Sobre ação cultural e conscientização

Lucas Carneiro Costa

Paulo Freire fala em sua obra sobre a importância e a relevância do ser humano ser consciente. Isto é, seres humanos possuem consciência e podem alterar a sua realidade, através de suas próprias ações. Assim sendo, é imprescindível e completamente legítimo que os seres humanos possam propor rompimentos, mudanças, e elaborar novas estratégias para mudar o meio onde vivem, criando uma realidade mais aberta e inclusiva de modo que beneficie a todos. Daí que nasce o conceito de ação cultural.

Diferente dos animais, seres humanos são curiosos e críticos. Animais não tem poder de aceitar sua condição. Portanto, por mais que “abelhas possam escolher as flores onde pousar, elas jamais podem mudar sua especialização”. Nesse ponto, Freire faz uma crítica ao Behaviorismo, já que essa mesma teoria trata que a realidade transforma a mente humana, e esta é mudada a partir da mudança que faz no humano (o que é um processo vicioso). Ou seja, para o Behaviorismo, não há ação que possa transformar. Então, não existe práxis.

Freire é um crítico dessas visões sobre a natureza humana, que tratam o ser como um produto abstrato, ou ainda como uma máquina ou uma engrenagem em um grande sistema. Para o educador, a ação humana deve-se desenvolver no sentido de mudar a realidade – que hoje não é positiva (no sentido de ser ilegítima, assimétrica e segregacionista). Para mudar a estrutura da sociedade, Freire acredita que devemos passar por um processo dialético de construção – humanos como tese, mundo como antítese, e ambos produzindo uma síntese e uma novo modelo de organização estrutural. A estrutura da sociedade, segundo o texto, não é a soma nem a justaposição de infraestrutura e superestrutura, mas sim a “dialetização” entre as duas. Como a estrutura funciona dessa forma, é dessa forma que ela deve ser mudada. E é também necessário discernir essas configurações culturais para não cair nos vícios.

Com o desenvolvimento do texto e do argumento de Paulo Freire, ele cita a cultura do silêncio, e a relação de poder entre dominantes e dominados. Esse tipo de relação de poder é a “base” (ou a essência) da estrutura da sociedade atual. Em suma, é uma reprodução ideológica da cultura do dominante.

Para combatê-la, os oprimidos devem se unir. Além disso, necessitam de lideranças revolucionárias para fazer ações culturais que possam impactar e mudar a realidade. Outro aspecto importante que é discutido em sua obra, e é usado para exemplificar essa relação de poder entre dominantes e dominados, é a relação entre países de terceiro mundo e de primeiro mundo.

De qualquer maneira, a conclusão parece ser muito clara: somente quando há união, a ruptura é possível; e a partir daí é que nasce a construção de uma nova cultura. A educação tem papel importante na ação cultural. Até porque é necessário educar as massas para que elas possam ser influenciadas pela ação cultural. Da mesma forma, é necessário educar também para que elas possam reproduzir a ação cultural. Freire destaca que a liderança revolucionária não pode denunciar a realidade sem conhecê-la, por exemplo. Também, não pode anunciar uma nova realidade sem ter um pré-projeto; não pode deixar de conhecer fatos e não pode deixar de propor algo viável nas práxis.

A ação cultural, do ponto de vista das classes dominantes, deve estar a serviço da preservação de seu poder. Cabe a nós, educadores, fazer o contrário, estabelecendo a verdadeira democracia.


Imagem de destaque: Timon Studler / Unsplash

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