Sobre a Pedagogia Tradicional e a marginalização

Lucas Carneiro Costa

A pedagogia tradicional é marcada pelo tecnicismo. Assim sendo, com esse e outros fatores, surgiu a necessidade também de fazer a educação em um espaço único e fechado. A ideia é, em primeiro lugar, centralizar a educação. Com maior centralização, há maior controle sobre a produção dos alunos e sobre o conteúdo ensinado. Outra necessidade da pedagogia tradicional é colocar tudo sob a mesma regulamentação (criar mais regras), o que leva a marginalizar os outros “jeitos” de educar (o jeito correto de instruir e o lugar que faz isso de forma mais eficiente passa a ser a escola, isto é, aquele espaço único e fixo onde supostamente lecionam). O resultado prático de se fazer a educação em um espaço único, fechado e fixo também é separar a sociedade entre ricos e pobres. Como anteriormente se ensinava abertamente nas comunidades, todos aprendiam e era livre a participação. Com a escola fixa e em um espaço único, poucos passam a ter a mobilidade e a competência material de se dirigir até a escola.

O espaço único para a escola e outros métodos de ensino da teoria da pedagogia tradicional acaba por exigir uma outra medida para complementar esse novo estilo de educação: a formalização do professor. O professor passa a ser um especialista, um técnico. Não é mais o líder da comunidade, ou alguém que possui ricos conhecimentos sobre tradições ou experiência de vida que ensina. Quem irá ensinar nas escolas (e para a comunidade em um espaço fechado) a partir de agora é um especialista, que também passou por um processo formal e tecnicista de aprendizagem de alguma determinada área. A questão, por outro lado, é que o professor passa a cumprir um papel de domesticador. O objetivo? Criar um (novo) tipo de indivíduo. A escola não passa a repassar conhecimento, mas sim civilizar o aluno para um novo tipo de mundo. O professor, por assim dizer, ensina o aluno as “regras da vida” acima de tudo. E, caso o aluno “fuja da caixinha”, o professor tem a autoridade para reprimi-lo.

Em suma, esse novo modelo de educação destrói por completo outras formas de socialização. A única maneira de socializar e manter a comunidade unida é a através da escola, que possui um espaço limitado. As relações humanas, portanto, passam a ser mais superficiais.

Se alguém quiser mudar a sociedade, tem que começar a fazê-lo pela educação, pela a cultura e pela linguagem. Isso foi exatamente o que a burguesia, na modernidade, fez. A educação foi o primeiro passo, como vimos: ocorreu a centralização, deixaram-na com um perfil técnico, utilizaram-na para segregar e fizeram-na sem possibilidades de socialização. A cultura também foi mudada: o acúmulo de capital passou a ser o instrumento determinante da vida humana. Por fim, houve uma clara tentativa de alterar a linguagem. “Escola” passa a ser o sinônimo de “educação”, “professor” passa a ser sinônimo de “educador” e “aluno” passa a ser sinônimo de “criança em construção de um futuro melhor”.

Para sacramentar a conquista desse novo modelo educacional, a escola tornou-se obrigatória para todos. Com isso, todos passam a ser obrigados a ser ensinados nesse modelo escolar moderno. O caráter dessa medida é totalmente autoritário, apesar de estar claramente trajado com uma boa roupagem (a de universalizar o ensino). O operário, o pobre, o camponês, passam a ser tratados como pessoas dignas de pena, necessitando da educação para ter seus instintos bloqueados e repelidos.

Toda essa estrutura em torno da vida moderna é aparelhada, então: são criadas caixas econômicas, seguros, asilos, berçários e se muda a configuração das casas, das ruas, estradas e bairros. O ser humano passa a ser humano a partir do momento que frequenta a escola. E só morrerá como ser humano caso consiga arrumar um emprego técnico em uma Fábrica.

O controle social que todas essas instituições exercem no indivíduo é assustador. Isso porque o indivíduo passa a ser monitorado e visto pelas autoridades a todo o momento. E não há como escapar ou fugir desse modelo de vida. Para se viver em sociedade na modernidade é necessário ser educado numa escola e ter capital. A escola na modernidade (através da pedagogia tradicional) com passa a ser uma inimiga do conhecimento e da produção científica.

Para finalizar, a situação da escola da modernidade é tal que hoje parece que não há mais saída para superarmos esse sistema de educação. O modelo da escola está tão enraizado e tomado como “verdade” que até mesmo a sociedade passou a advogar pela sua continuidade. Cabe a nós, como educadores, tentar mudar a realidade – e cabe a todos nós, cidadãos, tentar educar ainda mais nossas comunidades. Tudo com o objetivo de tornar a sociedade mais igualitária, livre e participativa.

*Graduando em Pedagogia (Licenciatura) pela Universidade do Estado de Minas Gerais.


Imagem de destaque: Riley McCullough / Unsplash

 

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