A escola para mim sempre foi um refúgio e a minha porta para a “vida”

Stefani Alves Sustiso1

Sou Stefani Alves Sustiso. Todos os Sustiso são parentes; os integrantes desta família não se afastaram muito. Meu pai vem de uma família grande de cinco irmãos, onde um está, os demais também estão. Este é um dos motivos de termos nos mudado para Balneário Camboriú; o outro é que há mais oportunidades de trabalho e de estudo para meus primos e minha família. 

Eu cresci em uma cidade pequena, com mais ou menos 42 mil habitantes na época, chamada Palmas, no estado do Paraná. Nasci no dia 25 de agosto de 2002. Logo que nasci eu tive um pequeno problema: fenda palatina. Isso causou uma complicação no ouvido. Fui para o Centro de Atendimento Integral ao Fissurado Lábio Palatal – CAIF em Curitiba logo que nasci. Depois passei a frequentar anualmente esta instituição de saúde. Com o Sistema Único de Saúde – SUS, pude fazer a cirurgia totalmente gratuita, como orientam as Leis 8.080/90 e 8.142/90, que dispõem sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde; a participação da comunidade na gestão do SUS e as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde. Com essa cirurgia eu pude viver sem problemas mais graves. Se não existisse o SUS eu poderia ter tido minha vida reduzida a nada, pois a família não possuía excelentes condições econômicas. Sou muito grata a esta política de saúde pública. 

Em 2004 foi indicado pelo médico da família a minha socialização porque eu tinha comportamentos agressivos com outras crianças e adultos: batia, mordia e espantava as pessoas. Melhorei nesse aspecto e então fui para a Escola Municipal Professora Senhorinha Medeiros Mendes, porém não foi possível permanecer nela devido ao local onde eu residia. Como morávamos em um pomar de maçãs em um lugar mais recluso, isso dificultava a ida até a escola. Em 2007 fui para uma creche que fazia parte de um projeto do posto de saúde; novamente não pude permanecer no local. Em 2008 fui para o primeiro ano na Escola Municipal Professora Nerasi Menin Calza, onde fiquei até 2012. Deveria ter trocado de escola em 2011, mas houve o acréscimo de um ano de estudo, o nono ano. A duração do Ensino Fundamental por meio do Projeto de Lei nº 3.675/04, transformado na Lei Ordinária 11.274/2006, foi ampliada de oito para nove anos. 

Em 2013, fui para a escola Padre Ponciano, que usava a Igreja na rua da frente por falta de salas. Nela eu fiquei menos de um ano, pois em novembro do mesmo ano me mudei para Balneário Camboriú e fui estudar na escola Ivo Silveira. Não tive uma boa impressão, porém fiquei lá até meu nono ano. Eu tinha planos de ingressar no Instituto Federal Catarinense – IFC Campus Camboriú para cursar o Ensino Médio. Tinha que pagar uma taxa de inscrição e meu pai não conseguiu, pois houve a greve do Banco do Brasil, com os bancários buscando qualidade de trabalho. A Federação Nacional do Bancos fez algumas propostas, mas quando encerrou a greve havia passado o prazo para o pagamento da taxa. Neste período fazer um pagamento por aplicativo era impensável. Então fui para a escola João Goulart, em 2007. Nela pude vivenciar de verdade o trabalho de um professor e pedagogo. Até então eu imaginava que era só alguém da administração da escola encaminhando todos para suas salas.

Esta foi a escola na qual eu me formei no ano de 2019. Fiz o Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM, e com o Sistema de Seleção Unificada – SISU ingressei no IFC no curso de Licenciatura em Pedagogia. Em 17 de março de 2020, as escolas precisaram ser fechadas por conta de uma pandemia: a COVID-19. Por conta disso foi necessário o distanciamento social e, assim, logo após ter iniciado minha graduação, passamos às aulas remotas.

Minha entrada no IFC foi uma vitória, mesmo estando em isolamento em casa, fazendo tudo remotamente.  As escolas públicas abriram muitas portas para minha família e para mim, sejam elas contribuir com os processos de socialização, ou escolher uma carreira profissional e entrar no mundo do trabalho. Minha família toda estudou em escola pública e só conseguimos o que temos por conta desse ensino gratuito. Alguns de meus comportamentos agressivos foram melhorando diante da atuação das professoras das escolas públicas que frequentei. Assim, a palavra que me ocorre para encerrar este pequeno escrito é GRATIDÃO!

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Uma versão preliminar deste texto foi escrita como atividade avaliativa da disciplina História da Educação, do curso de Licenciatura em Pedagogia do Instituto Federal Catarinense – campus Camboriú, ministrada pela Profa. Dra. Marilândes Mól Ribeiro de Melo. 


Imagem de destaque: Licya

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