Editorial do número 326 do Jornal Pensar a Educação em Pauta
As faces perversas da pandemia no Brasil, infelizmente, se revelam não apenas nas ações de governos, que resultaram em mais de meio milhão de mortes, mas também no aumento brutal da pobreza e das desigualdades. No Brasil, hoje, chora-se não apenas a perda dos entes queridos, mas também a falta de comida no prato, de medicamentos e de lugar onde morar.
Ainda que nossa tarefa fundamental, do ponto de vista político e societário, seja dar um basta nas contínuas políticas de morte estabelecidas pelo governo federal e por seus aliados nos demais estados e municípios, temos que nos preocupar também, e com urgência, em criar alternativas para diminuir o impacto de tudo isso sobre a população mais pobre. Felizmente, não são poucos os grupos que trabalham para isso nos diversos territórios do campo e da cidade.
Desde a área da educação, temos defendido, sobretudo no decorrer da pandemia, que uma estratégia fundamental pode ser a busca de uma efetiva integração, nos territórios, dos equipamentos da educação, da cultura, da assistência e da saúde. Juntos, tais equipamentos são os mais capilares no território nacional e atingem o conjunto da população.
Em nosso passado recente, não foram poucas as tentativas de integração das políticas e equipamentos públicos nos territórios, inclusive com a participação ativa dos coletivos locais. No entanto, ainda que tenham tido resultados satisfatórios, tais iniciativas não foram amplamente disseminadas e, nos últimos anos, têm sido combatidas inclusive pelo governo federal e seus aliados.
Uma das formas mais perversas de combate à integração das políticas e equipamentos públicos nos territórios é a deterioração das condições de funcionamento das instituições e dos salários e das carreiras públicas; outra forma, não menos perversa, é a privatização de tais equipamentos sob o pretexto de aumentar a sua eficiência.
A única forma de aumentar, de fato, a eficiência das políticas e dos equipamentos públicos nos territórios e mobilizá-los para o combate às desigualdades, à pobreza e a todas as formas de violência e opressão é torná-los cada vez mais públicos, integrados e com participação dos coletivos que neles se organizam. Fortalecer e/ou iniciar ações nesta direção é um dos nossos grandes desafios em tempos de pandemia e de governos perversos e de grupos empresariais ávidos por lucrar com a destruição dos equipamentos públicos.