Vivemos em tempos sombrios

Já há algum tempo vivemos a sensação de que, num futuro próximo e a depender dos rumos tomados pela crise política, poderíamos viver TEMPOS SOMBRIOS. No entanto….

Quando o Secretário de Educação do mais importante estado da Federação se permite dizer que “no dia em que a população perceber que ela não precisa ser órfã e que a receita para um Brasil melhor está no resgate dos valores esgarçados: no reforço da família, da escola, da Igreja e do convívio fraterno. Não no viés facilitado de acreditar que a orfandade será corrigida por um Estado que está capenga e perplexo, pois já não sabe como honrar suas ambiciosas promessas de tornar todos ricos e felizes”, na página oficial do Estado e é aplaudido, e não repreendido, VIVEMOS EM TEMPOS SOMBRIOS.

Quando uma pessoa que ocupa um dos mais importantes cargos da mais importante igreja do país, se referindo explicitamente a um ex-Presidente da República,  admoesta os fieis dizendo  “peça, meu irmão e minha irmã, a graça de pisar a cabeça da serpente, de todas as víboras que insistem e persistem em nossa vida, daqueles que se autodenominam jararacas… Pisar a cabeça da serpente: vencer o mal pelo bem”, e é aplaudido, e não repreendido, VIVEMOS EM TEMPOS SOMBRIOS.

Quando os manifestantes contra a Presidente da República e contra o um partido que tem por símbolo as cores vermelhas, afirmam que “vermelho é mal” e, com isso, justificam uma avalanche de agressões a pessoas simplesmente porque vestem uma roupa ou portam algum adereço com a cor vermelha, e são aplaudidos, e não repreendidos, VIVEMOS EM TEMPOS SOMBRIOS.

Quando a Polícia Militar, responsável pela manutenção da ordem pública e pela coibição de atos de violência, perpetra violência seletiva contra um tipo de manifestante e permanece inerte quando são agredidos cidadãos que ela considera como se enquadrando no estereótipo de petista, VIVEMOS EM TEMPOS SOMBRIOS.

Quando as pessoas adquirem a coragem de, numa das mais importantes universidades do país, escreverem reiteradamente que “Aqui não é senzala! Tirem os pretos da Unicamp já!”, VIVEMOS EM TEMPOS SOMBRIOS.

Quando uma médica recusa o atendimento a uma criança que é sua paciente sob a justificativa de que sua mãe é de determinado partido e defende certas causas com as quais ela não concorda, e não é severamente repreendida mas justificada em sua ação por membros da corporação médica, VIVEMOS EM TEMPOS SOMBRIOS.

Quando o responsável por conduzir o processo de impedimento da Presidente da República, contra quem ainda não se comprovou nenhum ato delituoso, tem contra ele provas contundentes de corrupção e sonegação fiscal, e mesmo assim não é afastado de suas funções, VIVEMOS EM TEMPOS SOMBRIOS.

Quando o titular de um dos poderes contra quem pesam provas contundentes de corrupção e sonegação fiscal, faz públicas manobras de impedimento do avanço de seu julgamento pelos pares e explícitas ameaças de retaliação a seus adversários, e nem por isso perde o apoio de boa parte de seus pares e da opinião pública, VIVEMOS EM TEMPOS SOMBRIOS.

Quando um membro do judiciário, em conluio com uma empresa de comunicação, sob pretexto de atender o bem comum, torna públicas as conversas telefônicas da Presidência da República e de outros cidadãos em gozo de seus direitos obtidas de maneira flagrantemente ilegais, e é, por isso, ovacionado pela população, celebrado pela imprensa e justificado por seus pares, VIVEMOS EM TEMPOS SOMBRIOS.

Quando a Polícia e o Ministério Público federais corrompem o processo de investigação, antecipam a condenação dos acusados, utilizam de artimanhas jurídicas e políticas para a exposição púbica e seletiva dos investigados e repassa informações sigilosas para a imprensa a pretexto de, assim,  combater a corrupção, VIVEMOS EM TEMPOS SOMBRIOS.

Quando parte significativa da imprensa, a pretexto de combater a corrupção e retirar do poder um partido que ela não apoia, utiliza de meios corruptos para a obtenção de informações, expõe seletivamente pessoas e partidos e compactua claramente com aqueles que defendem a quebra da legalidade e do jogo democrático, VIVEMOS EM TEMPOS SOMBRIOS.

Quando o combate à corrupção é seletiva e politicamente conduzido e é utilizado como justificativa para a quebra das regras do Estado de Direito e para o investimento não apenas contra as ideias, mas também contra os corpos dos adversários, VIVEMOS EM TEMPOS SOMBRIOS.

Quando um dos membros da Suprema Corte antecipa publicamente o juízo sobre determinado acusado e sobre determinado processo e, em seguida, não se declara impedido de conduzir o processo, VIVEMOS EM TEMPOS SOMBRIOS.

Quando, mais uma vez, o combate seletivo da corrupção é mobilizado por parte significativa dos manifestantes que ocupam o espaço público para justificar o fim dos partidos, a agressão  à democracia e a defesa da intervenção militar,VIVEMOS EM TEMPOS SOMBRIOS.

Quando as performances e as linguagens claramente fascistas estabelecidas no espaço público são ostensivamente aplaudidas por muitos  e consideradas por outros como atos histéricos de uma pessoa descontrolada, VIVEMOS EM TEMPOS SOMBRIOS.

Quando os partidos liberais e sociais democratas, e seus respectivos políticos e intelectuais, diante da flagrante agressão ao Estado de Direito e das ameaças à democracia, se calam na expectativa de que possam herdar o poder ou da destruição de um dos partidos adversários, VIVEMOS EM TEMPOS SOMBRIOS.

Quando os membros de um partido no qual parte significativa  da população depositou as esperanças políticas mobilizaram as mais antigas, perversas  e corruptas formas de fazer política e mantiveram intacto o sistema político que impede o avanço democrático do país, VIVEMOS EM TEMPOS SOMBRIOS.

O futuro chegou e veio de mãos dadas com as formas mais arcaicas de agressão às mais elementares conquistas democráticas cultivadas ao longo de nossa história. Diante disso, RESISTIR É PRECISO!

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