Título de eleitor: o diálogo

Dalvit Greiner de Paula

Nos números anteriores falamos daquilo que, em geral, as pessoas consideram fontes de poder. E, de fato, são. Mas, apenas quando você obedece. E você não pode obedecer senão condicionado pela sua liberdade. Vimos que a promessa não mais deveria fazer parte da política devendo ser substituída pela proposta: justa, exequível, equilibrada e real. Vimos que onde há dinheiro e necessidade, há corrupção e é muito mais fácil comprar um voto por qualquer ninharia. Com a violência, nosso medo de perder a vida nos coloca numa situação delicada. E o carisma nos leva a obedecer, cegamente, aquela espécie de herói que vai resolver todos os problemas da humanidade. Perceba que, em todos eles, há uma separação: quem é mais, quem é menos; quem é superior, quem é inferior.

A principal ferramenta da Democracia é o diálogo, a argumentação. E perceba que aqui, na Democracia, o que interessa é a igualdade dos cidadãos, pois não existe diálogo entre desiguais. O seu voto é único, ou seja, tem o mesmo valor que o voto do morador de rua e que o voto do presidente da República. Todos são um sem ser únicos. A Democracia, ao partir desse princípio de igualdade, exige de nós apenas uma coisa: disposição para dialogar, para ouvir o outro e buscar uma solução, juntos. Democracia quer dizer responsabilidade para consigo e com o outro. Não existe democracia sem responsabilidade.

A igualdade é um sonho e um país totalmente democrático é uma utopia. Mas, como ouso dizer aos que acreditam, o impossível eu deixo para Deus. Rousseau já dizia que a Democracia é uma forma de governo muito boa para os deuses. Mas, eu acredito na Democracia como a melhor forma de governo para os homens. Justamente porque a Democracia transforma aquele sonho de igualdade em realidade. Numa Democracia as pessoas também têm problemas. Um lugar democrático não é um paraíso em que todos os conflitos estão resolvidos. Um lugar democrático é aquele lugar em que o conflito faz com que todos cresçam, pois ele educa as pessoas nas dificuldades coletivas. Mas nesse lugar democrático não cabem situações de desigualdade representadas pela promessa, pelo dinheiro, pela violência e nem pelo carisma. Todos são convidados ao diálogo.

Ah, bom! Mas existem pessoas que têm o recurso da oratória. Claro que sim. Alguns são mais talentosos ao falar, mas veja bem: todas aquelas desigualdades colocadas acima vem acompanhada da fala, não é mesmo? Mas, numa Democracia, o que vale é o argumento e nenhum argumento justo, bom e verdadeiro se materializa numa relação entre as pessoas. O argumento é a arma das pessoas livres que não sentem medo, nem sentem necessidades. Então, somos poucos, diria você! E eu digo o contrário: somos muitos. Nas nossas relações nós nos fazemos muitos.

A Democracia começa por igualar as pessoas pelo voto: a regra de uma cabeça um voto é o verdadeiro detonador da Revolução Francesa, em 1789. Na medida em que todos os deputados deixaram de votar com o grupo – que não eram partidos – para votar conforme suas consciências em suas diferenças se fizeram iguais. Isso foi revolucionário: nem mesmo a burguesia suportou e assim que pôde ficou com o argumento democrático, mas não a prática. O voto hoje foi muito deturpado, mas continua valendo a regra. E é isso que precisamos fazer valer: a regra de uma cabeça um voto. Mas, um voto livre e consciente.

E porque somos iguais nesse único momento de nossas vidas precisamos valorizar ao máximo. Nesse momento, o mais importante é o diálogo para que possamos sonhar com uma igualdade material. Isso, sim, é uma utopia, mas possível. Nunca seremos iguais, mas materialmente podemos todos nós sermos atendidos em nossas necessidades e, assim, não precisar acreditar em políticos que não são capazes de fazer política. O momento de dialogar é agora, na medida em que este é o momento de construir propostas. Propostas que você vai avaliar com um único critério: a inclusão.

Quanto mais inclusiva for a proposta, mais democrática ela é. Quanto mais participativa ela se apresentar, mais democrática ela é. Democracia é uma coisa demorada. O voto é pido, porém, uma Democracia é uma atitude permanente de debate, de diálogo. Uma busca permanente do consenso. Soluções que não passam pelo diálogo, que não passam por um projeto amplamente negociado com o máximo de pessoas, não são soluções. São atitudes mágicas e autoritárias que só beneficiam poucos.

Na hora de escolher o seu vereador e o seu prefeito pense se ele de fato é democrático: ele faz propostas que incluem o máximo, senão todas as pessoas da cidade? Se não, esqueça-o. Ele não faz política. Ele faz negócio.


Ilustração: Freepik

 

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