Tiago Tristão Artero
Se nós, professores, deixarmos os avanços das ciências e, mais especificamente, da educação para trás e não nos apropriarmos dos cernes basilares da educação, não estaremos estagnados. Estaremos sim, caminhando a passos largos para um retrocesso difícil de ser freado. Afinal, que tipo de educação estamos propondo? Que autonomia e segurança teremos em nossas práticas se buscarmos simplesmente um modelo a ser seguido? Ou pior, se quisermos inovar sem fundamentos e abordagens consistentes?
Logo, cabem algumas reflexões acerca do conhecimento.
Afastar-se do pensamento místico, buscando o pensamento lógico, foi característica marcante no período socrático, onde existia nas crenças o temor aos deuses da época, ação, portanto, desvinculada da razão, por basear-se em mitos.
A alma era a origem da vida e o autoconhecimento o antídoto para a maldade e a ignorância. Platão reforça o status divino da alma humana, tendo como base recursos de Sócrates.
Onde está o conhecimento, então? Bem, nessa época teríamos o conhecimento originário do corpo e o conhecimento originário da alma. Já Aristóteles, diferentemente de Platão e Sócrates, unia o corpo à alma, indivisíveis. Permitir que o corpo esteja presente, pois não pode ser separado da alma, é uma boa forma de encararmos a educação.
A teoria do conhecimento, no século XVII, torna-se uma disciplina filosófica independente, permitindo ao racionalismo e ao empirismo se contraporem.
Seria o conhecimento algo proveniente da experiência? Ou seja, das ações sensoriais, como diz o positivismo?
Ou ainda, o conhecimento autêntico estaria ligado àquilo que a ciência pode sistematizar, observando-se e registrando os fatos, como atesta o positivismo? Assim, se não quantificarmos, definirmos um objeto de estudo, estabelecermos uma objetividade e cumprir critérios pré-estabelecidos, o conhecimento não pode ser sistematizado, como nos diz esta corrente.
O fato é que a diversidade de áreas de estudo, práticas e linhas de pensamento tornam o conhecimento algo incrível e possibilita infinitas maneiras diferentes de manifestação.
Ainda que não haja um consenso sobre “como se obter o conhecimento”, sobre “os objetivos da educação” e a respeito das “melhores maneiras de se gerir, organizar e atuar no âmbito educacional” e, mais especificamente, nas ações pedagógicas, este fato, de maneira alguma, pode servir de subterfúgio para desanimarmos e relegarmos essa diversidade como sendo algo negativo.
Muito pelo contrário: nos apropriarmos dessas várias correntes, tendências pedagógicas e sistemas de gestão educacional, trará a autonomia e segurança necessária ao nosso trabalho e resultará em ricos processos de atuação educacional, embasados em ações sólidas preconizadas pelos avanços da educação no decorrer dos séculos.
Fazer do conhecimento algo extraordinário, como ele o é, dá acesso às motivações mais consistentes, tanto para o nosso estudo, quanto para o estudo de nossos alunos.
Inovar parece ser um comportamento de rebeldia, se realizado por um profissional da educação. Preferimos, muitas vezes, o “fracasso certo” do que o “sucesso duvidoso”. A sala de aula tornou-se a prisão de nossas mentes e cérebros.
A lousa – tanto faz se é um quadro branco ou um estimulante projetor, ou ainda, uma lousa digital – nunca será tão emocionante quanto o mundo real.
As carteiras enfileiradas (talvez, necessária em alguns momentos), nunca serão mais motivadoras do que sentar-se em círculo no pátio ou embaixo de uma árvore.
Os recursos audiovisuais (interessantíssimos, em muitos casos) não têm o poder de reproduzir a realidade como ela é e, provavelmente, nunca terão.
Um belo triângulo desenhado no quadro não tem o mesmo impacto do que uma figura geométrica traçada na areia por um simples pedaço de galho ou uma imagem observada dentro do campo de visão alcançado ao “ar livre”.
A linguagem sempre será mais relevante se for carregada de emoções, principalmente se houver abertura para a contraposição, para a discordância, para a argumentação, para a manifestação dos desejos, anseios e dificuldades humanas.
Mas, então, de que nos serve toda a estrutura física e de recursos humanos criada no ambiente escolar? De que nos adianta tentarmos reproduzir a humanidade, olharmos o mundo através da ponta do giz se, definitivamente, vivemos nele e podemos utilizá-lo de graça? Estaria a escola desvinculando-se cada vez mais das experiências reais, negando a sociedade, negando a cultura e embrenhando-se para objetivos cada vez mais alienantes, juntamente com nossas práticas e a necessidade de colocarmos tudo em uma caixinha bem fechada, cheia de senhas como planos de aula, eixos temáticos, metas, prazos, burocracias pedagógicas e ações incongruentes?
Estaria a escola, tanto a pública quanto a particular, transformando-se em uma empresa? Ou na verdade estão se tornando um “Mundo de Truman”. Por favor, avisem-me, porque se for verdade, mandarei meu avatar para “assistir” aula e eu, ah…, eu vou viver!!!