Tratado de Methuen

Dalvit Greiner de Paula

Viva! Assinamos um tratado de livre comércio com a União Europeia. Um novo e atualizado Tratado de Methuen. O Tratado de Methuen é o menor tratado que já se escreveu no mundo. É de uma objetividade e racionalidade tremenda, de uma racionalidade inexistente naqueles tempos barrocos de início do século XVIII. E o tratado é assim: a Inglaterra venderia seus panos para Portugal; Portugal venderia seus vinhos para a Inglaterra. É a troca comercial perfeita, um mercado garantido para ambos os lados. A Inglaterra venderia para Portugal seus produtos manufaturados com alto valor agregado e, obrigatoriamente, Portugal venderia aos ingleses seus vinhos com pouco ou nenhum valor agregado. Ganha um doce quem disser com quam fica a melhor rentabilidade. Assim, Portugal matou suas manufaturas. Assim também é o atual tratado com a União Europeia.

Na nossa viagem de férias deparamos com uma novidade capitalista bastante interessante. Desta vez escancarada. A loja Ikea, um grande, variado e moderno bazar, oferece mercadorias muito atraentes. O design sueco se destaca pela beleza e modernidade. Quando pegamos as mercadorias, a surpresa: made in China, Tailândia, Índia, etc. A tecnologia e o design suecos usam matéria prima e mão-de-obra do terceiro mundo (Ainda existe terceiro mundo?). E assim vemos a perfeita divisão internacional do trabalho numa loja de utilidades domésticas.  Conhecimento e tecnologia europeias aliado à mão-de-obra mais barata do mundo garante um produto bonito e de baixo preço. Ótimo para concorrer no mercado internacional.

Quando se fala em Reforma Trabalhista e Reforma da Previdência no Brasil é para que nos adaptemos ao marcado internacional de trabalho. Competir com países de grandes populações como Índia e China torna-se impossível, pois com um grande mercado de famintos e possíveis famintos, fica fácil baratear qualquer força de trabalho. O Governo brasileiro está preparando o trabalhador brasileiro para esse mercado internacional. Presa fácil com roteiro previsível para a sua assunção: demoniza-se o MST, precariza-se o mercado de trabalho, elimina-se a seguridade social. Eis aí o trabalhador do século XXI. Sem alimentos, sem trabalho, sem seguridade e sem segurança. Presa fácil para qualquer salário: até um prato de comida serve. Pensávamos que a quarta revolução industrial havia chegado via smartphones e tablets. Mas, não. O chão da fábrica é que faz a diferença. E quanto mais barato ele for, melhor para o capitalismo.

Dessa maneira o Brasil vai ocupando o seu lugar na divisão internacional do trabalho. A Europa colocará no Mercosul o máximo de tecnologia. Não aquela tecnologia de ponta que veremos lá na Europa. A tecnologia de ponta que a Europa disponibilizará será aquela já obsoleta por lá. Sem muita ou nenhuma utilidade no cotidiano do europeu da Zona do Euro, ou seja, da Europa Ocidental. No outro lado do acordo, caberá ao Mercosul fornecer matéria-prima e alimentos in natura, na linguagem comercial commodities para que, manufaturados, retornem ao Brasil e demais países com alto valor agregado.  O acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul é lesivo à humanidade. O Brasil, como o parceiro com mais poder dentro do Mercosul, tem a obrigação moral de não ratificar o tratado, buscando recursos políticos para revertê-lo onde tiver sido ratificado.

Nesse cenário fica a pergunta: para quê Educação? Na divisão internacional do trabalho caberá aos países do Mercosul o fornecimento de matérias-prima e mão-de-obra barata. Um mínimo de qualificação será necessário, de preferência técnica para o serviço de pós-venda ou até mesmo para a montagem de produtos. Não haverá necessidade de pesquisa. A formação de professores torna-se desnecessária com o advento de novas possibilidades de ensino. Talvez a volta do método lancasteriano via computadores. Pesquisa e inovação ficarão com a Europa, agregando mais e maiores valores aos seus produtos. Ao Mercosul, a pobreza e a barbárie, pois a retirada do direito ao alimento por meio do salário leva o instinto de sobrevivência ao seu limite. E a violência impera.

Com esse acordo, nossa luta internacionaliza-se.


Imagem de destaque: Bobby Rodriguezz / Unsplash

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