Universidade Rediviva na Sociedade do Conhecimento – Parte III – Internacionalização da Universidade

 Antônio Teixeira

O conhecimento produzido ao longo dos séculos é patrimônio universal. Neste cenário, a universidade é o celeiro do conhecimento. Como partícipes do conhecimento universal, temos o dever de fazer ampla reforma do sistema educacional desde a creche e o ensino básico até o nível superior. As crises geram oportunidades, e a humanidade está diante de uma guerra contra a coronavírus:- As perdas de vidas são inestimáveis. Diante de sofrimento inaudito, os clamores propagam intenções que devem canalizar as forças transformadoras em um mundo novo com justiça social e igualdade de oportunidades, ou seja, com educação para todos.

– Diante do problema exposto, são apontados alguns caminhos para a reforma do sistema educacional brasileiro, em todos os níveis.

Sugestões:

A – Ensino fundamental

  • Com recurso do Tesouro Nacional, aumentar o piso salarial do professor do ensino fundamental.
  • Implantar o ensino integral no ensino fundamental com oportunidade de aprender a usar bem as mãos e a cabeça.
  • Treinamento periódico de professores do ensino fundamental em escolas experimentais de inovação educacional com instrutores acostumados ao trabalho em equipe para construção do conhecimento.
  • Eliminar provas de avaliação da capacidade do aluno decorar a matéria de aula expositiva sobre conteúdo desatualizado.
  • Avaliar o aluno pelo rendimento em atividades que incluam participação em trabalho de grupo, emprego de habilidades oriundas do conhecimento adquirido, e demonstração de interesse social.
  • Avaliar o aluno pela autonomia obtida no hábito de aprender a partir da curiosidade inata sobre a realidade de fatos compartilhados com o grupo de trabalho.
  • Avaliar o aluno pelo desenvolvimento de resiliência e contribuição para o entrosamento no grupo com habilidades do tipo empatia e solidariedade.
  • Assegurar que o aluno desenvolva espírito livre e criatividade para contribuir para produção de conhecimento.

II – Para o ensino superior de graduação     

  • Selecionar alunos pelo rendimento escolar com base nas qualidades descritas acima, itens 2 a 7.
  • Empregar didática de Aprendizagem Baseada em Problema Evidente (ABPE) a partir de temas da realidade escolhidos pela curiosidade dos alunos.
  • Seguir o assunto da aula indicado na estrutura curricular toda vez que os temas da realidade requeiram acesso ao conhecimento pregresso.
  • Utilizar as tecnologias digitais para acessar os portais atualizados e estimular discussão científica que esclarece o tema em pauta.
  • Sumariar com palavras-chave os temas principais da discussão e dirigir perguntas entre os colegas para esclarecer o que não foi entendido.
  • Valorizar perguntas sem respostas esclarecedoras e utilizá-las como exercício de casa visando a atualização do conhecimento.
  • A participação multidisciplinar de docentes deve ajudar a autoaprendizagem a partir de perguntas sem respostas que revelam a limitação da ciência diante dos mistérios da vida.
  • Discutir a epistemologia da ciência livre de conflito de interesse, e apreciação da beleza do saber científico.
  • Avaliar mediante conceitos emitidos mutuamente pelos colegas e pelo(s) docente(s) de acordo com o interesse demonstrado em sala de aula.
  • Emular a participação do aluno e identificar indivíduo do grupo que se ausenta do ambiente de trabalho.
  • Promover atividades ao ar livre que suscita alegria e evita evasão escolar.
  • Sugerir ao aluno portador de tristeza e depressão a busca de ajuda em clínica especializada do SUS.

 III – Para a pós-graduação

  • Estabelecer que a seleção para a pós-graduação deve ser responsabilidade do professor orientador escolhido pelo candidato em atividade pelo menos seis meses antes da seleção.
  • Arguir o candidato sobre seu grau de compreensão dos métodos de investigação no projeto de tese ou dissertação.
  • Avaliar a evolução do pensamento crítico e criativo, bem como o compromisso com a pesquisa do projeto.
  • Diminuir substancialmente o número de créditos teóricos e aumentar o tempo de trabalho em bancada.
  • Indagar ao candidato qual a diferença entre altruísmo e o interesse genuíno pela produção de conhecimento de interesse social.

IV – Para pesquisa e pós-graduação

  • Avaliar a linha de pesquisa pela qualidade do projeto e pelo interesse da sociedade, com ênfase na compreensão e na solução de problemas nacionais.
  • Indagar sobre o envolvimento do candidato na pesquisa com base na construção coletiva do saber.
  • Indagar sobre a empatia do candidato e sua vontade de contribuição para o grupo de pesquisa.
  • Proceder o acompanhamento da pesquisa nas fases de hipótese, síntese, confirmação e/ou negação da hipótese, de acordo com a filosofia da ciência.
  • Assegurar o bom uso do financiamento, do esforço institucional e do grupo de pesquisa até a publicação em revista indexada.
  • Reconhecer a importância do exame final por comissão examinadora de tese ou de dissertação por membros externos sorteados a partir de 10 nomes de pesquisadores seniores da Plataforma Lattes do CNPq.

 

V – Seleção de candidatos ao corpo docente

  • Avaliação do currículo disponibilizado na Plataforma Lattes do CNPq.
  • Avaliação da aula expositiva para observação da didática, clareza da exposição e empatia do candidato com a banca examinadora.
  • Reconhecer a comissão examinadora nos mesmos termos do tópico IV acima.
  • Evitar judicialização que impõe julgamento meramente quantitativo em detrimento de valores que denotam vocação e verdadeiro amor do candidato pelo conhecimento.
  • Assegurar o prevalecimento da didática e da autoaprendizagem como fatores importantes na escolha do melhor candidato.

