Uma oportunidade de formação em um momento “maduro” da vida

Odair Nunes de Souza

 

Meu nome é Odair Nunes de Souza e tive como motivação para escrever esse memorial, algumas pesquisas de fatores educacionais, políticos e econômicos como conteúdo de nossa disciplina de História da Educação, ministrada pela professora Gisele GutsteinGuttschow. Nasci em uma pequena cidade chamada Nova Pitanga, no interior do estado do Paraná, na Fazenda Mesquita. Iniciei meus estudos aos sete anos de idade no ano de 1980, em uma escola da qual não lembro o nome, pois fiquei pouco tempo estudando nela; foi até meu pai conseguir um trabalho fixo e uma casa para morarmos no estado de Santa Catarina.

A escola ficava distante: eu ia na companhia com meus irmãos mais velhos a pé; atualmente mesmo como cidade pequena quase tudo por lá está urbanizado. Como afirmei, até nos mudarmos para a cidade de Joinville em Santa Catarina, lembro que no percurso a pé passávamos por vários sítios onde coletávamos frutas que comíamos pelo caminho: tempos bons de infância.

Como a vida no sítio estava precária por falta de recursos para insumos agrícolas e também por falta dos conhecimentos necessários sobre o manejo de solo, de plantio, de métodos de adubação orgânica, meu pai, na época, optou por deixar de plantar, de ser agricultor, para se tornar operário na cidade, pois a maioria de seus amigos já tinha se mudado pra Joinville devido à alta procura de homens para trabalhar em uma empresa de fundição de metais, que nesta época admitiu muitos homens, em sua maioria, analfabetos e com apenas o ensino primário.

Lembro que depois que nos mudamos para o Bairro Boa Vista, quase próximo desta empresa onde meu pai trabalhou, dias depois meus três irmãos e eu fomos matriculados na Escola Municipal Presidente Castello Branco, uma escola de ensino exemplar na qual tive bons professores que deixaram saudades: a professora Antônia da primeira série; a professora Anelise e a professora substituta MarilandiaKoller, da segunda série. Quando a professora Anelise se afastou para ir para maternidade, a professora Marilandia, assumiu a turma. Ela era um exemplo de ensino, pois junto com o afeto nos deu uma lição de vida dentro da sala de aula: lembro que éramos perversos às vezes, “coisa de meninos” e, naquela época, houve uma infestação de piolhos; quem tivesse infestado levava um bilhete para casa. Esse foi o motivo de uns colegas se desafiarem para ver quem tirava a touca de uma das meninas que nunca deixava de usar.

Enquanto a professora estava desatenta, um de nossos colegas tirou a touca da coleguinha e todos riram, pois a menina estava careca. A professora Marilandia, solidária e atenciosa, chamou a nossa atenção enquanto a menina chorava, abraçando-a. Foi uma lição de vida para nós, pois o riso foi momentâneo, e pouco depois todos ficaram pensativos. Outro fato que marcou: nas aulas da professora Anelise, com a presença da professora Marilandia, aquela se surpreendeu com os elogios feitos pela professora Marilandia ao comentar que eu seria o melhor aluno da classe. Essa professora pedia para que os alunos que tinham dificuldades chegassem mais cedo na escola, ou fossem em sua casa para ter aulas de reforço e tirar dúvidas em Matemática sem cobrar nada: foi assim que melhorei as minhas notas.

A Escola Castelo Branco, onde eu estudava, tinha uma horta orgânica com diversas verduras plantadas por um servente, atitudes que com o passar dos anos foram se acabando; ainda hoje é comentado sobre as deliciosas sopas que as merendeiras faziam, sobre a simpatia e dedicação da orientadora Dona Dalva e do professor de Educação Física, Sr Lauro, que foi um atleta campeão de corrida com obstáculos e hoje é cabo aposentado da Polícia Militar; tive a honra de revê-lo e conversar com ele anos atrás no Centro em Joinville.

