Se Bolsonaro soubesse ler

Dalvit Greiner de Paula

Deparei-me, hoje, com o mais recente número da revista da National Geographic, o número 230 de maio de 2019. Lá na página 19 está o motivo desse texto: Explosão da ciência na China e nos Estados Unidos. Mas, se Bolsonaro soubesse ler perceberia que a grandeza desses dois países explica-se, em muito, não pelo apoio, mas pelo fazer ciência. Onde? Na Universidade. A ciência estatal faz a grande China de hoje. O problema é que a China é comunista e, como Bolsonaro não sabe ler, imagina que é uma péssima ciência e que não serve para nada, nem a ninguém.

As universidades respondem por 62% das pesquisas. Depois 28% da pesquisa é estatal. O restante dez por cento está na mão de ONG’s e outros organismos. Portanto, nada impede que a iniciativa privada também faça a sua pesquisa. Aliás, o que as empresas fariam de melhor, se soubessem produzir e usar o conhecimento seria pesquisar, em parceria ou não, com as escolas de qualquer nível ou grau. A pesquisa chinesa responde por 24% da pesquisa mundial e toda ela é universitária e estatal. A pesquisa estadunidense é também universitária com alguma contribuição estatal. A pesquisa em ONG’s é maior na Alemanha. Mas, o gráfico não nos mostra os resultados em Ciências Humanas e é aí que a direita pega uma informação desconhecida e cria argumentos falaciosos. Se Bolsonaro soubesse ler veria que, praticamente, não existe pesquisa privada no mundo.

Ler o gráfico é muito interessante. A maneira como a pesquisa foi colocada no gráfico mostra de onde ela surge e como ela se manifesta. Como já disse a ciência surge na universidade e nos organismos estatais de EUA, China, Alemanha, França, Reino Unido, Japão e Suiça. São os maiores pesquisadores e para quem sabe ler, vê-se que ali estão cinco dos  componentes do G7 da economia mundial. Não é à toa! Na outra ponta, a quantidade de artigos publicados as Ciências Biológicas acumulam 36%, Ciências Físicas são 34%, ou seja, 70% do conhecimento produzido. Isso vira dinheiro, qualidade de vida e, claro, lixo e desequilíbrio ambiental e social. Mas, gera mais conhecimento e crescimento econômico. Crescimento que, se Bolsonaro soubesse ler, estaria perseguindo agora.

Os comentários ao lado do gráfico vão apresentando as decisões tomadas pelo governo chinês: inverteu a fuga de cérebros promovendo o retorno de 480 mil acadêmicos que atuavam no exterior em campos avançados do conhecimento; enquanto isso, em 2015 o Brasil perdeu quase 50 mil. A Academia de Ciências da China é totalmente financiada pelo governo e responsável pela maioria dos grandes laboratórios do país. Então é preciso fazer a pergunta ao contrário: quantos cérebros não perderemos com o governo Bolsonaro; quantos laboratórios não estão sendo fechados e serão imediatamente fechados no Brasil? Então chegamos àquela conclusão óbvia: o mundo desenvolvido virá buscar nossos cérebros e montará maiores e melhores laboratórios para desenvolver mais e melhor ciência em seus países.

A necessidade de fazer pesquisa de um país está ligada à sua existência. O Brasil demorou a fazer pesquisa e valorizar seus cérebros. Algumas de nossas maiores conquistas científicas se deram na Europa: Santos Dumont e Oswaldo Cruz são os melhores exemplos. O Brasil nunca se aproveitou da fuga de cérebros europeus em função das suas guerras para constituir uma universidade envolvida na pesquisa. Quando começou a implementar a pós-graduação e aumentar a pesquisa nos anos 1970, sob governos militares, começou também a perder mais e mais cérebros. Suas pesquisas não encontravam apoio e financiamento em Pindorama e convidados por institutos melhor financiados por seus governos, migraram para outras terras. Perde-se muito dinheiro com essa fuga de cérebros. Toda a sociedade perde.

Por isso é preciso gritar aos quatros cantos. Não é uma questão de sobrevivência pessoal, da minha pesquisa, da minha bolsa e outras vaidades mais. É a perda de um país, a perda imediata de uma geração inteira que hoje está nas universidades fazendo pesquisa. Mais do que exigir uma bolsa é preciso exigir um projeto de ciência para o país. Um projeto que pense laboratórios – inclusive de Arte e Ciências Humanas – por todo o país em todas as escolas públicas de todos os níveis: do fundamental ao universitário.

Devemos todos ir às ruas porque Bolsonaro não sabe ler. Nós sabemos e temos uma obrigação com a Sociedade.


Imagem de destaque: Clker-Free-Vector-Images / Pixabay

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