“TODAS AS CIÊNCIAS SÃO HUMANAS”

– Ato unificado e histórico no centro de Belo Horizonte –

Joaquim Ramos

Dentre outras centenas de faixas e cartazes, a frase acima – em letras garrafais – era apenas mais uma erguida e carregada por estudantes da Fafich/UFMG durante o ato contra os cortes na educação e a reforma da previdência. O cortejo pelas ruas da cidade parecia não ter fim. Eram dezenas de milhares de estudantes e trabalhadores indignados com a política nefasta de retiradas de direitos do (des)governo Jair Bolsonaro. Sem perder a alegria, essas pessoas cantavam palavras de ordem e coloriam a cidade, na noite do dia 30 de maio de 2019. Ao fechar um dos cruzamentos, o canto entoado alertava: “Trabalhador… Vou te falar… Eu tô na rua… Pra você se aposentar!” e ecoava forte por entre carros e prédios, fazendo brotar, sempre e cada vez mais, uma espécie de esperança de que um “outro mundo é possível”. De um dos carros de som, as palavras eram outras:

“A NOSSA LUTA UNIFICOU, É ESTUDANTE JUNTO COM TRABALHADOR!”

Bonito de se ver, trabalhadores e estudantes, de modo uníssono, lutando em prol da mesma causa. Em muitos momentos, no meio da multidão, era possível ouvir os manifestantes esbravejarem contra o atual presidente e seus ministros. De modo geral, eram proferidas palavras duras, carregadas de indignação. Eu e um grupo de amigos – todos professores da mesma escola – comentamos sobre a participação da juventude nos dois últimos atos contra a redução das verbas na educação e contra a reforma da previdência. Uma das professoras, de modo sábio, fez a seguinte reflexão:

– Essa juventude estava adormecida! Foi necessário sentir na própria pele os golpes desferidos contra a democracia e contra as escolas! O mesmo golpe que atingiu a Presidenta Dilma, acertou essa moçada!

Ao refletir sobre essas palavras, quis saber sobre o que pensavam algumas pessoas que participavam do ato. Assim, de gravador em punho e atento ao gigantesco movimento de trabalhadores e estudantes, escutei os seguintes depoimentos:

Maria Sibele Carneiro, 53 anos, professora da Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte afirmou o seguinte: “Eu estou adorando ver essa mistura de estudantes e trabalhadores unidos para o bem comum deste país. Eu acho que quando a situação não é favorável, ou as pessoas se mexem ou a situação evolui para o caos profundo. Então é isso aí, são estudantes lutando nas ruas, unidos aos trabalhadores. Este encontro representa a união do passado, do presente e do futuro!”.

A psicóloga Helaine Campos de Albuquerque fez as seguintes ponderações sobre o ato: “Essa manifestação é exatamente como eu queria que tivesse acontecido nesta cidade: o povo na rua e a gente na rua, lutando por um país menos desigual e pela qualidade da educação!”

Para o professor da Rede Municipal de Belo Horizonte, Pedro Valadares: “O que estamos realizando, aqui, é um encontro formidável, construindo história com os estudantes secundaristas e universitários, professores, trabalhadores de várias categorias, defendendo direitos para a nossa geração e também para as gerações futuras. Muitos trabalhadores já fizeram isso em tempos passados e estamos fazendo história novamente. Estamos defendendo direitos trabalhistas, direitos previdenciários, saúde e educação pública de qualidade… Então é esse o recado das ruas, com alegria, ao ocuparmos as ruas, estamos participando juntamente com os estudantes de um momento histórico para o nosso país.”

Ao som de “Oh, Bolsonaro, Vou te dizer, A juventude não tem medo de você”, a irmã Maria Antônia, 59 anos, da Congregação São João Batista, religiosa e psicóloga considerou que: “Em princípio, é lamentável ter que acontecer isso. Não esperávamos que tivesse de acontecer à volta para as ruas por causa de perdas de direitos, de dignidade e daquilo que a gente já tinha conquistado às duras penas, porém, uma vez que isto está acontecendo, esse movimento é de uma grandeza sem palavras. Se essa consciência tivesse chegado um pouco mais cedo, por exemplo, na época das eleições, não precisaríamos estar aqui por estas causas. Mas como a eleição saiu do jeito que saiu, com esses governantes que temos, com esse risco para a educação, esse movimento é importantíssimo. Essa soma da juventude, com os professores e outros trabalhadores isto é fantástico. Uma força transformadora que pode fazer a mudança e colocar a baixo as mazelas que estão ocorrendo no país.”

A estudante Roberta Carpelli, 18 anos, estudante de Ciências Socioambientais, da UFMG, acredita na importância das pessoas estarem na luta hoje, não apenas pela questão da educação e da previdência, mas também pelo o que está ocorrendo com o meio ambiente. Para ela, é preciso lutar contra todos os cortes feitos na área ambiental pelo atual ministro do meio-ambiente – em suas palavras, o ministro cortou 95% das verbas para as pesquisas que estão em curso sobre as questões climáticas. Desta maneira, a estudante finaliza dizendo que “nós temos muitas razões para lutar e não é sem razão que as ruas estão cheias de pessoas que acreditam na luta”.

O professor Luiz Bitencourt, 35 anos, da Rede Municipal de Belo Horizonte, disse participar do segundo grande ato da cidade, contra a reforma da previdência e os cortes das verbas destinadas à educação, à pesquisa, ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia, no Brasil. Para ele, esse ato, mais uma vez, mostra a força que têm os trabalhadores em educação e todos os que acreditam num país soberano, desenvolvido, todos juntos, contra esse governo que quer destruir tudo o que foi construído nos últimos anos. Até há pouco tempo, o país dava oportunidade para os mais pobres e esse é mais um momento importante para fortalecer a greve geral do dia 14 de junho. Essa greve deve demarcar que o atual governo não quer nada com o desenvolvimento do país. A juventude negra, pobre, periférica, ao protagonizar essa luta, entendeu o seu papel histórico e hoje mostra a sua força.

A aluna do CEFET/MG, Letícia Maia, 21 anos disse que é importante participar do ato, pois mesmo sendo estudante de curso preparatório, avalia que é necessário ampliar o investimento em educação. Para ela, o ato de hoje contribui para algumas reflexões sobre a vida e sobre a importância de lutar por um mundo mais justo e melhor para todos.

O professor, Irlen Antônio Gonçalves, de 63 anos, do CEFET/MG proferiu as seguintes palavras: “Eu achei que nunca mais iria participar de um evento como esse, mas eu estou aqui, lutando em favor da nossa educação e do nosso Brasil. Não é possível vivermos num país com um governo tão horroroso, incompetente e burro que não sabe sequer para onde o país deve caminhar. Temos de inverter essa situação. Brasil para sempre!”

A professora Vânia Noronha, de 57 anos, da PUC/MG afirmou que: “Estou muito feliz de estar na rua hoje, vendo a juventude encarar a luta. Eu estou desde 1982 na luta e fico muito honrada de ver alunos e ex-alunos na rua, lutando e acreditando que uma outra sociedade é possível. Não podemos desistir nunca, pois a rua é o lugar da luta e da resistência e nós somos os protagonistas dessa história. A juventude entendeu isso e muita gente está aqui, lutando por direitos. Venham para a rua e vamos construir a greve do dia 14!”

Ao deixar o ato, por volta das 22 horas, ainda escutei um grupo de estudantes cantando:

“Oh, Bolsonaro/Eu quero ver/Você passar na UFMG”

Pensei:

Não passa! Não passarão!


Imagem de destaque: Vanessa Macedo

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