Para concluir o ensino primário nesta escola levei cinco anos, pois  tinha repetido a quarta série. A reprovação foi uma lição para eu me fortalecer e me dedicar mais aos estudos. Naquele tempo morávamos em casa alugada, e logo tivemos que nos mudar; fomos morar em uma rua próxima a outra escola, na qual fui matriculado: a Escola Básica Albano Schimdt, também no Bairro Boa Vista. Esta escola era próxima ao mangue e quando a maré enchia a gente via a água atrás da escola; estudei nessa escola até o primeiro bimestre da oitava série e depois, já com 16 para 17 anos, tentei trabalho com indicação da professora de História, numa empresa de perfilados que era de seu esposo, no centro da cidade de Joinville; porém como eu não tinha a datilografia, curso exigido para trabalhar no escritório, só me restou o trabalho pesado, braçal, com tubos de ferro.

Como o horário atrapalharia meus estudos, o trabalho era pesado e eu era fraco de corpo na época, preferi continuar a estudar, até conseguir outro trabalho. Eu tinha um amigo de escola e vizinho, que meses depois conseguiu uma vaga pra mim numa empresa de móveis de vime; por causa deste trabalho tive que pedir transferência da Escola Albano Schimdt, onde estudava de manhã, para a Escola Estadual Presidente Médice, onde comecei a estudar à noite: esta escola era mais próxima.

Nessa época era uma escola que tinha muitos alunos rebeldes e durante algumas aulas não conseguia aprender quase nada por causa das bagunças que faziam na sala de aula: queimavam fio fedido na sala, jogavam camisinha na mesa da professora no intervalo do recreio e outras coisas. Depois de alguns meses de trabalho, a empresa entrou em crise e eu e mais alguns fomos demitidos. Nessa escola não fui bem sucedido nos estudos de Matemática e por poucos pontos o professor não me deixou passar  de ano; então saí da escola.

Desse tempo para cá, até o ano de 2005, tive muitos sonhos nos quais eu sempre estava estudando; ao acordar ficava decepcionado, mas tudo passou quando consegui um trabalho na cidade de Joinville. Com isso, meses depois entrei na escola do Serviço Social da Indústria (SESI), me matriculei e eles cobravam pouco. O estudo era por módulos, três vezes na semana. Não foi fácil; em alguns dias o cansaço era tanto que ia para casa descansar, pois trabalhava de zelador, fazendo o trabalho de duas pessoas ao mesmo tempo. O que me ajudava era a academia de Kung-fu: lá eu tirava o cansaço do dia a dia, pois precisava dar o sustento para a minha família. Eu era jovem, mas já era casado, tinha dois filhos menores. Hoje eles já são adultos.

Em Junho de 2008 consegui concluir o Ensino Médio e já era instrutor de Kung-fu, tinha competido no campeonato de Boxe-ChinêsSanshou, e no Tai chichuan, méritos que jamais me esquecerei, ambos diferenciados, mas tanto na arte marcial, como no Ensino Médio quem da aula também é chamado professor. Minha professora de tai-chi era duas vezes professora, de tai-chi e da Rede Municipal de Ensino. Talvez o hábito de dar aulas de artes marciais chinesas para crianças e adultos e ser chamado de professor também me motivou a estar no Curso de Licenciatura de Ciências Agrárias. A motivação foi um estudante do curso de Licenciatura em Ciências Agrícolas chamado Leandro, que tinha comentado sobre o curso. Leandro foi trabalhar em Curitiba/Paraná depois de um tempo cuidando dos jardins do bloco D, no IFC campus Araquari e atualmente está terminando o Mestrado. Outra razão é que um dia, conversando sobre meus conhecimentos sobre plantas com o Guilherme da biblioteca e o professor Sobral, eles me incentivaram a fazer esse curso.

Quero concluir este memorial ressaltando também como futuro cientista agrícola, que quero pesquisar mais sobre as espécies de “ora pro nobis” (pereskia), comestíveis e não comestíveis dourada, “PereskiaAculeataGodseffiana” (variegata), por ser uma planta rica em muitas vitaminas. Assim, após alguns anos sem estudar, consegui realizar meu ingresso no Instituto Federal Catarinense (IFC) Campus Araquari, sendo aprovado na primeira lista de vagas não preenchidas no curso de Licenciatura em Ciências Agrárias. Estou aproveitando essa oportunidade com muita esperança no futuro.


Imagem de destaque: Chelsea Aaron / Unsplash

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