Pesquisas Interesseiras e Políticas de Educação

Editorial do Jornal Pensar a Educação em Pauta nº 197

A comunidade acadêmica e os(as) profissionais da educação básica são continuamente criticados por não contribuírem para que as políticas públicas e as práticas escolares não sejam baseadas em evidências científicas. A academia, porque supostamente pesquisa coisas de pouco interesse para os gestores e para os(as) docentes; os(as) professores(as), porque não têm formação suficiente para entender e aplicar a ciência na sala de aula.

Em vão têm sido os esforços para convencer os críticos, sobretudo aqueles pouco afeitos às lides da escola básica e/ou aliados ao empresariamento da educação, mas também a um expressivo grupo de acadêmicos bem intencionados que querem contribuir com a reforma da escola, que entre a pesquisa acadêmica em educação e sua apropriação na políticas e nas salas de aulas, há um conjunto de variáveis que não são de controle dos pesquisadores nem dos(as) profissionais da educação.

As políticas não se apropriam dos conhecimentos produzidos porque, por um lado, a burocracia escolar é muito pouco profissionalizada e, por outro, aqueles que definem as políticas nem sempre se interessam por isso. Por mais que seja de conhecimento de todos, não há boa política que resista à passagem de “políticos” como Aluísio Mercadante ou Mendonça Filho no comando do Ministério da Educação!! Do mesmo modo, a apropriação da pesquisa na sala de aula depende, e muito, não apenas da qualificação dos(as) profissionais, mas também das condições de trabalho, da carreira e do salário. E estes, como sabemos, no Brasil, estão entre os piores do mundo!

A recusa do conhecimento produzido pelos Programas de Pós -graduação em Educação e seu consequente desconhecimento, inclusive por muitos “cientistas” que se voltam para o tema da educação, tem resultado não apenas em injustas críticas à área acadêmica da educação e aos(às)  professores(as) da educação básica. Um dos outros fenômenos é o não aproveitamento, nestas pesquisas, da massa crítica de conhecimentos já produzidos pela área de educação. Há pouco tempo, um desses grupos de acadêmicos, para embasar uma certa posição sobre a questão da alfabetização, chegou mesmo a dizer, por exemplo, que “os professores formados até a década de 70 sabiam alfabetizar seus alunos no 1º ano escolar”,esquecendo ou  desconhecendo,  as enormestaxas de evasão e repetência existentes à época, sobretudo entre as crianças mais pobres, justamente porque estas não eram alfabetizadas.

Outro fenômeno é a divulgação cada vez maior de pesquisas oriundas das fundações empresariais e de grupos de acadêmicos sobre a educação básica. Estas pesquisas, dizem seus produtores e divulgadores, enfrentam mais diretamente os “problemas da escola” e trazem evidências sobre os caminhos que as políticas e as práticas escolares devem trilhar. Essa seria a razão principal pela qual a imprensa e os governos têm priorizado divulgar e se apropriar de tais pesquisas em detrimento a uma massa muito maior de conhecimentos produzidos na pós-graduação em educação. Essas posições têm sido analisadas e duramente criticadas por pesquisadores em educação, os quais mostram que parte dessas pesquisas está atrelada aos interesses dos empresários da educação e ao desmonte a educação pública no Brasil.

Para surpresa de muitos, a produção e divulgação de pesquisas que visam tão somente embasar as políticas que atacam a escola pública foi reforçada nas últimas semanas pela entrada no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) no rol das instituições que produzem pesquisas educacionais “interesseiras” e que visam justificar as políticas do Governo Federal. A divulgação pela imprensa, com grande alarde, de uma pesquisa, que “demonstra” que a oferta obrigatória de Sociologia e Filosofia no Ensino Médio atrapalha a aprendizagem de matemática, abre um novo flanco para o debate e o combate (que hoje se trava nas disputas de sentidos) pela escola pública no espaço público e, certamente, no interior do Estado Brasileiro.

Amplamente criticada(por especialistas em políticas educacionais e pesquisadores de várias outras áreas das ciências humanas e sociais, bem como por ativistas e defensores da escola pública, a pesquisa realizada pelo IPEA bem mostra o quanto pesquisas podem ser, mais do que interessadas, interesseiras. E seus interesses, alguns deles inconfessáveis, não são de fortalecimento da escola pública e de qualidade, como querem fazer crer.

Sabemos que é fundamental a divulgação das boas pesquisas, sobre a educação e sobre todos os assuntos que interessam ao humano, não importa onde tenham sido produzidas. Ao mesmo tempo, é preciso fazer circular às metodologias e aos interesses políticos que subjazem a toda pesquisa realizada. Isso só faz aumentar a nossa responsabilidade em divulgar tais pesquisas e, para isso, há um esforço crescente no campo educacional. Isso também nos traz a responsabilidade, como pesquisadores(as), professores(as) e ativistas que defendem uma escola pública de qualidade, de buscar produzir conhecimentos que estejam antenados aos grandes problemas da escola básica e, desse modo, aos grandes dilemas vividos hoje na sociedade brasileira.

