A escola nos domínios do capital

Valter Machado da Fonseca

Neste 07 de setembro de 2021, assistimos aos propósitos nítidos do fascismo que se instaurou no país, ou seja, subjugar a população brasileira aos delírios e delinquências de uma política totalitária, ditatorial, visando ao atendimento dos anseios dos pilares do grande capital, manipulando parcelas menos esclarecidas e altamente sofridas dessa população sob o viés de um pseudopatriotismo e de um apelo ao obscurantismo de alguns dogmas da religião. Sob este argumento atacam-se todas as conquistas históricas dos trabalhadores como a saúde, habitação, educação, dentre outros. Trata-se da tentativa de destruição de todos os setores das políticas sociais.     

É notório que os discursos predominantes no âmbito do debate educacional brasileiro passam, necessariamente, pela formação do educando com vistas à sua integração ao mercado de trabalho, o qual é regido sob a batuta do grande capital e seus mecanismos de controle e regulação. Assim, sob esta perspectiva, a educação passa a reproduzir tais discurso e a qualidade do ensino fica submetida ao crivo dos números estabelecidos pelas metas e parâmetros que vão qualificar (ou desqualificar) determinada instituição de ensino, desde a formação básica até a superior, inclusive na pós-graduação. Embora, na sociedade moderna, sempre tenha existido a corrente afirmativa da escola reprodutivista das tendências do mercado capitalista, nos tempos d’agora esta afirmação se torna ainda mais contundente diante da inferência da eficácia do ensino relacionada aos parâmetros quantitativos (numéricos) criados pelos gestores da educação no Brasil e no mundo. Há que se ressaltar os absurdos saídos da boca do próprio ministro da educação, como por exemplo, a afirmação que as crianças deficientes sejam separadas das turmas ditas normais para não prejudicar a aprendizagem desses educandos. 

Assim, a educação vem sendo sistematicamente ancorada e ajustada pelos mesmos mecanismos de regulação e controle do sistema produtivo capitalista. Desta forma, podemos afirmar que a escola é um espelho (em proporções menores, mas com o mesmo grau de intensidade) da correlação de forças existentes na sociedade sob o domínio da hegemonia capitalista, marca indelével da sociedade dos tempos presentes. 

Neste sentido, pensar a escola, os projetos pedagógicos, os currículos, a relação ensino-aprendizagem, a formação e o trabalho docente, demanda uma análise meticulosa dos parâmetros erigidos pelo capital para medir a eficiência da educação e sua qualidade (sempre diretamente vinculada e conectada com o sucesso ou insucesso do ensino voltado para os mecanismos de regulação do mercado de capitais). 

Então, para que possamos lograr êxito em nossas análises, é preciso a exata compreensão dos movimentos conjunturais da sociedade de classes, combinados com o movimento contínuo e infinitamente potencial da capacidade de evolução cognitiva de educandos e educadores na busca de conceitos e parâmetros para a formação integral do ser humano rumo a um processo de ensino-aprendizagem que seja capaz de edificar um novo modelo educacional fora dos parâmetros numéricos estabelecidos e para além do mercado regido pela mais-valia. 

A escola foi pensada e organizada dentro de um processo histórico de produção do conhecimento, onde este conhecimento produzido sempre esteve sob o controle das elites intelectualizadas e/ou daqueles que sempre detiveram o poder político e econômico. Na origem da sociedade capitalista ela foi pensada e arquitetada para difundir os conhecimentos da burguesia incipiente e que acabara de ascender ao poder. Assim, a escola, como lugar privilegiado de aquisição, sistematização e construção de conhecimentos e saberes, sempre esteve voltada para as demandas e interesses dos dominantes, ou seja, sempre esteve a serviço de uma determinada elite ou classe social.

Então, pensar a educação nos tempos d’agora, demanda uma reflexão sobre a história e a origem da escola nos marcos do domínio do capital. Demanda uma revisita aos fundamentos, conceitos, necessidades e aspirações sobre os quais ela erigiu. Dizer, então, que a educação é um ato político significa dizer que a educação não está divorciada das características da sociedade; ao contrário, ela é determinada pela sociedade na qual está inserida. 

Finalmente, pensar a escola sob o viés ditado pela política neoliberal é não se assumir de fato como educador e, para reverter esta lógica ilógica, é necessário que nos assumamos como seres eminentemente políticos, pois, afinal educar é um ato político. Ao optar por um dos modelos possíveis de escola, os atores educacionais desenvolvem um ato político. Diante disso fica o chamamento a todos os atores sociais e educacionais a se posicionarem numa atitude classista (em conjunto com todos os marginalizados e trabalhadores (as) desse país), visando a dar um basta ao ideário ultraliberal fascista que domina nosso país. E isto é fundamental para a formação das consciências individuais e coletivas de nossos atores educacionais.


Imagem de destaque: Palácio do Planalto

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