Estamos preparados para a Educação 4.0?

Luciano Andrade Ribeiro

Precisamos da linha histórica das revoluções industriais para entender o termo Educação 4.0. Afinal, esse número 4 aí indica, apenas, a quarta mudança histórica no jeito de pensar, produzir e entregar algum produto, manufaturado ou não. E nós, da Educação, caímos na vala comum dos operários do conhecimento, gerando um produto nem sempre valorizado, mas imprescindível para a evolução humana: a aprendizagem.

Seria romântico eu me posicionar contrário a essa leitura mercadológica da Educação, mas serei voto vencido por uma sociedade da informação e do conhecimento que, como nunca antes na história da humanidade, sabe estabelecer a trama cognitiva como moeda de barganha da conquista de um pretenso sucesso mercadológico.

Por isso, é bom nos acostumarmos com a Educação 4.0 e, se alguém perguntar se está nessa fase do jogo, afirme que sim sob o risco de ser excluído da grande bolha considerada evoluída no mundo.

Internet das coisas, automação, impressão 3D e inteligência artificial são os termos mais comuns nessa interface que, de uma hora pra outra, sobretudo nos últimos 20 minutos, mudam toda a concepção de como se constrói conhecimento. Se isso vale para todo o resto, imagine para a Educação, lugar sagrado da experiência e do saber, responsável por garantir uma formação humana que estabeleça o sujeito como um leitor capaz de interpretar o mundo em que vive.

A cultura contemporânea, responsável pela ética desta época, além de estabelecer a informação como moeda, dita a individualidade de conquista dessa preciosidade. Assim, quem não estiver preparado para o “aprender fazendo” ou a “autoaprendizagem” está fadado a ocupar o último lugar da fila dos descolados cognitivos. Diante do infinito mar de oportunidades informativas que o mundo digital oferece, não conseguir isso é sinal de fracasso. Daí surge a famosa e já diagnosticada patologia da ansiedade da informação. Nunca estarei informado o suficiente e, por isso, preciso sempre comprar mais.

Nós, educadores, precisamos refletir sobre o papel social da escola diante desse contexto e, sobretudo, questionar não mais quais recursos temos, pois eles são infinitos e inéditos diariamente, mas como usufruir deles para garantir uma experimentação cognitiva com base na interação, ludicidade e coletividade respaldada em sólidas competências socioemocionais criativas.

De forma linear e alinhada com a evolução histórica, da mesma forma que a Educação 4.0 está espelhada nessa quarta revolução industrial, devido à alta tecnologia envolvida, a dinâmica pedagógica precisa passar por atualizações. Por isso, 2020, apesar da pandemia que nos assola e paralisa, é significativo por implementar o que havia sido pensado lá atrás, na Lei de Diretrizes e Bases (1996), que é a nossa Base Nacional do Currículo Comum (BNCC).

De forma sensível e atenta às mudanças naturais do sujeito da aprendizagem, o documento estabelece para toda a Educação Básica, elementos reflexivos para uma melhor trajetória de coleta de informação pelo aluno rumo a uma construção cognitiva mais significativa e, por isso mesmo, mais transformadora.

Independente do acesso às mais fantásticas novidades do mundo cibernético, o Brasil ainda precisa se preocupar com o letramento digital e, mais que isso, garantir reais e efetivas possibilidades de interpretação de mundo para o discente. Aspectos colaborativos na cognição, pensamento científico e criativo, repertório cultural, comunicação, cultura digital, trabalho e projeto de vida, argumentação, autoconhecimento e autocuidado, empatia e cooperação, responsabilidade e cidadania são os pilares das competências esperadas a serem construídas em sala de aula.

Preocupar-se com estes pilares nos coloca mais dentro do contexto da Educação 4.0 do que o resto. Afinal, a digestão cultural do que esse termo engloba, se pensarmos o significado e particulares de mundo que ele carrega, leva tempo. Mas ele já indica viáveis caminhos para que pensemos em aulas cada vez mais sintonizadas com a realidade do estudante e que o protagonize nesse processo metacognitivo. Com a aprendizagem por competências, espera-se aplicar melhor o conhecimento, de um jeito mais prático, para que seus resultados sejam efetivos de forma pragmática ou reflexiva.

Dessa conjuntura, podemos ter a esperança de maior interesse do sujeito em formação e de maior identificação com essa casa do saber que é a escola. A trilha, cheia de obstáculos e com garantia de quedas, passa, necessariamente, pela inovação, pela invenção e pelo pensamento crítico. Só assim para que a Educação seja vista como responsável por solucionar o seu próprio problema existencial.


Imagem de destaque: Ivan Radic / Flickr

 

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