Comunitarismo e Educação para a Cidadania (II)

Antonio Carlos Will Ludwig

Alguns pensadores deram vida ao atual comunitarismo. Um deles é Charles Taylor. Uma das suas principais preocupações incidiu no campo da moral. Segundo seu ponto de vista, o tratamento dado à moral tem se mostrado defeituoso, porquanto seus estudiosos continuam mais interessados em definir o que é a obrigação e a conduta correta do que estabelecer a natureza do bem, do bom ser e da lealdade humana. Sua reflexão englobou também os temas pertinentes ao respeito à vida, ao bem-estar, à justiça, à dignidade das pessoas e ao que torna a vida satisfatória e significativa.

Outro pensador responsável pela sua construção é Michael Waizer que concede uma atenção especial ao tema da individualidade. Em sua abordagem sobre ela diz que as identidades humanas são construídas no desenrolar da história por meio de um diálogo de um com o outro, o que exige a manifestação de uma atitude de mútuo reconhecimento. Outro tema relacionado a este e por ele abordado diz respeito à reação de tolerância que é responsável pela coexistência pacífica entre agrupamentos humanos. Ele destaca a importância dos modelos de tolerância que estão sendo implantados em várias regiões do mundo em decorrência dos crescentes fluxos migratórios e do consequente avanço do multiculturalismo.

Alasdair Macintyre também faz parte do grupo que agrega os principais responsáveis pelo novo comunitarismo. Dentre as inquietações basilares que o afetam destaca-se a temática da racionalidade e da inteligibilidade das atitudes e compromissos morais e sociais exibidos pelas pessoas. Este assunto é relevante porque nos dias que correm tem se revelado bastante difícil por exemplo estabelecer um entendimento a respeito da natureza da justiça pois existem pessoas e grupos que adotam convicções rivais e conflitantes não embasadas em justificações racionais. Ele lembra que o Iluminismo tentou mas não foi capaz de executar a contento esta tarefa porque defendeu que tais justificações deveriam ancorar-se em princípios racionais independentes de todas as particularidades sociais e culturais de lugares e épocas específicas.

Como pode ser notado, a concepção comunitarista se revela como um fundamento totalmente consoante ao exercício da cidadania ativa. Cabe observar que a formação para este exercício apoiado nesta concepção indica que os alunos devem adquirir determinados conhecimentos relacionados à democracia, cidadania, governo, Estado, justiça, igualdade, etc. Devem também desenvolver algumas habilidades tais como as de comunicação, de redação de documentos, de lidar com divergências e adquirir certas atitudes dentre  as  quais  podem  ser  mencionadas  as de iniciativa, cooperação e solidariedade. Existem alguns expedientes disponíveis e sobejamente já postos em prática que se mostram bem adequados à viabilização desse aprendizado. 

Um deles é o trabalho voluntário realizável em hospitais, asilos, escolas, prisões e outros setores da comunidade. É sabido por muitos que esta atividade vem sendo praticada por milhões de pessoas nos Estados Unidos da América do Norte, na Europa, em nosso país e em muitos recantos do mundo. Outro é o service learning ou aprendizado de serviço que é bastante empregado pelos estadunidenses e europeus.

Podemos entender o service learning como uma proposta complexa que envolve as concepções de necessidades sociais, trabalho na comunidade, aprendizagem curricular, participação, cooperação, reflexão e parceria. Ele sempre se inicia com um exercício de exame da realidade para determinar o tipo de intervenção mais apropriado. Do ponto de vista pedagógico o service learning é uma metodologia centrada no aluno a qual requer a sua intensa participação. O mesmo se mostra como uma atividade caracteristicamente grupal cuja cooperação normalmente envolve as pessoas que estão sendo ajudadas bem como requer o estabelecimento de parcerias entre instituições.

Acrescente-se a estas duas Campanhas Cívicas estimuladoras do respeito e da valorização da coisa pública. Elas visam a aquisição de máquinas e instrumentos para as prefeituras, a reparação e a conservação das mesmas e a construção e a preservação de logradouros públicos. As Campanhas de Sensibilização também são muito relevantes e dizem respeito ao ato de intervir no campo das emoções e da afetividade das pessoas, de levá-las a perceberem as coisas de modo diferente, de sentir o que antes não sentiam, de internalizar determinadas informações e refletir sobre elas. Estas campanhas se voltam para o combate ao fumo, ao alcoolismo, ao uso de drogas e ao boicote a produtos inadequados postos à venda no mercado. As Campanhas Filantrópicas são aquelas voltadas para a busca de donativos tais como roupas, comida, dinheiro, materiais diversos, aparelhos e instrumentos para instituições da comunidade, organizações não governamentais, grupos de pessoas ou um determinado indivíduo.

Como pode ser notado, o comunitarismo enfatiza o trabalho grupal cooperativo a favor de uma coletividade. Embora as ações sejam voltadas principalmente para as localidades onde as pessoas convivem, o acelerado avanço da globalização, que vem ocorrendo desde há muito tempo, possibilitam às mesmas ultrapassar o ambiente local e avançar para os âmbitos regional, nacional e internacional. 


Imagem de destaque: Freepik

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