Sobre o ensino de artes nas escolas

Lucas Carneiro Costa

Em linhas gerais, percebemos que todos que refletem sobre o ensino de artes fazem as mesmas considerações: o ensino de artes “não é feito do jeito certo”, os professores não possuem formação, a aula não possui nenhum elemento que seja construtivo e que traga a ideia de arte como cultura ou expressão e, por fim, quando a aula de artes é “tratada séria”, o conteúdo é tecnicista.

Vários foram os trabalhos que buscam identificar qual é a natureza deste fenômeno, a metodologia e a abordagem pedagógica que embasam tais práticas e, por fim, a famosa pergunta de “por que o ensino de artes não é valorizado? Por que o ensino de artes é abordado de forma técnica e não de forma crítica? Por que a disciplina de artes é tratada como ‘secundária’?”

Sem dúvidas, a disciplina e o ensino de artes são vistos como algo “sem importância”. E isto ocorre pelo fato de a escola ser uma instituição predominantemente conteudista e tradicionalista. O ensino de artes é colocado como secundário dentro desta lógica. No ensino tradicionalista, as disciplinas importantes são as técnicas – e não as que permitem a construção cidadã dos estudantes. Por que a escola funciona dessa forma? Ora, o ideal tradicionalista visa coibir as práticas inovadoras. Afinal, não é interessante uma escola que fomente o questionamento às estruturas rígidas do nosso sistema social, capaz de formar pessoas com pensamento crítico. A valorização do ensino de artes, então, só pode acontecer em escolas onde se adotam pedagogias alternativas ao tradicionalismo.

A concepção de artes está presente na escola como uma disciplina técnica. A disciplina de artes deve focar em ensinar técnicas de pintura, estilos, escolas e movimentos artísticos e história da arte. Neste modelo de escola, a arte está muito mais como recurso do que com o conhecimento.

Contudo, a arte está presente nos nossos dias, em todos os momentos. Está em nossa roupa, através das estampas e estilos de corte; está nos designs dos automóveis que utilizamos para nos locomover; está nas esculturas e monumentos das praças das nossas cidades; está nas pinturas dos quadros que colocamos nas salas de nossas empresas; está nos papéis de parede dos nossos celulares; está na televisão, nos filmes e nas animações que vemos; é na música que escutamos e cantamos. Se a arte está presente em todos os momentos da nossa vida, por que não está na escola?

Os objetivos da disciplina deveriam ser outros, portanto. Ana Mae Barbosa e Rejane Galvão Coutinho, em seu trabalho “Ensino da arte no Brasil: aspectos históricos e metodológicos”, falam sobre os objetivos do ensino de artes a partir de uma visão educativa para a (isto é, objetivando uma) cultura visual:

[A arte e o seu ensino, neste contexto] tem como propósito formativo proporcionar aos estudantes ferramentas para uma compreensão crítica do papel que cumprem em cada sociedade e a posição que ocupam no jogo das relações de poder. Tem como objetivo proporcionar aos estudantes os fundamentos para compreender criticamente os mundos sociais e culturais em que vivem e produzem suas relações de significados. Assim sendo, cabe perguntar: o que seria uma matriz curricular para o Ensino de arte? O que ensinar? O ensino da arte deve visar ensinar o que é cultura, desenvolver a criatividade e, por fim, a sensibilidade e o senso crítico.

A compreensão da arte, dentro do contexto da pedagogia tradicional, não se refere como saber ou campo do conhecimento, mas sim como “disciplina” voltada para o trabalho e produção. Por essa razão, nas escolas se ensinam as “técnicas de pintura” e a “história da arte” em detrimento do conhecimento sobre as maneiras de se expressar, de entender o que é expressão e de se manifestar culturalmente. Os alunos acabam por enxergar a arte como algo mecânico, com apenas o propósito de “colorir” ou “desenhar”.

Há escolas que possuem experiências alternativas ao tradicionalismo? Sim, mas todas possuem essa mesma natureza pedagógica “técnica”. Tais considerações evidenciam a falência do ensino de artes, pelo menos em nossa realidade escolar brasileira. E por incrível que pareça, várias perguntas feitas no início deste texto ficam sem respostas. Não é raro vermos o seguinte fenômeno, mesmo nas escolas não-tradicionais: o professor distribui atividades para as crianças colorirem e pintarem; também, distribuem atividades alternativas, como construções de dobraduras, pinturas de vasos etc.; ao final do ano, todas essas atividades são entregues aos pais em um portfólio. A aula de artes, em última instância, cumpre a função de propiciar a construção desses portfólios – que são tratados quase que (como) um “presente” aos pais – e uma demonstração de que a escola “funciona”.

A arte vai muito além das pinturas de quadros e desenhos: música, teatro, cinema, dança, poesia – só para citar algumas das mais populares e comuns manifestações artísticas. E o ensino de artes deve visar a emancipação, fazendo o aluno ter uma visão crítica sobre a cultura e a Indústria Cultural, ensinando a entender as mais variadas formas de comunicação, valorizando formas diferentes de visão, entre diversos outros fenômenos importantes e construtivos.

Até quando o ensino de artes será tratado dessa forma? Ao que parece, por muito tempo. Pelo menos, ninguém parece ter a vontade de fazer com que a realidade seja diferente. Cabe a nós, educadores, abordarmos a disciplina de uma outra forma: mais aberta, inclusiva, democrática, empoderadora e emancipatória.


Imagem de destaque: Piqsels

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