Existe uma extremidade radical 

Eugênio Magno

É forçar muito a barra vender para a população brasileira a ideia de que nessas eleições existe uma polarização entre a extrema direita e a extrema esquerda. Nada mais falacioso.

Na verdade, o que temos é a disputa entre um projeto político que pretende recuperar o Estado desmantelado e as conquistas sociais perdidas, organizar a economia e recolocar a classe trabalhadora entre as prioridades de governo, contra uma proposta de ampliação dos cortes das políticas sociais, em nome de uma ordem obscurantista e subjetiva a serviço do capital. De um lado temos sim a extrema direita representada militarmente, inclusive, por um capitão que inverte a lógica hierárquica das Forças Armadas, desvirtua as funções constitucionais de nossas três forças militares de segurança nacional e contribui para macular sua imagem. Do outro lado, um grupo político que já esteve no poder e que, ao longo de 14 anos de governo, jamais adotou qualquer agenda extremista e por três mandatos e meio governou para todos.

O Partido dos Trabalhadores, embora taxado pelas elites como partido radical, se comporta de forma até muito moderada para os padrões da tradicional esquerda mundial. O PT já provou e com seu programa de governo atual reitera estar muito mais próximo da chamada centro esquerda. Para desgosto dos dissidentes e dos poucos radicais que mantiveram suas filiações, o partido sempre cumpriu uma agenda social democrata. A escolha nas próximas eleições de 3 de outubro, portanto, não é entre dois extremos, mas entre um grupo cuja orientação é claramente radical, autoritária, contra tudo que diz respeito ao avanço civilizacional e um campo democrático – com acento no social – que defende a soberania popular, o funcionamento republicano das instituições e o estado democrático de direito.

É importante que o eleitorado se dê conta do medo que está sendo imposto à população por uma fatia mínima da sociedade que controla a mídia e o capital e é formada pelos setores mais conservadores e atrasados do país. Eles alardeiam projeções absurdas sobre um quase certo novo mandato da esquerda e especulam sobre o que não sabem; enquanto, por trás de cortinas de fumaça, dilapidam nossas riquezas e destroem as instituições, na tentativa de garantir a impunidade e avançar ainda mais com a mundialmente falida agenda neoliberal.

Nunca é demais ressaltar que o equilíbrio e o reposicionamento do Brasil entre os países mais importantes do mundo, assegurando dignidade aos mais pobres e garantias democráticas, não depende de nenhuma terceira via. Até porque essa maluquice de que “o Brasil poderá se tornar uma Venezuela ou Cuba” é uma estupidez. A grande imprensa tem que parar com essa orquestração desafinada e não esconder a real: o maior risco que corremos é de que nos chafurdemos ainda mais no abismo em que nos metemos, se o país continuar em mãos erradas.

Recolocar o país nos trilhos do desenvolvimento econômico sustentável e garantir à população o direito a ter direitos, regular as relações comerciais, incentivar a geração de trabalho e renda e salvaguardar a dignidade da vida humana é dever do Estado e obrigação dos governantes.

A esquerda brasileira não representa nenhum risco à institucionalidade do país e, dentre os presidenciáveis – gostem ou não –, Lula é o único com chances reais de fazer parar a força reacionária que semeia o ódio, tem promovido significativos estragos no tecido social, na economia, nas relações diplomáticas internacionais e que ainda pode levar o Brasil do caos às trevas se permanecer no poder. Mas a luta e a esperança em dias melhores é o que sempre deve nos alentar. As pessoas de bem, com um mínimo de informação e decência, ainda que não anunciem, certamente não cometerão o voto envergonhado, de cidadão acuado, refém do medo. Elas sabem que a pátria pode sangrar e que suas consciências irão gritar.

Diante do quadro eleitoral que se formou, as lideranças mais sensatas do país já se empenham vigorosamente e articulam uma ampla frente para apoiar a repactuação da democracia e o projeto de retomada do desenvolvimento e crescimento econômico com justiça social. Apesar do terrorismo de mercado, da ação nefasta das aves agourentas da mídia hegemônica e do reacionarismo de uma pequena fração da classe política conservadora, o bom senso certamente prevalecerá.


Imagem de destaque: Armas e Livros (Reprodução do site vermelho.org)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *