Revisitar os estudos sobre a docência – parte I

Roberto Rafael Dias da Silva

Na abertura de uma conhecida coletânea sobre o trabalho docente, Tardif e Lessard produzem algumas reflexões sobre o cenário atual de uma “evolução geral do ensino”. Ao longo dos últimos cinquenta anos, a sociedade passou a exigir “uma formação cada vez mais longa, tanto no plano das normas que regem a organização da vida social e o exercício da cidadania, quanto no plano dos saberes e competências necessárias para a renovação das funções socioeconômicas”. Em face dessas mudanças, as condições para o exercício da docência foram alteradas, movimentando-se na direção de sua profissionalização. A docência torna-se uma atividade especializada e complexa na qual, segundo os sociólogos canadenses, “passou definitivamente a época em que bastava conhecer os rudimentos de uma matéria e algumas receitas para controlar alunos turbulentos, para obter o título de professor”. O exercício da docência ingressa em novas configurações.

No decorrer dos anos de 1980, a partir de um conjunto de transformações sociais, culturais e econômicas, o trabalho docente é redimensionado nas tramas das políticas neoliberais. Responsabilização, descentralização e avaliação de desempenho são concepções que ingressam na agenda das novas políticas dirigidas aos professores. Em aproximação aos autores, por exemplo, “outrora concebida como um serviço público, a educação é doravante, cada vez mais, considerada como um investimento, o que se traduz por medidas e exigências novas em relação aos professores”.

Ainda que seja uma profissão antiga, a docência tem sido situada como um “setor nevrálgico” nas novas economias. Em condições bastante diversificadas, conforme a Unesco, no final do último século já haviam mais de 60 milhões de professores atuando profissionalmente em todo o mundo. Outro aspecto que merece ser destacado refere-se a ampliação dos orçamentos nacionais com despesas em educação, ou mesmo a democratização do acesso a escolarização básica em países tidos como emergentes. A partir dessas ponderações, os sociólogos argumentam ainda que “os agentes escolares constituem, portanto, hoje, tanto por causa de seu número como de sua função, uma das principais peças da economia das sociedades modernas avançadas”. A profissão docente em nosso tempo é situada em dimensões econômicas; entretanto, importa reiterar também sua centralidade política e cultural.

            Tal centralidade, conforme variados campos teóricos, decorre da generalização das instituições escolares nas diferentes sociedades. Em suas palavras, “longe de se desfazer com o tempo, constata-se que esse modo de socialização e formação, que chamamos de ensino escolar, não para de expandir-se, ultrapassando em muito as instituições que lhe serve historicamente de suporte, ou seja, a escola”. Paradoxalmente, nunca se falou tanto em crise da escola. Remetendo-se ao contexto britânico, Robert Moon assinala que essa condição atravessa os próprios processos de formação de professores de seu país. Em sua percepção, o fato das escolas de formação de professores terem surgido na Inglaterra, no ano de 1798, no bairro londrino de Southwark é exemplar dessa condição. Em sua argumentação, “o fato de que foi Southwark e não Oxford que viu nascer a formação de docentes explica uma parte dos problemas com os quais os formadores se defrontam até hoje, principalmente a falta de credibilidade, a penúria de competências entre os estudantes, assim como as ambiguidades de um programa de estudos que mistura educação pessoal e formação profissional”.

O exemplo apresentado por Moon serve para evidenciar os modos pelos quais, ao longo do tempo, a formação de professores esteve distante das tradições universitárias consideradas como de “excelência”. Dessa forma, um paradoxo que gostaria de problematizar diz respeito aos modos pelos quais os cursos superiores destinados para professores foram sendo desenvolvidos em centros acadêmicos pouco reconhecidos internacionalmente. Ainda que tenha sido construída no final do século XX uma forte retórica acerca da formação de professores, faz-se importante apontar que seus cursos ainda são muito recentes e estão longe de ter uma origem acadêmica “nobre”. Apesar disso, foram inúmeros os esforços para conduzir as possibilidades de formação docente através do conceito de “desenvolvimento profissional”, que exploraremos em nossa próxima coluna.

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