Universidade, um projeto de emancipação intelectual para Minas Gerais – João Victor Oliveira e Nelma Fonseca

Universidade, um projeto de emancipação intelectual para Minas Gerais

João Victor da Fonseca Oliveira

Nelma Marçal Lacerda Fonseca

Comemorando 88 anos da UFMG trazemos ao leitor uma das obras que consideramos importante no levantamento bibliográfico da pesquisa em andamento “Formação de Professores para a Educação Básica na UFMG: história, memória e modelos atuais”, coordenada pelo Prof. Dr. Luciano Mendes de Faria Filho, diretor do Centro de Pesquisa, Documentação e Memória da Faculdade de Educação (CPDOC/FaE). O livro “Universidade Federal de Minas Gerais – Projeto Intelectual e Político” de Fernando Correia Dias[1] (1997) vem oferecendo subsídios significativos para a compreensão do amplo processo político, social e cultural vivido em Minas Gerais na criação da Universidade de Minas Gerais – UMG.

Corria o ano de 1927. Em Belo Horizonte, intenso movimento entre políticos e intelectuais indicava que o projeto de criação da Universidade de Minas Gerais (UMG) avançava. Pedro Nava, um dos escritores modernistas mais ligados a esse projeto, jovem doutorando em medicina, relata sua participação num momento solene do processo, fato noticiado no Diário Oficial do governo mineiro, o jornal “Minas Gerais”, em 19 de agosto de 1927 (DIAS, 1997 p. 305).

Logo que a imprensa divulgou o texto da Mensagem Presidencial ao Senado e Câmara do Estado, o entusiasmo foi enorme e em reunião coletiva, os alunos das Faculdades de Direito, Engenharia, Medicina, Odontologia e Farmácia resolveram fazer uma grande manifestação ao pai da Universidade de Minas Gerais. Fui eleito intérprete das quatro casas de ensino e a 18 de agosto os estudantes foram recebidos no Palácio da Liberdade e no seu Salão Nobre saudei Antônio Carlos [Ribeiro de Andrada, Presidente do Estado de Minas Gerais]… (DIAS, p. 305/306).

A história da fundação da UFMG é contada por Dias (1997) no primeiro livro publicado de acordo com os objetivos do “Projeto UFMG: Memória e História”, naquele momento, desenvolvido no Departamento de História da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FAFICH). Resultado de extensa pesquisa, a obra retrata a ambiência intelectual e política do período e marcou dupla comemoração – os 70 anos da UFMG e o centenário de Belo Horizonte, constituindo-se hoje em fonte importante para conhecimento e análise das circunstâncias históricas, dos fatos e personalidades envolvidas na trajetória da Universidade.

A pesquisa empreendida pelo autor buscou a gênese da UMG, os antecedentes que forjaram seu projeto de criação, as concepções de universidade expressas pelos fundadores e, principalmente, o significado político e pedagógico com que se apresentou para Minas e o país.

O universo dos estudos do historiador é o estado de Minas Gerais em suas raízes, seu passado – o barroco, a Inconfidência Mineira, as características da cultura regional, a literatura e a educação. Seus estudos enfocam as quatro primeiras décadas do período republicano, notadamente os anos de 1920, no entanto, ao pesquisar as origens da UFMG, o autor remonta à Inconfidência Mineira, numa análise pioneira, apontando releituras e revisões desse movimento e sua ressonância nos ideais de progresso e liberdade do povo mineiro.

Para o autor, à fundação e afirmação de Belo Horizonte como cidade moderna, sede administrativa do estado, um evento teve forte influência no desenrolar da história – o Movimento Modernista visto por Dias como ponto de inflexão fundamental na vida da capital, tanto pela produção literária quanto por suas implicações político-sociais. Em suas análises sobre os modernistas mineiros que, em sua maior parte passou pela Faculdade de Direito e o exercício deste grupo na atividade política levou-o a identificar relações profundas entre o movimento literário e o movimento de criação da UMG.

Mesmo dedicando grande parte de seus estudos e pesquisas à fundação da UMG, Dias não abre mão de projetar-se no futuro e lançar olhares à trajetória da instituição, ao trabalho de construção das gerações seguintes, que souberam levar à frente o ideal dos pais fundadores, observa Maria Efigênia Lage de Resende (DIAS, 1997) ao comentar, no prefácio, a obra em questão.

Em 07 de setembro de 1927 é criada a UMG reunindo as quatro faculdades, segundo Dias, em torno de um projeto coletivo ambicioso, obra de uma geração, associado à ideia de modernidade.  Naquele momento, a Faculdade de Direito tinha 37 anos de existência, desde sua instalação em Ouro Preto em 1892, a Faculdade de Odontologia e Farmácia funcionava há mais de 21 anos e a Faculdade de Medicina há mais de 18 anos. Para o autor a criação da Universidade em Minas Gerais seria, ao mesmo tempo, sinal e fator de progresso, um passo decisivo para a “emancipação intelectual” do estado.

Resgatar a trajetória da UFMG, co-memorar sua fundação faz-nos sabedores e guardiões de uma história para além de seu âmbito institucional, significa desvelar um projeto intelectual e político, social e cultural de amplo espectro que operou profundas mudanças na sociedade mineira. Pensar a criação da UFMG é pensar a Educação, é pensar o Brasil.

Bibliografia

DIAS, Fernando Correia. Universidade Federal de Minas Gerais – Projeto Intelectual e Político. Editora UFMG, 1997.

João Victor da Fonseca Oliveira – joaoprates2009@hotmail.com – Bolsista IC CPDOC/FaE/UFMG

Nelma Marçal Lacerda Fonseca – Bolsista Apoio Técnico CPDOC/FaE/UFMG

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *