Rasgando as origens, reinventando o passado, construindo uma “nova história"

Valeska Francener da Luz*

Nasci no ano de 2000, a conhecida década da revolução tecnológica. De fato, observando os relatos e depoimentos das décadas anteriores, digo que tivemos um grande desenvolvimento tecnológico. Não vivenciei a década de 1990 para contar, então, esse relato, será feito tendo como marco o ano 2000; a partir desse ano é que posso compartilhar períodos da infância, da adolescência e da vida adulta. É notável observar o amadurecimento de pensamentos, posicionamentos e outros fatores importantes.

O período de infância, com certeza é um grande marco na vida de qualquer pessoa: são poucas as lembranças, mas quando lembradas, trazem distintas emoções. Não sou diferente; minhas lembranças são mais voltadas aos acontecimentos recentes. Não me adequei a creches, logo, minha irmã mais velha, conhecidos e vizinhos cuidavam de mim durante o dia. Também, meus pais alternavam os turnos de trabalho entre si, para cuidarem de mim e de minha irmã.

Um fato marcante deste momento foram as idas e vindas, nas quais eu acompanhava meus pais: eles não tinham carro e se locomoviam pela cidade com as suas bicicletas. Algumas dessas vezes prendi o pé, nos raios da bicicleta e lembro do carro de bombeiros parado na rua. Anos mais tarde, como ironia, pela mesma razão, passeando com minha irmã, ganhei a cicatriz que tenho no tornozelo.

Quando iniciei na escola, no primeiro ano do Ensino Fundamental, o interesse em aprender foi despertado. Essa memória, de aprender a ler e escrever na minha infância, marca a vivência com minha irmã, afinal, eu queria saber tanto quanto ela, nessa fase da vida. O primeiro dia de aula com certeza é um momento único, prazeroso e repleto de emoções. Meus pais, por conta do trabalho, não puderam me levar até a escola. Lembro do sentimento de “solidão” que vivi naquele instante, vendo os pais de alguns de meus coleguinhas, que choravam. Com o tempo tudo se tornou normal e de certa forma prazerosa, pois se iniciou o processo de independência. Os demais anos das séries iniciais do Ensino Fundamental, foram com certeza, uma experiência única, desde aprender a ler e escrever até entender as regras de multiplicação, da divisão e do convívio com os colegas.

O início do segundo ciclo do Ensino Fundamental marcou uma nova etapa: todos afirmavam que as coisas ficariam mais difíceis, pois eu deixaria de ser criança, mas também não era adulta ainda. A Matemática começou a fazer sentido, pois iniciei um projeto que utilizava dobraduras de papel para ensinar a Geometria Básica. Sem imaginar, foi ali que comecei a amar as “Feiras de Ciência/Matemática”. Foi a primeira participação em eventos, representando a escola nos municípios de Jaraguá do Sul e Piratuba, ambos catarinenses.

Os últimos anos do ensino fundamental, sem dúvida alguma foram um marco em minha história acadêmica. Foram vários acontecimentos que evidenciam o alicerce, minha base de saberes. O professor de matemática, em uma reunião de pais, chamou meus pais para conversar: e o mais incrível é que o motivo não eram notas baixas e nem mau comportamento. Ele disse que eu tinha um ótimo desempenho e que poderia fazer o Ensino Médio no Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), pois essa instituição possuía o Ensino Médio Integrado ao Ensino Técnico em Química. Com o intuito de seguir o conselho do professor, fui me preparando para a prova, que realizei no segundo semestre de 2014, apenas para treinar.

Para ocupar as tardes livres, fazia robótica e essa era uma atividade extracurricular ofertada pela escola Municipal na qual estudava. Por meio do projeto realizado, participei da Feira de Iniciação Científica Antônio Ayroso (FICAA); essa feira de ciências deu origem a Feira Brasileira de Iniciação Científica (FEBIC). Tal fato evidenciou uma afinidade com eventos deste tipo, pois foi meu primeiro contato com a iniciação científica e o conhecimento do que era uma feira de ciências.

