, que alterna personagens; ora com o auxílio das aspas duplas e simples que indicam a autorreflexão quando, tanto o personagem principal quanto os demais, colocam para si mesmos as indagações.

O diálogo possibilita visualizar os espaços em que a trama se dá. Assim, muitas descrições são apresentadas por meio do olhar e da fala dos personagens. Apoiados nesse recurso, conhecemos como são as casas, as ruas, os bordéis, as escolas, as estradas, os bares, as vendas porque, em suas trocas de palavras, os personagens vão fazendo alusões a esses lugares…

Ainda pelos diálogos, o personagem principal, Herculano, mostra bem a leveza e transparência da face com que revela sua vida aos outros, como a complexidade dos conflitos internos que acabam por desvendar o sentido da trama.

A história da morte do professor também é narrada com um dos artifícios que mostram a imensa/intensa imaginação do autor:  a construção de um enredo em que uma história é contada dentro da outra. Isso significa que os personagens, por mais periféricos que sejam, num dado momento da urdidura, vêm para o centro e contam sua história (ou, têm sua história contada). Assim o narrador, tal como Sherazade, nos prende numa teia, nos surpreende com os inusitados das “soluções” para os mistérios e nos cativa até o desfecho final!

Além de nos capturar com pequenas histórias que se juntam para configurar o romance há ainda, um “detalhe” surpreendente: como o enigma da morte de um professor é desvendado com o auxílio de uma engenhosidade própria da especialidade de sua profissão. Qual? Será preciso ler o livro para descobrir sobre o que estou falando!

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Desde a primeira obra de ficção de Luciano Mendes, tenho me perguntado: – onde estava esse veio, essa mina, que, de repente, “explode” numa intensa sucessão de contos, novelas, romance? Como isso ficou guardado por tanto tempo? Ou, se não esteve escondida, como essa imaginação criadora se fez presente na trajetória do professor/pesquisador? Talvez a constante inquietude…

 

Sobre o autor
Contato: cleidemaciel@uol.com.br


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