Tiago Tristão Artero
Alçar compreensões mais amplas a respeito da organização escolar nos fará reposicionar os objetivos da educação, avançando em busca do combate à carência cultural e a falta de criticidade manifestada pelos alunos e professores.
O desenvolvimento do capitalismo no Brasil estabeleceu novas relações sociais baseadas no modo de produção e nos novos objetivos de vida, permeados a partir dessas relações.
Com toda certeza, a educação está abastecida dos objetivos republicanos, assim como a concepção de indivíduo a quem esta educação se reporta.
Estudos acerca do ser humano e de seu comportamento foram marcantes no início do século XX no Brasil, ocorridos em laboratórios baseado no modelo europeu. O movimento do escolanovismo bebeu dessa fonte. “Psicologizar” a educação era necessário naquele momento. Na segunda metade deste mesmo século, a psicometria, com sua característica de medir os sujeitos por meio de testes psicológicos, foi uma tendência marcante. Mas o que isso tem a ver com a educação?
Crianças com necessidades específicas foram separadas para receberem estímulos específicos (há os que dizem que sofreram um processo de exclusão e de segregação). A classificação entre aptos e não aptos também foi determinante na organização do ensino.
A prática profissional somente foi repensada depois da década de 80, momento em que a democracia volta à tona. Os PCN’s, por exemplo, foram instituídos somente na década de 90 e, mesmo com os avanços, os direitos fundamentais estavam em segundo plano frente às necessidades/prioridades políticas da época – entre esses direitos a não-evasão nas escolas e o acesso universal ao ensino.
A educação, como legitimadora da desumanização do ser humano, não cumpre seu papel quando pensamos na autonomia necessária aos indivíduos críticos modificarem sua realidade. A manutenção do status quo não auxilia o desenvolvimento social, por instituir amarras próprias do sistema vigente, dificultando qualquer tipo de evolução, além das já conquistadas.
Crer que as carências educacionais, como percebemos nos discursos de alguns educadores, partem de problemas com os alunos ou com suas famílias parece contrapor as noções mais elementares da educação. É verdade que a carência cultural, tipo de carência muito mais danoso que a carência material, prenuncia fatores limitadores referentes ao alcance da educação. No entanto, mister se faz avançar naquilo que é possível, de fato, realizando ações que auxilie na mudança social e cultural, e não dizendo que a sociedade e a cultura não contribuem para tal mudança.
Como exemplo de fator que influenciou a educação, a presença do psicólogo, antes esperada para classificar (ou segregar) os alunos, baseado em suas capacidades, agora aparece como reforçadora da função social e política do espaço educacional. Assim, o sujeito integral não é só aquele que desenvolve-se cognitivamente, mas também, por meio das emoções, da psicomotricidade e em suas relações sociais e familiares. Esse olhar permitiu, recentemente, o surgimento da ABRAPEE, Associação Brasileira de Psicologia Escolar, marcando definitivamente a necessidade da presença do psicólogo como sujeito reflexivo que, juntamente com os educadores, irão propor ações para o sujeito integral que se apresenta.
Percebe-se daí a vocação da educação em relacionar-se com várias áreas do conhecimento, devendo colocar-se, não como reprodutora da sociedade, mas como incitadora de rupturas, com seu teor dialético e transformador.
Entender o meio educacional como um espaço social possibilita visualizar que as diferentes mediações realizadas permitirão apreender os conhecimentos obtidos no decorrer da história, aplicando-os nas práticas sociais.
Por isso, perceber nuances do liberalismo e do positivismo em nossas práticas pedagógicas, alçando compreensões mais amplas a respeito dos processos avaliativos e a organização do espaço escolar, nos farão reposicionar os objetivos da educação, avançando em busca do combate à carência cultural e da falta de criticidade manifestada pelos alunos e professores.
Daí decorre a importância de nos apropriarmos a respeito do tipo de educação que estamos falando, como ela se constituiu historicamente e de que forma contribui para a sociedade. De forma geral, é importante saber em quais objetivos ela se desenvolve e se baseia.
Observando o todo relativo à educação, a impressão que dá é que as ações pedagógicas, a organização didática, gestão escolar, entre outros pontos importantes da educação, são simplesmente manifestações de algo maior que necessita ser readequado frente às novas necessidades: a definição do papel da escola e sua atuação na sociedade.
Colocando em termos mais simplistas em relação ao parágrafo anterior: de que vale agirmos de maneira pedagogicamente correta se os objetivos da educação necessitam ser readequados? De que vale investirmos milhões em uma estrada que necessita ser redirecionada?
Esses são os verdadeiros combates que a educação deve combater.
Como mencionado no título desta matéria, os pontos levantados darão subsídios para a compreensão da seguinte frase: direcionando os rumos da educação.