Ser ou não ser feminista, eis a questão!

Evelyn Orlando

Por que muitas mulheres fazem questão de pontuar muitas de suas falas com a frase: olha, eu nem sou feminista, mas… ? Qual é o problema em se reconhecer e se afirmar como feminista? A fuga desse rótulo, como um estereótipo pejorativo, tem suas explicações e seus efeitos. 

Podemos começar pelas explicações, e isso implica um recuo na história ao final do século XIX, mas sobretudo início do XX, quando a principal pauta do que se convencionou chamar de “movimento feminista” incluía o direito das mulheres à educação e ao voto. 

É importante lembrar que, naquele momento, muitas mulheres abriram mão do rótulo para defender uma pauta que entendiam ser comum porque benéfica a todas as mulheres. Brigar pelo direito ao voto era condição para tornar-se sujeito em uma sociedade que não as reconhecia como tal. Para isso, no entanto, era necessário que fossem educadas. As duas pautas, portanto, estavam ligadas e precisavam de adesão. As mulheres ligadas a essa agenda entenderam que mais do que o rótulo era preciso somar forças, e apararam as arestas necessárias para que pudessem estar juntas na luta por seus interesses comuns. 

Deste modo, mulheres de perfis muito diferentes encamparam ações voltadas à educação das mulheres, criaram associações porque entenderam a força do coletivo e do estabelecimento de redes, fizeram alianças e se inseriram em lugares privilegiados no campo do poder, produziram discursos e os endereçaram à sociedade por meio de diferentes mídias, contribuindo para a construção de uma outra cultura, na qual fosse possível existir sendo mulher. 

Se afirmando ou não como feministas, as mulheres dessa geração fizeram muito nesse sentido. Mas os jogos políticos necessários para alguns avanços produziram efeitos para os quais temos prestado pouca atenção. No entanto, a compreensão dessas lutas e tensionamentos que rebatem nos modos como nos afirmamos e nos definimos é absolutamente necessária para que compreendamos nosso papel nesse cenário e atuemos conscientemente sobre nossa própria história.  

Desse jogo de luzes e sombras na afirmação das mulheres como sujeitos – sim, no fundo é disso que se trata o movimento feminista desde seus primeiros contornos – podemos identificar três grandes grupos, todos políticos, mas não necessariamente coesos: as subversivas, que faziam questão de confrontar a ordem estabelecida abertamente e, portanto, se identificavam como feministas; as moderadas, que se identificavam com a agenda, mas não queriam ser vistas como subversivas, fosse porque não se identificavam com esse estilo ou porque entendiam que isso lhes custava algumas alianças importantes com instituições como a Igreja, por exemplo; e as conservadoras que, em nome de uma suposta tradição, rechaçavam qualquer coisa que a ameaçasse. Desses três grupos, gostaria de refletir um pouco sobre os dois últimos e seus efeitos. 

Essa conversa, no entanto, extrapola os limites da coluna de hoje, por isso voltaremos a ela na semana que vem, afinal este também não é um tema que se esgota assim tão rápido.  


Imagem de destaque: Sumaia Villela / Agência Brasil

 

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