Um autor necessário: como os estudos de Thomas Piketty ajudam a pensar a educação?

Alexandra Lima da Silva

Os melhores encontros acontecem nos lugares mais inesperados. Esse foi meu aprendizado após conhecer um pouco das ideias do economista francês Thomas Piketty. Eu sempre tive muita resistência em ler economistas. Eu tinha uma visão limitada de que economistas escreviam na forma de gráficos., e eu tenho muita preguiça de ler gráficos. Acreditava que um livro escrito por um economista teria muitos jargões voltados para um reduzido círculo de especialistas.

Eu estava errada.

Para pensar os desafios da educação contemporânea, é preciso ler autores como Piketty, e com urgência.

Thomas Piketty nasceu em Clichy, França, em maio de 1971. Atualmente é professor na Escola de Estudos Superiores em Ciências Sociais (EHESS) e na Paris School of Economics. Autor do consagrado O Capital no século XXI, publicado em francês pela Ed. Du Seuil em 2013 e traduzido em várias línguas, o autor vem se dedicado a analisar as interfaces entre desenvolvimento econômico, distribuição de renda e conflitos políticos. O autor enfatiza o papel das instituições políticas, sociais e fiscais na evolução histórica da distribuição da riqueza.

Em Capital and Ideology, lançado em francês em 2019 e em inglês em 2020, Piketty procura problematizar como as diferentes sociedades estruturaram e justificaram as desigualdades. Destaco a importância da experiência indiana nas análises do autor, para o qual, “o caso da Índia é particularmente instrutivo”, compreendendo as cotas e reservas de vagas como um legado indiano para outros países que também se estruturaram a partir da discriminação e exclusão.

Outro ponto importante é a necessidade de romper com a ideia de educação como privilégio, conforme o discurso meritocrata se fundamenta e contribui para a legitimação das desigualdades. Para o autor, “um dos principais desafios de sociedades regidas sob o viés da social-democracia é assegurar o acesso a habilidades e treinamentos, especialmente, o ensino superior”. Neste sentido, assim como a propriedade, a educação desempenha um papel central na história das desigualdades, seja para aprofundá-las, seja para reduzí-las.

Por isso, acompanhando as ideias de Piketty, a educação precisa ser compreendida como um direito e como um investimento em sociedades que se propõem justas e democráticas. Tais sociedades precisam promover práticas mais transparentes para o desenvolvimento de uma justiça educacional, de modo que o investimento na educação seja garantido pelo estado, o que inclui taxar as grandes fortunas, de modo redistribuir a riqueza e possibilitar que a educação seja um bem disponível e acessível para todas as pessoas.

Em tempos cortes de bolsas, propostas de redução dos salários de servidores e da disseminação de que o salário dos professores públicos é um gasto elevado para os cofres do estado brasileiro, Piketty me convence de que sim, precisamos ler e aprender com os economistas. Afinal, se queremos construir uma sociedade mais justa e igualitária, precisamos assegurar e lutar pelo financiamento da educação. Por isso, nas palavras de Piketty, é preciso “permitir que os cidadãos recuperem os bens da economia e do conhecimento histórico”.


Para saber mais:

PIKETTY, Thomas. Capital and Ideology. Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press, 2020.

PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014.

 

 

 

Imagem de destaque: Economista Thomas Piketty. Foto: Sue Gardner/ WikkiMedia Commons

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *