Trocando o “pneu” do “carro” em movimento

Yure Gonçalves da Silva*

A Educação Básica é a soma de etapas fundamentais (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio) no processo de escolarização dos indivíduos e tem relevância substancial para a formação humana. Contudo, desde a “independência” do nosso país, é possível perceber o diminuto interesse do Estado em promover a escolarização de toda população brasileira. Se os interesses lá atrás eram outros,sobretudo econômicos, a pergunta que se faz hoje é: − E a atual conjuntura, segue o mesmo fluxo?

Em tempos de pandemia, o que se torna ainda mais evidente é a necessidade de implementação de políticas públicas que atendam os anseios da população brasileira, equalizando as disparidades encontradas nos diversos extratos populacionais. As problemáticas vivenciadas no chão da escola não surgem no contexto da pandemia, entretanto, o que já não estava tão bem, se agrava nesse novo quadro que demanda novas e urgentes estratégias políticas e educacionais dos diversos atores sociais que compõe o diverso campo educacional.

Destarte, a pandemia escancara uma realidade dura e cruel (analfabetismo, desvalorização da docência, currículo descontextualizado, entre outros) vivenciada nas várias instituições de ensino do nosso país e que perpassam a infraestrutura das escolas e desemborcam no planejamento, implementação, avaliação e reestruturação dos modelos educacionais. Os entraves presentes nesses processos não são de simples solução e exigem deslocamentos de análises, troca de lentes/perspectivas, para além de um empenho maciço, somado ao comprometimento coletivo de todos/as/es que fazem o cenário educacional brasileiro, no sentido de somarem esforços que apontem e construam possíveis caminhos para o gerenciamento e afastamento da atual crise educacional brasileira.

No Brasil, o que já era urgente tornou-se improrrogável. Sem pedir licença, a calamidade pública se instala num cenário que já era adverso, atingindo a todas as pessoas sem qualquer distinção, em diferentes proporções e intensidades, acentuando ainda mais as desigualdades sociais. No campo da educação, as duras circunstâncias reclamam respostas “imediatas”, para dar continuidade do processo de escolarização dos brasileiros; mas a que custas esse pleito tem que se dar? Esta é uma pergunta que não quer calar.

Há oito meses se encerraram as aulas na modalidade presencial e o clima de incertezas é a tônica do momento. Quando as aulas presenciais retornarão? Como construir aulas remotas em todas as etapas da educação básica? Na educação infantil, é possível, viável, necessário? Todas as famílias têm acesso as tecnologias de informação e comunicação? Como se dará a construção do conhecimento na saulas online? E o processo avaliativo, como será construído? A partir de que critérios? Qual é o tempo ideal para uma aula, nesse novo formato? Qual a metodologia mais eficiente para o momento? Como ser didático em aulas online? Formação continuada? Formação Complementar? Essas são algumas (poucas) perguntas que ainda estão sendo feitas e precisam ser respondidas para (re)elaboração de uma prática educativa profícua, nessa nova conjuntura, se é que é possível.

Estamos falando de uma outra realidade que nos assaltou, diferente de tudo que já tínhamos vivenciado até então. É exatamente como trocar o pneu de um carro em movimento (descendo uma ladeira desgovernado, talvez!). Um coisa, entretanto, é certa: pensar a educação do país é uma missão árdua e perene, que envolve escuta e participação ativa dos/as/es envolvidos/as/es no processo educativo e deve considerar questões socioeconômicas, políticas, ideológicas e filosóficas, para além das tecnoburocráticas. É certo também que os sujeitos da educação do nosso país têm realizado um esforço prodigioso, imprimindo o mínimo de qualidade factível na prática pedagógica. Meu reconhecimento e solidariedade as lutas dos/as/es profissionais da educação.

* Estudante do curso de Pedagogia do Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco, membro do Grupo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinar em Formação Humana, Representações e Identidades – GEPIFHRI /UFPE/CNPq e do Laboratório de Estudos das Relações Étnico-Raciais – LABERER/UFPE/CNPq.


Imagem de destaque: Nessma Elaassar

 

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