Resistências, contracondutas e o filé alagoano – Roberto Rafael Dias da Silva

Resistências, contracondutas e o filé alagoano

Roberto Rafael Dias da Silva

As condições sociais e políticas de nosso tempo, muitas vezes, colocam-nos em uma condição paralisante. Tal condição poderia ser expressada tanto nos limites de uma aceitação resignada das formas de vida hoje experienciadas, quanto nas variadas formas de denuncismo que vemos proliferar nas ruas e nas redes sociais da atualidade. Os professores veem sua condição profissional sendo “domada”, valendo-me da expressão de Simons e Masschelein, tanto no ponto de vista de sua conduta profissional, quanto recentemente em suas possibilidades de exercer um uso público de sua razão. Tornou-se exemplar, em variadas regiões de nosso país, a promulgação de leis, decretos e outras estratégias que tendem a silenciar a ação, a voz e a sensibilidade política dos profissionais da educação. Porém, caberia interrogar: poderíamos ultrapassar os limites estabelecidos a nossas condutas? Desejaríamos promover reações críticas aos múltiplos modos de regulação de nossas práticas profissionais? Apostamos em novos modos de experiência, mais críticos e cooperativos?

Sem dúvida, é necessário resistir! Em tempos de intensificação dos pressupostos de uma “sociedade da decepção”, de que nos fala Lipovetsky, constata-se uma proliferação das formas de individualização das responsabilidades, de descrença nas instituições públicas ou mesmo de ocaso de muitas narrativas compartilhadas. Todavia, com maior ou menor força, há núcleos de resistência a serem cartografados, explorados e compreendidos, que extrapolam os quadriculamentos da resignação passiva ou do reclamismo descoordenado. Buscarei, nesse momento, duas ideias que podem nos auxiliar a seguir pensando alternativas políticas, quais sejam: o conceito de contraconduta de Michel Foucault e a técnica do “bordado filé”, amplamente conhecida e divulgada como patrimônio imaterial do Estado de Alagoas.

Primeiramente, com a leitura de Foucault, em seus escritos do final da década de 1970, aprendi que se faz possível permanecer no campo da crítica sem proposições reformistas ou revolucionárias. Isso pode significar que, mais que mera advertência, a contraconduta supõe que podemos seguir pensando nas margens da política, que é necessário promover “pequenas infrações sistematizadas” e, mais que isso, que podemos compreendê-las como “luta contra os procedimentos postos em prática para conduzir os outros”. Sob o regime das contracondutas nossa militância é agonística, no interior das próprias políticas e do exercício profissional, fabricando uma leitura mais aberta a novos delineamentos, abrindo espaços para a possibilidade de novas estratégias coletivas e outras interpretações críticas sobre o mundo.

A segunda ideia que gostaria de explorar, enquanto metáfora política, advém de alguns insights que obtive observando uma técnica artesanal típica de Alagoas, ainda que possua origens europeias. O “filé alagoano”, reconhecido como patrimônio cultural e fonte de emprego e renda para inúmeras famílias brasileiras, é uma técnica de bordado construída a partir de uma rede ou malha, com pequenos espaços, que serve de base para a trama dos fios. Desenvolvido por artesãs da região das lagoas Mundaú e Manguaba, sua base é semelhante a uma fina rede de pesca e é construída em duas etapas: primeiro, constrói-se uma rede – quadricular, pequena e com espaços milimetricamente delimitados – e, a seguir, pontos coloridos e variados passam a preencher a malha reticular atribuindo-se formas diferenciadas, caraterizadas pela expressão visual, pela sentimentalidade e, mais que isso, pela singular beleza. Considero o “filé alagoano” enquanto uma metáfora política, uma estratégia de contraconduta, no sentido de que nos permite seguir projetando formas de vida para além dos quadriculamentos que as malhas reticulares possam nos impor. Mas, em que as contracondutas de Foucault e a técnica do bordado filé nos auxiliam a pensar a educação de nosso tempo?

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