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Pesquisas Interesseiras e Políticas de Educação

A comunidade acadêmica e os(as) profissionais da educação básica são continuamente criticados por não contribuírem para que as políticas públicas e as práticas escolares não sejam baseadas em evidências científicas. A academia, porque supostamente pesquisa coisas de pouco interesse para os gestores e para os(as) docentes; os(as) professores(as), porque não têm formação suficiente para entender e aplicar a ciência na sala de aula.

Em vão têm sido os esforços para convencer os críticos, sobretudo aqueles pouco afeitos às lides da escola básica e/ou aliados ao empresariamento da educação, mas também a um expressivo grupo de acadêmicos bem intencionados que querem contribuir com a reforma da escola, que entre a pesquisa acadêmica em educação e sua apropriação na políticas e nas salas de aulas, há um conjunto de variáveis que não são de controle dos pesquisadores nem dos(as) profissionais da educação.

As políticas não se apropriam dos conhecimentos produzidos porque, por um lado, a burocracia escolar é muito pouco profissionalizada e, por outro, aqueles que definem as políticas nem sempre se interessam por isso. Por mais que seja de conhecimento de todos, não há boa política que resista à passagem de “políticos” como Aluísio Mercadante ou Mendonça Filho no comando do Ministério da Educação!! Do mesmo modo, a apropriação da pesquisa na sala de aula depende, e muito, não apenas da qualificação dos(as) profissionais, mas também das condições de trabalho, da carreira e do salário. E estes, como sabemos, no Brasil, estão entre os piores do mundo!

A recusa do conhecimento produzido pelos Programas de Pós -graduação em Educação e seu consequente desconhecimento, inclusive por muitos “cientistas” que se voltam para o tema da educação, tem resultado não apenas em injustas críticas à área acadêmica da educação e aos(às)  professores(as) da educação básica. Um dos outros fenômenos é o não aproveitamento, nestas pesquisas, da massa crítica de conhecimentos já produzidos pela área de educação. Há pouco tempo, um desses grupos de acadêmicos, para embasar uma certa posição sobre a questão da alfabetização, chegou mesmo a dizer, por exemplo, que “os professores formados até a década de 70 sabiam alfabetizar seus alunos no 1º ano escolar”,esquecendo ou  desconhecendo,  as enormestaxas de evasão e repetência existentes à época, sobretudo entre as crianças mais pobres, justamente porque estas não eram alfabetizadas.

Outro fenômeno é a divulgação cada vez maior de pesquisas oriundas das fundações empresariais e de grupos de acadêmicos sobre a educação básica. Estas pesquisas, dizem seus produtores e divulgadores, enfrentam mais diretamente os “problemas da escola” e trazem evidências sobre os caminhos que as políticas e as práticas escolares devem trilhar. Essa seria a razão principal pela qual a imprensa e os governos têm priorizado divulgar e se apropriar de tais pesquisas em detrimento a uma massa muito maior de conhecimentos produzidos na pós-graduação em educação. Essas posições têm sido analisadas e duramente criticadas por pesquisadores em educação, os quais mostram que parte dessas pesquisas está atrelada aos interesses dos empresários da educação e ao desmonte a educação pública no Brasil.

Para surpresa de muitos, a produção e divulgação de pesquisas que visam tão somente embasar as políticas que atacam a escola pública foi reforçada nas últimas semanas pela entrada no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) no rol das instituições que produzem pesquisas educacionais “interesseiras” e que visam justificar as políticas do Governo Federal. A divulgação pela imprensa, com grande alarde, de uma pesquisa, que “demonstra” que a oferta obrigatória de Sociologia e Filosofia no Ensino Médio atrapalha a aprendizagem de matemática, abre um novo flanco para o debate e o combate (que hoje se trava nas disputas de sentidos) pela escola pública no espaço público e, certamente, no interior do Estado Brasileiro.

Amplamente criticada(por especialistas em políticas educacionais e pesquisadores de várias outras áreas das ciências humanas e sociais, bem como por ativistas e defensores da escola pública, a pesquisa realizada pelo IPEA bem mostra o quanto pesquisas podem ser, mais do que interessadas, interesseiras. E seus interesses, alguns deles inconfessáveis, não são de fortalecimento da escola pública e de qualidade, como querem fazer crer.

Sabemos que é fundamental a divulgação das boas pesquisas, sobre a educação e sobre todos os assuntos que interessam ao humano, não importa onde tenham sido produzidas. Ao mesmo tempo, é preciso fazer circular às metodologias e aos interesses políticos que subjazem a toda pesquisa realizada. Isso só faz aumentar a nossa responsabilidade em divulgar tais pesquisas e, para isso, há um esforço crescente no campo educacional. Isso também nos traz a responsabilidade, como pesquisadores(as), professores(as) e ativistas que defendem uma escola pública de qualidade, de buscar produzir conhecimentos que estejam antenados aos grandes problemas da escola básica e, desse modo, aos grandes dilemas vividos hoje na sociedade brasileira.

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