Questões de Racismo estrutural: a urgência de mudanças na sociedade

Carmem Rodrigues Chaves

A Africanidade é um fenômeno multicultural. Como se sabe, 52 % da população brasileira se declara negra. Mesmo assim, atrocidades se repetem dia a dia. Racismo acontece quando alguém ofende uma pessoa negra, ou impede essa pessoa de entrar em um determinado ambiente. Os negros também recebem salários menores. Assim, é preciso compreender o racismo no cunho cultural, como uma anomalia, uma patologia social, atribuindo aqueles que são racistas à falta de caráter. O racismo, por vezes, é tratado como uma forma deturpada, mas trata-se de uma anormalidade absurda e inaceitável. Entretanto, o racismo precisa ser entendido em sua raiz. Esta raiz está na compreensão da normalização e padronização das relações sociais, que ocorre consciente e inconscientemente. O Racismo é um processo, imbuído nas questões de raça, de política, de economia. Um exemplo disso é o racismo estrutural enquanto modo social, é algo que precisa ser revertido, mas as mudanças ainda não se efetivaram no funcionamento normal da vida cotidiana.

Quando se fala de estrutura, tem-se três dimensões do racismo em perspectiva: economia, política, subjetividade. São pontos chamados de estruturais, nos quais o constrangimento dos indivíduos negros fazem parte direta e indireta da dinâmica em que vivem.  A questão mais fundamental de como o racismo estrutural é estruturante das relações sociais, em especial, da formação do sujeito negro. Mesmo que algumas pessoas não aceitem, de alguma maneira a sociedade naturaliza a violência contra a pessoa negra. A morte sistematicamente de jovens negros na periferia, não causa choque como deveria causar. Estima-se que de todos os jovens mortos nos últimos anos, 77% são negros. O fato do encarceramento em massa atingir majoritariamente pessoas negras, não causa espanto. O fato de pessoas negras frequentarem ambientes comuns e isso causar espanto, demonstra o quanto naturalizado é o racismo. Observar cargos sociais e ver que a maioria dos ocupantes são pessoas brancas. Numa sociedade em que pessoas brancas detêm poder de decisão, ignorando a população negra, isso é inconcebível. O racismo é consolidado a partir da constituição, materialização e consolidação dessas relações racistas.

É possível mudar isso? O Racismo estrutural tem sintomas dos brancos, de eles imporem e naturalizarem sua cor/raça como majoritária, desprezando pessoas negras. Ou seja, ser branco se torna regra, e ser negro se torna exceção. Os brancos têm diretos e os negros são considerados seres sem direto. E então são vivenciados privilégios estabelecidos ao branco. Enfim, nesse sentido, a luta contra o racismo como transformação social, construindo uma sociedade melhor, passa pela luta contra o racismo na sua dimensão estrutural, abrindo novos direitos para que contra o racismo seja extirpado e erradicado.

Se conseguirmos juntar todo o passado, consegue-se perceber como o racismo é um elemento fundamental da exploração econômica. É a escravidão do Brasil Colônia e a diáspora do povo africano que se refez na contemporaneidade. É uma luta para se desconstruir, a condição, o privilégio da cor branca, efetivando direitos e promovendo a igualdade social, sem discriminações. O racismo independentemente constitui as relações no seu padrão de normalidade: raça, gênero, intersexualidade, movimentos, corporeidade e ancestralidade. Existe a causa específica do negro e suas nuances, que deve ser trabalhada com a sociedade em várias questões e desdobramentos. Pensar como raça, gênero e classe se combinam gerando diferentes padrões de resistência à histórica opressão. Deve-se pensar numa maneira ampla que essas opressões que ainda estruturam a sociedade sejam erradicadas. Precisa de entendimento da sociedade, alienada e que determinados lugares reproduzem, ainda que discretamente, uma sociedade desigual. Quais as responsabilidades em mudar isso?

Esse debate precisa ser feito porque privilégios vem da base da pirâmide. Falta esse exercício de se pensar. E é a questão que precisa ser pensada, sujeitos que precisam pensar na condição, porque os negros lidam com o olhar e o sentimento numa condição de inferioridade. O que significa ser branco na sociedade? O branco acumula privilégios? Quais questões para se discutir o ponto de vista do negro? O que é politicamente correto? Tem conflito impossível de não acontecer? A partir do momento em que vozes começarem a fazer frente a isso, quem está no poder tentará silenciar para manter sua condição socioeconômica. É necessário que as pessoas percebam que nenhuma mudança ocorre sem conflito ao assumir essa posição, um grupo que historicamente está lutando pelo grupo, não quer perder seus direitos, porque quer uma posição confortável na sociedade.

Essas narrativas de mudanças passam por uma defensiva. Politicamente, a sociedade tenta engessar o correto, pois precisamos pensar numa nova postura. O fato de que, hoje, o olhar/pensar que os movimentos sociais estão trazendo faz a sociedade refletir sobre preconceito. A sociedade está se dando conta que os menos favorecidos são os marginalizados. Para repensar sua própria essência, os movimentos sociais querem o simples fato de haver o respeito entre os grupos, em que a sociedade precisa repensar esse processo de humanização. A luta continua!


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