Uma atenção especial à Educação Museal – exclusivo

Isabella Brandão Lara

Guia, monitor ou educador? Começo este texto com uma questão conceitual referente aos profissionais que fazem mediações em espaços museais. Há diferença nestas definições? Quais são as suas atribuições?

A discussão sobre a regulamentação das ações educativas em museus é recente, embora existam registros desta prática desde a primeira metade do século XX. O primeiro setor educativo museal foi criado em 1927, por Roquette Pinto, no Museu Nacional do Rio de Janeiro. Demorou algumas décadas para que se institucionalizassem outros setores educativos como o do Museu Histórico Nacional, na década de 1950, e os da Casa Rui Barbosa e da Pinacoteca do Estado de São Paulo na década de 1970. Nestes quase 90 anos de experiência surgiram importantes documentos e debates sobre o tema, mas somente em 2010, com a Carta de Petrópolis, escrita durante o I Encontro de Educadores do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), que se deu início ao movimento de elaboração do Programa Nacional de Educação Museal (PNEM, 2014).

O esforço do IBRAM em escrever o documento do PNEM envolveu a participação popular através de um fórum virtual, em que cada pessoa podia dar sugestões e propor temas para serem discutidos. Foram criadas 10 categorias de debate que envolvem sustentabilidade, acessibilidade, perspectivas conceituais, gestão, capacitação, redes e parcerias, estudos e pesquisas, comunicação, contato com a comunidade, e profissionais da educação.

Participei de duas reuniões do PNEM no ano passado: o Encontro Regional de Educadores Museais de Minas Gerais, em Belo Horizonte, e o 6º Fórum Nacional de Museus, em Belém do Pará. Na primeira, que aconteceu em agosto de 2014, a representante do IBRAM ouviu as demandas dos educadores museais de diversas instituições mineiras e propôs grupos de discussão. O objetivo deste primeiro momento, ao que parece, era de conhecer o trabalho que está sendo realizado nos setores educativos e identificar suas principais necessidades.  No segundo encontro, em novembro de 2014, foram definidos alguns princípios básicos para o Programa. Dentre eles, o de garantir que cada instituição museal possua um setor educativo estruturado, composto por uma equipe qualificada e multidisciplinar, com um plano educacional, e que colabore para a promoção da cidadania e para o desenvolvimento regional e local (Carta de Belém, 2014).

Porém, o que os educadores museais reivindicam é uma legitimação ainda maior de seu trabalho.  Regulamentar a profissão do educador museal envolve determinar um piso salarial, a valorização da profissão, qualificação, a compreensão – pelo público externo – de que os museus são espaços vivos de educação, cultura e lazer e que dispõem de uma equipe preparada para realizar projetos com escolas, universidades, instituições culturais, visitantes espontâneos e demais interessados. Cabe aos educadores museais participar da elaboração e planejamento das ações educativas, contribuir com a base teórica para o desenvolvimento das práticas, estabelecer o constante diálogo entre museus e comunidade, escrever relatos, artigos e projetos para serem divulgados através de publicações acadêmicas, participar de cursos de qualificação e aperfeiçoamento, e fortalecer a ideia de que os espaços museais também são espaços sensoriais, de experiências e de construção do conhecimento.

É importante reforçar estas atribuições principalmente para estabelecer a diferenciação conceitual com monitores e guias. Segundo o dicionário Aurélio, guia é aquele que indica a direção, que informa o roteiro, que conduz. Nesta concepção, o trabalho do guia em um museu é o de apresentar o conteúdo e de mostrar um único caminho, um único percurso a ser seguido. Esta abordagem é baseada no entendimento de que o visitante é um mero receptor de informação.

Monitor, para o mesmo dicionário, é aquele que toma conta de um grupo de crianças ou alunos, que dá conselhos e lições. Nos museus, nos dias de hoje, muito se utiliza da denominação “monitor” para se referir ao profissional que organiza os espaços, passa informações relevantes e monitora o seu bom funcionamento. No entanto, mesmo desenvolvendo importantes papéis, guias e monitores não estabelecem a mediação instigadora entre o visitante e o museu, não proporcionam uma relação dialógica, investigativa e nem levam em consideração o acervo sociocultural do indivíduo ou sua maneira de relacionar com o mundo. A estas funções, cabe o educador.

Essa diferenciação, todavia, ultrapassa a questão conceitual, uma vez que, no caso de Minas Gerais, os educadores museais estão vinculados ao SINDEC, Sindicato de Trabalhadores em Entidades Culturais e Recreativas do Estado de Minas Gerais que atende, principalmente, aos clubes esportivos e recreativos. Entendemos que esta vinculação nos é prejudicial, uma vez que o próprio sindicato não conhece ou compreende o trabalho desenvolvido pelos educadores museais e que não tem como foco de trabalho a educação. A força política do SINDEC com/para os educadores museais é branda e este momento, de regularização e aprovação do PNEM, é necessário um envolvimento maior na causa.

Desta forma, minha ideia com este texto é extrapolar o debate para além dos museus. Divulgar para a comunidade o trabalho desenvolvido pelos museus, contribui para ampliar as suas práticas educativas e mostrar a potencialidade que estes espaços têm no campo da cultura, do lazer, das experiências e da educação. Foi-se o tempo em que a escola era tida como único ambiente de promoção das práticas pedagógicas. A multiplicidade de linguagens, de ambientes, de abordagens, de experiências e sujeitos, só vem a enriquecer os nossos alunos no desenvolvimento da percepção e da crítica para a arte, para a história, para a linguagem, para as ciências, para as sensibilidades, para os valores morais e para as questões sociais. Assim, o que todo gestor de museu deseja, é um trabalho mais integrado entre a comunidade, a escola e a instituição museal, a fim de proporcionar uma experiência integral para cada um dos seus visitantes. 

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