Vida de pesquisador(a) docente hoje, no Brasil, é vida de luta. É vida que se faz entre a agonia e a luta.

Célia Rocha

É possível ser docente sem fazer pesquisa científica? O que é a pesquisa científica? É possível dissociar ensino e pesquisa da docência cotidiana e do processo continuado de formação profissional? Como ser pesquisador com um número elevado de aulas semanais? Como ser pesquisador(a) e docente lecionando em etapas e modalidades diversas de formação?

Como ser pesquisador(a) e docente diante da agonia pela qual passa a Ciência no Brasil? Sim, a Ciência agoniza e os(as) docentes e pesquisadores(as) lutam para que ela sobreviva à barbárie dos tempos atuais.

A única certeza que temos é da luta desses(as) profissionais em seus afazeres diários para tirar a ciência e a pesquisa do processo de agonia pelo qual vêm passando. É preciso que a ciência não morra e esses(as) profissionais docentes, há tempos, lutam para mantê-la viva. Ser pesquisador(a) hoje, no Brasil, é estar na berlinda da precarização, é ver a pesquisa científica agonizar e lutar para que ela não morra.

Não bastasse isso, é preciso afirmar e reafirmar o tempo inteiro que as Ciências Humanas e Sociais também são Ciências. É preciso reafirmar o tempo inteiro que a pesquisa básica é tão importante quanto a pesquisa aplicada. É preciso afirmar o tempo inteiro que a ciência é imprescindível à docência, assim como a docência é imprescindível à ciência. É preciso reafirmar o tempo inteiro que fazer Ciência não é só pensar em papers, mas é também pensar, repensar e atuar em diferentes âmbitos e ações que mantém viva a pesquisa científica. É preciso reafirmar o tempo inteiro que a pesquisa científica não se faz apenas com a razão, mas que a criatividade e a imaginação são fundamentais na construção e aprimoramento do conhecimento científico. É preciso reafirmar o tempo inteiro uma visão não essencialista da ciência e que o conhecimento científico é uma construção histórica-social-cultural. É preciso reafirmar o tempo inteiro à humanidade o valor da ciência e sua importância.

O problema é que nessa vida de pesquisador(a) docente vivemos na corda bamba constante: vivemos o risco de um intelectualismo puro, subsumido pela burocratização e racionalização do nosso trabalho, que medido e quantificado, passa também a ser a nossa própria medida, passa a ser a exata medida simplificada do nosso próprio trabalho, da nossa capacidade de pensar e criar.

Esvaziado de sua complexidade, altamente burocratizado e racionalizado, o trabalho do pesquisador(a) docente se precariza. Essa é a vida de muitos pesquisadores(as) docentes no Brasil de hoje. Apesar disso, pesquisadores(as) se levantam e erguem o conhecimento científico como uma das características da profissionalização docente. Assim como também, não desconsideram os papéis fundamentais da emoção, da sensibilidade, da ética e da criatividade como elementos fundamentais tanto da ciência quanto da docência.

Se a agonia pode ser vista como a luta contra a morte, podemos dizer que esse movimento pode ser comparado à luta empreendida por esses pesquisadores e pesquisadoras que lutam contra o negacionismo, contra o obscurantismo, contra a precarização do trabalho docente e da ciência no Brasil.

A vida de pesquisador(a) no Brasil de hoje, é repleta de lutas contra o corte de verbas, contra a precarização do trabalho do(a) pesquisador(a), contra o descrédito da Ciência, contra a burocratização e a racionalização extremadas do trabalho na academia, contra a descaracterização e desvalorização do(a) cientista e do(a) docente pesquisador(a), contra todos(as) que tentam desacreditar o trabalho de pessoas que tentam melhorar e salvar vidas. É nessa luta incessante que tais profissionais buscam descobrir como construir espaços mais dignos, democráticos e em melhores condições humanas, sociais e ambientais para a convivência.

Vida de pesquisador(a) docente hoje, no Brasil, é vida de luta. É vida que se faz entre a agonia e a luta. Nesse meio há o autoritarismo, há a desmotivação para o trabalho porque esse é descaracterizado pela ameaça do teletrabalho e do ponto eletrônico, pelo entendimento de que pesquisa e Educação são gastos e não investimentos, pelas condições precarizadas de trabalho, haja vista os inúmeros ataques aos pesquisadores(as) e ataques à Educação pública, gratuita e laica, às universidades e instituições públicas de ensino, lócus fundamental do desenvolvimento científico e Tecnológico.

Vida de pesquisador docente, hoje, no Brasil, é luta… a favor da vida e contra a morte da Ciência.

Texto publicado originalmente em:  http://inteligcolmg.com.br/entre-a-agonia-e-a-luta-vida-de-pesquisadora-no-brasil/


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