Uma escola para a autonomia, para a boa vida

A exemplo de um episódio de educação sexual

Alexandre Fernandez Vaz

Não é fácil dizer que nos últimos dias uma notícia chamou a atenção. Afinal, é só abrir um bom portal de notícias e lembrar da importância da meditação, de manter a calma, do avanço das pesquisas farmacológicas. Como se sabe, em momentos de crise medo e pânico não são bons conselheiros. Não deixar de se impactar pode, no entanto, ser uma maneira de manter o pensamento e a crítica ativos.

Considerei tudo isso ao ler, há poucos dias, sobre o episódio de afastamento de uma professora do ensino fundamental de Cascavel, Paraná. A profissional, com dezenove anos de magistério, ministrou uma aula de educação sexual para alunos e alunas de nove anos. Para viabilizÁ-la nos moldes em que pretendia, buscou materiais didáticos na forma de órgãos sexuais masculinos e femininos, recorrendo ainda à presença de preservativos. Depois de divulgar suas atividades em uma rede social, a professora foi, por determinação do prefeito, suspensa de suas atividades por trinta dias. Ele foi cuidadoso ao se manifestar sobre a responsabilidade da professora, sem deixar de destacar que o material utilizado não fazia parte do cotidiano da escola, o que seria confirmado pelo fato de que ele fora emprestado de outro órgão.

Compõe o quadro de avanços modernizadores tratar a sexualidade sem tabus, considerando-se que as relações sexuais consensuais entre adultos não devem (obviamente excetuando situações de risco, ainda assim passíveis de discussão) ser interditadas. Por que, então, tratar do tema com crianças? Primeiro, porque a sexualidade não se resume às relações sexuais, como é mais que sabido. Segundo, porque na escola está a possibilidade de que a cultura seja apresentada sem medo e moralismos, de maneira plural, com ênfase na ciência e em princípios democráticos. Isso deve acontecer mesmo (e às vezes principalmente) que de forma concorrente com outros meios de socialização cultural, como os diversos meios de comunicação. Muito melhor lidar com a questão de forma tranquila na escola do que deixar que os pequenos sejam, por exemplo, “educadas” pela pornografia disponível a um clique.

Um dos argumentos contrários à educação sexual nas escolas seria a sexualização precoce das crianças. Se a sexualidade não é prerrogativa dos adultos, mas sim as relações sexuais, então penso que se trata do contrário dos que pregam os supostos defensores dos novos neste mundo. Mais esclarecimento, menos repressão, mais conversa, exatamente para que haja menos possibilidade de exposição pública e de suscetibilidade a abusos.

A suposição de que as crianças são inocentes anjos a vagar na etérea bruma da virtude é não apenas regressiva, mas, como tal, de enorme prejuízo para os pequenos. Eles não são seres angelicais, mas humanos, em formação como qualquer um de nós, com suas especificidades. Disso se sabe pelo menos desde o século dezoito. Respeitá-los em suas particularidades não significa, portanto, privá-los de conhecimentos sobre si e o mundo em que estão, para o qual nasceram. Sem isso, tampouco eles terão capacidade de critica-lo e, na melhor das hipóteses, torna-lo melhor para si e para as gerações que os sucederem. Objeto de afirmação e repressão cuja história se confunde com a da civilização ocidental, a sexualidade se confunde com a própria vida, a qual é sua expressão máxima. É o caso de privar as crianças de assunto tão importante?

A secretária da educação do município do Cascavel teria destacado que o tema faz parte do currículo, mas limitado às doenças sexualmente transmissíveis e à prevenção à gravidez precoce. Dissera ainda que não ser adequado se chegar ao nível de aprofundamento da aula ministrada. São muito problemáticas as duas posições. A primeira porque defende que o tema da sexualidade não deva ser tratado senão como ameaça que embute dois sérios problemas nacionais, duas ameaças reais aos jovens que logo as crianças serão. Não se trata de negar a importância dessa abordagem, muito pelo contrário, mas de observar seus limites e as consequências que ela acarreta. O problema é equiparar sexo a risco, a perigo, negando-lhe a dimensão de prazer, de produção da vida. Ou seja, é trata-lo como algo a ser reprimido. E só.

O segundo limite é criticar o aprofundamento de um tema na escola. Ora, alunos e alunas devem saber menos, privados de conhecer? Não é o caso de pretender explicar e defender uma sexualidade que fosse “correta”, normatizando e limitando as possibilidades humanas, evidentemente. Mas, fazer o que? Reprimir e deixar para a pornografia? Para aprender, entre risotas covardes, que ter uma filha, e não um filho, é sinal de haver fraquejado?

Ilha de Santa Catarina, novembro de 2018.

Imagem de destaque: tribesh kayastha em Unsplash

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