Os limites de todo o conhecimento

Cesar Tólmi

A mente humana se originou, se desenvolveu e segue se desenvolvendo mediante nossa interação com o meio. A “linguagem-raciocínio”, partindo de experiências sensório-mnemônicas, tende ao erro e, em algum nível, erra sempre, em cada um de seus “acertos”, pois toda “verdade” é um “retorno conceitual” sobre o objeto observado, seja ele externo ou interno, é uma percepção, não uma absoluta apreensão. Dessa percepção, somada a todo o seu “banco de imagens”, “de sons”, “de diversos tipos de informação”, o indivíduo constrói seu conceito sobre o real externo e sobre -seja na por assim dizer- o real interno. Toda realidade é, portanto, subjetivada, e toda a subjetividade, por sua vez, é transportada à realidade, fundindo-se a esta. Há, sempre, em maior ou menor grau, uma subjetivação para fora, isto é, em relação às coisas externas, e uma subjetivação para dentro, isto é, em relação às coisas da (e na) própria consciência.

A descrição de um fenômeno é, por si, também um fenômeno, inclusive interligado ao fenômeno que visa descrever, de maneira que se torna impossível a descrição exata de um fenômeno, mesmo daquele ocorrido internamente, enquanto “fenômeno da própria consciência” em face do que ocorre externamente, visto que há fatores fisiológicos, neurofisiológicos, que limitam o entendimento, seja por deficiência orgânica, seja por “inconsciente seleção de dados”, porque o cérebro funciona como um “pescador” que, “desejando pescar grandes peixes, pode, muitas vezes, conseguir apenas peixes pequenos”.

A consciência humana é um “mar…”, e o “pescador” é somente “parte do que somos”, o que equivale a dizer que é a “parte autoconsciente”, de -seja por assim dizer- uma “parcela da própria consciência” que é “imenso mar”; o pescador se foca em uma “região pequena do mar”, selecionando-a, para nela pescar. Podemos utilizar, ainda, outra metáfora: a consciência é algo similar à uma máquina de fotografar, que faz um “recorte de uma cena imensa”, capturando, mediante a lente e todo o sistema que compõe tal máquina, apenas aquilo em que pôs o seu foco, e além disso, posteriormente, a foto, a cena capturada, acaba sendo mais ou menos editada, sendo acrescidas tonalidades diversas, retirados alguns “elementos indesejáveis” etc. Sendo assim, podemos afirmar que, a consciência que, sobre um objeto, externo ou mesmo interno, se debruça para este descrever, transfere a este parte de si mesma; a consciência acrescenta à ela mesma e/ ou dela retira, certos detalhes do fenômeno em questão. Isto é, observador e objeto se relacionam ao ponto de influenciarem-se mutuamente. Aliás, contrariando a base principal da Psicanálise, afirmo que não existe “Inconsciente”, e sim, “níveis de inconsciência”.

De maneira metafórica, comparo a psique ou “mente” à um porão com a porta entreaberta, movendo-se ora para dentro, ora para fora, em diferentes graus, conforme a força do vento, fazendo, assim, que a luz entre, pouco a pouco, e que, pouco a pouco, se vai dissipando; gradações de luz e de escuridão se alternam no mesmo recinto, revelando ou ocultando, ora mais, ora menos, os objetos que nele há. Por conseguinte, ao que se costuma chamar de “Consciente”, também se deve aplicar a mesma metáfora, visto que, tanto a um exemplo como ao outro, a questão -metaforicamente falando- é de “níveis”, “gradações variáveis” da “expansão” e da “retração da luz que incide no interior do porão”. O “recinto” é somente um: não se trata de dois e, menos ainda, de “recintos” interligados, se fossemos considerar um tal “Pré-consciente”.

Finalizo dizendo que, toda essa exposição sobre os limites do conhecimento, deve nortear as nossas ações em prol da pesquisa e do ensino. Sejamos, antes de qualquer coisa, guardiões de uma linguagem cada vez mais depurada, para um raciocínio cada vez mais assertivo e, consequentemente, mais útil a todos que interagem conosco.

Sobre o autor
Filósofo, professor de Filosofia, psicanalista, jornalista, artista plástico autodidata, escritor e idealizador da Neuropsiquiatria Analítica.


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