Espaços de protagonismo na escola

Edilson da Silva Cruz 

Na reflexão iniciada no artigo anterior, ao constatar que o protagonismo é condição, objetivo e direito dos educandos, nos perguntamos: quais são os espaços de protagonismo que não podem ser desconsiderados dentro da escola? Nos referimos a um protagonismo juvenil/estudantil, forjado com a contribuição consciente das educadoras e educadores, estes também protagonistas do processo educativo. 

A resposta à pergunta elaborada varia, conforme a rede de ensino a que nos referimos, se a escola é pública ou particular etc. No entanto, em minha experiência como diretor/educador da rede pública municipal em São Paulo, identifico ao menos quatro espaços propícios ao desenvolvimento do protagonismo juvenil/estudantil: a aula, os colegiados escolares, os momentos de escuta e o Grêmio Estudantil. 

O primeiro deles, claro, é a aula, entendida como “um ambiente envolvendo alunos e mestres que organizam uma sequência de conhecimentos com uma estrutura que contém (…) o contexto e a problematização, explicação, reflexão e conclusões” (ALMEIDA, 2013, p. 26). (2) Não se trata da sala de aula como espaço físico, mas da aula como espaço simbólico, momento da prática educativa e da relação educador-educandos. Na aula, o desenvolvimento do protagonismo como condição, objetivo e direito se dá mediante um conjunto de práticas relacionadas ao planejamento, metodologias e gestão de aula, avaliação. 

O planejamento deve favorecer a escuta dos estudantes, através das avaliações diagnósticas, pesquisa sobre interesses e necessidades etc. As metodologias devem ser construídas e colocadas em prática visando abrir espaços para a expressão autônoma dos estudantes. Já a avaliação, além de serem formativas, devem favorecer a autoconsciência dos educandos e educandas, mediante autoavaliações, explicitação dos critérios avaliativos aos estudantes e suas famílias etc. 

O segundo espaço de protagonismo que existe em escolas públicas é o dos colegiados. A partir da CF/88 e a Lei 9.394/96 (LDB), a comunidade passa a ter direito de participar de colegiados e isso inclui os estudantes. Conselhos de Escola, Associação de Pais e Mestres, Comissões de Mediação de Conflitos são lugares de diálogo e reflexão sobre a escola, seu contexto e entorno, mediante o diálogo entre professores, funcionários técnicos, gestão, pais e responsáveis e estudantes. Essa experiência pode contribuir para que os estudantes experimentem a democracia como necessidade de ouvir o outro e posicionar-se diante de questões pertinentes. 

O terceiro espaço é composto pelo que chamamos de momentos de escuta. Ao longo do ano, a instituição precisa ouvir os estudantes sobre o que pensam e gostariam em relação às aprendizagens e relações escolares. Essa escuta contribui para que estudantes aprendam a se posicionar e para que educadores aprendam a escutar de modo a possivelmente redimensionar seu projeto de trabalho. 

Por fim, o Grêmio Estudantil é um outro espaço de protagonismo. Na Secretaria Municipal de Ensino de São Paulo, desde 2019 existe uma lei que regula a existência desses colegiados como espaços de fomento à participação dos estudantes no cotidiano da unidade escolar e de incentivo ao exercício da cidadania e engajamento democrático. Através do Grêmio, os educandos e educandas podem contribuir com a reflexão escolar, na defesa de seus interesses, aprendendo também a dialogar e posicionar-se como grupo de interesse. É o modo mais avançado de exercício do protagonismo, uma vez que demanda uma ação autônoma, sem interferência dos adultos. 

Reconhecer estes espaços de protagonismo é necessário para que nós, educadores, não negligenciemos nosso papel de fomento à autonomia e participação estudantil desde a sala de aula: em cada aula é que se lançam as bases para fortalecer processos participativos e a construção da autonomia. Sem a aula, os momentos de escuta, colegiados e Grêmios perdem força e tendem e não colaborar com uma formação crítica. Ao contrário, quando há convergência entre o que acontece na aula e fora dela, nos outros espaços, constroem-se relações de poder mais horizontais que fazem acontecer os objetivos do protagonismo. 

Para saber mais
ALMEIDA, F. J. O resgate da aula essencial: um desafio urgente. SÃO PAULO. SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. Revista Magistério, 2004, p.  14-26. Acesse aqui


Imagem de destaque: Galeria de Imagens.

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