Realizei a prova do IFSC no final de 2014, para ingressar no primeiro semestre de 2015, foram 15 candidatos por vaga, e consegui acertar um número suficiente de questões para ocupar uma delas. Sem dúvida nenhuma, foi a melhor escolha de minha vida, até o momento. Os IF’s são instituições responsáveis pela Educação Técnica de Nível Médio e esta é uma das modalidades de educação previstas pela Lei nº 11.741/2008. Entre os anos de 2001 a 2013 o total de matrículas nesta modalidade de ensino cresceu cerca 129,7%. Tais dados mostram uma grande expansão nos últimos anos, graças às políticas públicas e investimentos federais, implementadas a partir de 2008, que visavam proporcionar mais oportunidades educacionais. Ouso dizer, que devido a essa expansão, conquistei esta vaga. Foi no IFSC,que aprendi a lidar com meus sentimentos, a entender meus limites, a ver o mundo com o olhar diferente e a apaixonar-me pela química e pela pesquisa científica. Além disso, esta instituição me fez entender o meu papel como ser político.

Um grande impacto político que pude presenciar foi o impeachment da Presidenta Dilma, no ano de 2016. Acredito que foi de extrema importância passar por esse momento. Este movimento gerou debates em sala de aula: ouvir pessoas de esquerda e direita me despertou para a importância do ser político. O IFSC me proporcionou mais que aulas de química. Introduziu-me a arte prática da pesquisa e claro como consequência, o envolvimento com eventos científicos. São vários os momentos marcantes neste local, impossível descrever todos.

Dois fatos que, no momento, observo que foram os principais para querer cursar Licenciatura em Química: o primeiro está relacionado às pesquisas que realizei e o quanto isso me qualifica na escrita, na oralidade, no exercício profissional e na vida. Pesquisas são “certezas de incertezas”, por mais que você tenha certeza de sua metodologia, sempre haverá uma incerteza ou erros durante o processo de desenvolvimento. A questão limitadora nesta prática era a incerteza financeira: por diversos momentos do curso, tinha a vontade, o desejo, o tempo livre, mas não era possível, pois “as universidades federais tiveram em 2017 o menor repasse de verbas em sete anos” (MOREIRO, 2018).

O segundo fato, consiste no meu envolvimento com os eventos científicos, durante meu curso no IFSC. Pude participar de vários eventos, em especial, a FEBIC na qual fui expositora, voluntária e agora faço parte da coordenação de organização do evento. Poder proporcionar esse momento de conhecimento para demais estudantes, me incentiva na caminhada de fazer pesquisa.

Pensar que comecei com conselho inicial do professor de matemática e prossegui com o conselho de um professor, desta vez formado em Engenharia Química, a ingressar no Ensino Superior no IFC é fascinante e revela a importância desse profissional em nossa trajetória educacional. O projeto de vida atual é encerrar a Licenciatura e posteriormente cursar o Bacharelado em Química. A Licenciatura para vivenciar com os demais estudantes a essencialidade desse conhecimento e exercitar a prática docente. Já o bacharelado, para agregar a química industrial ao meu conhecimento, para desbravar noções ainda desconhecidas.

Como na educação os tempos nunca são pacíficos e tranquilos e vive-se somente sob a égide de desafios, lidamos mais precisamente no atual projeto de governo com ameaças de corte de recursos para universidades, bem como seu “fechamento”para os mais pobres. Isso me conduz a encerrar esse relato agradecendo todos os professores que me ensinaram durante essa jornada, em especial, aos que de alguma maneira, construírama pessoa que sou hoje e a dizer como cidadã da necessidade de relacionar esperanças com a oportunidade. Isso é dever da nação e ela o cumpre quanto investe em políticas públicas sólidas para a educação.

* Licencianda em Química pelo Instituto Federal Catarinense (IFC) – Campus Araquari/SC e Técnica em Química pelo Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) – Campus Jaraguá do Sul/SC.


Imagem de destaque: 11ª edição do Torneio de Robótica em Brasília. Foto: José Cruz/Agência Brasil

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