“Todo branco é racista?”: o lugar dos aliados brancos na luta antirracista

Alexandra Lima da Silva

Certa vez, no auge de uma discussão sobre raça e racismo no Brasil, um homem branco, a fim de encerrar o assunto, disse: “todo branco é racista”. A intenção do referido sujeito era expor a branquitude. Como mulher negra e historiadora, tendo a discordar da fala dele, ainda que bem-intencionada. 

Não, nem toda pessoa branca é racista. Prefiro acompanhar Sueli Carneiro quando ela diz: “todas as pessoas brancas são beneficiárias do racismo”, e isso está para muito além das vontades delas. O nome disso é privilégio branco. O que a pessoa branca decide fazer com esse privilégio é sim, responsabilidade dela. É uma questão ética. Posicionar-se e apoiar a luta antirracista é um compromisso que deve ser assumido pelas pessoas brancas que se pretendem aliadas. Tal posicionamento em hipótese alguma faz das pessoas brancas as salvadoras ou redentoras. O posicionamento na luta antirracista também não faz das pessoas negras, devedoras das pessoas brancas. Isso precisa ser dito à exaustão. Assim como ter amigos negros não isenta uma pessoa de práticas e atitudes racistas. 

As relações étnico-raciais são um terreno sensível e dramático no Brasil, país que se ergueu a partir do tráfico de seres humanos e que se nutriu do trabalho escravizado por mais de 3 séculos. Hoje, em torno de 57% da população brasileira se autodeclara negra (pessoas pretas e pardas), contudo, estamos muito longe de superarmos o racismo. Há quem diga que a promoção de uma educação antirracista é um dos caminhos para o enfrentamento do racismo no Brasil. Neste sentido, educadores e educadoras negros e negras, são convocadas (os) em datas específicas, para a promoção de palestras sobre a temática. Instituições majoritariamente brancas acreditam que com tais ações isoladas e pontuais, combatem o racismo. E com isso, se isentam completamente da responsabilidade na luta antirracista. 

Penso que a responsabilidade da educação antirracista não deveria recair sobre os ombros das pessoas negras. As pessoas brancas deveriam ler mais sobre privilégio branco, sobre dívida e reparação histórica.  O lugar das pessoas brancas na luta antirracista está muito longe de ser o lugar da autocelebração de salvadores e salvadoras.  Reconhecer e abandonar esse lugar, que deveria ser motivo de vergonha, é um passo importante na direção de práticas e atitudes genuinamente antirracistas. O tempo do culto à Redentora já passou.

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