 

VII – Centro Internacional de Inovação Educacional

 Propõe-se que a universidade assuma sua prerrogativa constitucional para criação de novos institutos, centros ou núcleos para provimento de serviços ou de inovações didáticas para melhorar a qualidade de ensino e obter recursos para além daqueles oriundos do Tesouro Nacional. A criação de um Centro com essa atribuição tem bases em dois componentes.

A – Internacionalização da universidade

Atribuir ao Centro Internacional de Inovação Educacional a disponibilização de vagas para alunos estrangeiros. A economia de países em todo mundo recebe reforço substancial com a disponibilização de vagas no ensino superior para estrangeiros, em todas as áreas do conhecimento e, também, em cursos de especialização, mestrado e doutorado. São muitos milhões de dólares que esses países ganham para incluir os alunos brasileiros no seu sistema educacional ao longo de quatro anos ou mais. Considerando que cada aluno gasta em média mil euros por mês, o total de dez mil alunos por ano transfere anualmente do Brasil para o exterior pelo menos 120 bilhões de euros por ano. Contudo, cerca de 40 mil jovens estudam no exterior e cerca de 500 bilhões de dólares fogem do Brasil para a economia de muitos países pelo mundo a     fora.

Para reverter o fluxo de divisas, as universidades brasileiras precisam melhorar a qualidade do ensino, da pesquisa e das atividades de extensão. É      necessária a disponibilização de moradias para acolhimento de estudantes estrangeiros que devem pagar o aluguel de seu apartamento. O aluguel seria fonte de recurso para fortalecer o orçamento da universidade acolhedora.

B – Inovação de métodos educacionais

 O Centro Internacional de Inovação Educacional também terá a atribuição de fazer a inovação de métodos educacionais. A frustração da experiência de inovação didática que estava prevista no plano diretor da Universidade de Brasília descarta a possibilidade de o docente, mestre, doutor ou pós-doutor, educado com didática cartesiana, delete da mente o esquema de aula expositiva sobre saberes do passado e se dedique ao método de aprendizagem com base em problema evidente.

Todavia, a legislação existente normatiza a criação de institutos de novas tecnologias e inovação. Para cumprir a lei é preciso submeter ao Conselho de Ensino e Pesquisa projeto de criação de Centro Internacional de Inovação Educacional com finalidade de “Flexibilização dos Métodos de Ensino” para as boas práticas didáticas de aprendizagem. Em seguida, aprovar a inclusão de novas disciplinas em currículos flexibilizados que poderiam ser cursadas pelos alunos para obtenção de créditos, sem prejudicar o ensino pelo currículo antigo. Ainda, há de se garantir meios para que alunos de qualquer área de conhecimento tenham suas matrículas nas novas disciplinas. Com flexibilização de currículo muitos docentes terão interesse de oferecer disciplina com inovação didática e, aos poucos, o método aprovado pelos alunos e docentes, gradualmente, poderá sobreviver no sistema educacional.

A Universidade Rediviva requer aprovação de organograma de reformas para ser cumprido, visto que as novas tecnologias continuarão a modificar o papel do ser humano na produção de riqueza e de acesso à beleza ao mundo de conhecimento de evolução contínua. Pois o conhecimento tem força de teoria quando se comprova a capacidade de turbinar a pesquisa científica e gerar mais conhecimento. Por esse critério, chega-se à conclusão de que a revolução na produção de alimentos e de proteínas de origem animal para consumo humano se deve ao conhecimento sobre evolução e seleção natural das espécies. A evolução biológica mostra porque a universidade pública necessita de renovação continuada dos métodos de aprendizagem.

Conclusão: A universidade brasileira precisa incluir no seu currículo aulas sobre todo conhecimento que se renova continuadamente. Há necessidade de flexibilização de currículos para abordagem multidisciplinar, por exemplo, da biologia da evolução com participação de diversos docentes com conhecimento de geologia, ecologia, filosofia, paleontologia, antropologia, sociologia, física, bioquímica, genética, imunologia e patologia. O cérebro do aluno fará a integração holística do conhecimento.

A liberdade de pensar e criar conhecimento novo pode ocorrer em condições adversas, mas o processo de assimilação e de transferência para gerar novas tecnologias e inovação é mais acelerado em sociedades democráticas que zelam pelas liberdades íntima, individual e pública. Fazer a reforma didática da universidade é urgente porque tornou-se assunto de saúde pública e de combate à fome.

Leitura recomendada:

  1. Descartes R. Discours de la méthode pour bien conduire sa raison, et chercher la vérité dans les sciences. LeidenHolland, 1637.
  2. Newton I. The Mathematical Principles of Natural Philosophy. Benjamim Motte, London, 1729.
  3. Malthus T.R. An essay on the principle of population. John Murray, Albermale Street. London, 1789.
  4. Galton F. Hereditary Genius:- An inquiry into its laws and consequences. Maxmillan. 1914.
  5. Spencer H. The Evolution of Society. The University of Chicago Press, Chicago & London, 1967.
  1. Huxley, T.H. Science et Religion. Librairie J.-B Baillière et Fils. Paris, 1893.
  1. Broglie L. Para Além da Ciência. 1955. Livraria Tavares Martins. Curitiba.

 

Confira também a Parte I –  O que foi feito

 

Confira também a Parte II – Tentativa de mudança


Imagem de destaque: Tânia Rêgo/Agência Brasil

 

 

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