Entre gritos e sementes da educação

Laura Amato

No dia 22 de abril deste ano, participei, como ouvinte, de uma aula promovida pelo programa de Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem, na PUC- SP, com as professoras Antonieta Megale, Fernanda Liberali, Jorgelina Tallei e Catherine Walsh. A última, convidada a ministrar a palestra, trouxe o debate sobre educação insurgente e interculturalidade abordando sobre como podemos fazê-lo entre gritos, fendas e sementes. Numa provocante explanação, a autora aborda esses três fazeres e a necessidade de se repensar o status quo

Após ver a aula, lembrei-me de um filme francês de 2018 e disponível na plataforma Netflix, chamado “Semestes podres” (Mauvaises herbes). O filme é protagonizado por Kheiron, que também é o diretor e roteirista do filme.  O filme conta a história de Wael, um garotinho que foi obrigado a estar nas ruas após o assassinato da sua família durante a guerra. Ele precisou aprender a sobreviver, utilizando artifícios nem sempre honestos. Já adulto, em companhia da sua amiga Monique, aplica golpes em idosos e quando um desses golpes dá errado o enredo do filme começa a mostrar ao público para o que veio. Wael então é designado para ajudar na reabilitação de jovens excluídos de um sistema educacional padronizado.

Kheiron é franco-iraniano e as personagens jovens do filme apresentam claramente origens não-europeias. A origem destes jovens é vista como um estigma e apresenta um grito de socorro e também de demonstração de presença. 

Como ignorar a diversidade cultural, linguística e social presentes nas escolas atualmente? Um grito de socorro para mostrar que a diversidade não é um problema, mas uma potência que deve ser encarada localmente, na resolução de conflitos e no combate aos preconceitos, promovendo a interculturalidade. Ao gritar e mostrar presença, esses jovens nos fazem ver a importância da educação contextualizada, que semeia e dispersa outras sementes, pois buscam compreender a própria realidade e a partir dos conhecimentos aplicáveis a esta, a modificam. 

As ditas “sementes podres” do filme nada mais são do que os gritos e as sementes da Walsh, nesse sentido, a educação, em uma perspectiva intercultural crítica, nos revela que o “podre” está no sistema colonial, patriarcal e neoliberal, e as sementes devem questionar isso e assim por em cheque este paradigma.


Imagem de destaque: Divulgação / Netflix 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *