Que Moral? Que civismo?

Por uma educação política, ética e democrática!

Editorial do Jornal Pensar a Educação em Pauta nº190

Toda a Educação sempre foi, até hoje, educação moral! Toda a educação escolar sempre foi, até hoje, educação moral e cívica! Historicamente não parece ter havido, no mundo ocidental, experiência de educação que não tenha sido um modo de inculcar nas novas gerações os valores, sensibilidades e comportamentos próprios ao governo da vida, seja por si mesmo seja, sobretudo, pelos outros. Centradas em seus próprios valores e regras comportamentais, as famílias e/ou comunidades sempre buscaram integrar, com maior ou menor sucesso,  as crianças e jovens ao convívio social. Para isso, sempre se valeram dos casos exemplares, seja como modelos de comportamentos seja como bodes expiatórios.

Do mesmo modo, quando se fala em escola, a sua configuração institucional na modernidade sempre esteve atrelada aos valores e regras de comportamento oriundos dos grupos sociais médios e superiores, que nunca deixaram de considerar a si mesmos como exemplos para os demais.  De outra parte, a escola é também, devedora de seu pertencimento ao mundo urbano e à expansão dos ímpetos e interesses dos grupos dirigentes dos estados nacionais. Deriva, daí, uma educação moral familiarista e uma educação cívica profundamente nacionalista e, no mais das vezes, autoritária e militarizada, em que os supostos valores e interesses familiares e pátrios deveriam estar na base da educação.

Em nossa experiência histórica de escola, a educação moral e cívica tem sido profundamente devedora do ambiente doméstico, cristão, branco, masculino. Por meio dela que vários grupos, notadamente aqueles com pendor nacionalistas e autoritários, têm buscado legitimar regras de comportamento e modos de pensar que não ponham em risco seus próprios privilégios e a reprodução das desigualdades que nos marcam.

Apesar de estar presente ao longo de toda a história da escola, é nos momentos de maior autoritarismo e de recuo dos valores democráticos que a educação moral e cívica é mobilizada. Nestes momentos ela é uma bandeira importante para os grupos nacionalistas e autoritários brandirem suas armas por uma escola que combata a degeneração dos costumes e dos valores nacionais e familiares. Deste ímpeto nacionalista e autoritário resulta o esvaziamento, na escola, das promessas de uma educação moral e cívica pautada em valores democráticos e respeitosa das diversidades que nos constituem.

Mais do que dar aulas de moral e cívica, nossas escolas poderiam ser centros de aprendizagem da ética e dos princípios republicanos e democráticos que seriam capazes de fundar novas relações das crianças consigo mesmas e com os outros, no ambiente privado de suas casas e, sobretudo, no espaço público. Ou seja, é preciso retirar a discussão sobre as civilidades de seu arcabouço moral e deslocá-la para a discussão política. É de política – como a capacidade humana de projetar e realizar novos e ricos arranjos societários, plurais, democráticos, de respeito e promoção das diversidades – que mais precisamos hoje. Uma tal política vai na contramão daquilo propõem os defensores da educação moral e cívica na escola. E é por isso também que devemos combatê-los!

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Que Moral? Que civismo?

Por uma educação política, ética e democrática!

Toda a Educação sempre foi, até hoje, educação moral! Toda a educação escolar sempre foi, até hoje, educação moral e cívica! Historicamente não parece ter havido, no mundo ocidental, experiência de educação que não tenha sido um modo de inculcar nas novas gerações os valores, sensibilidades e comportamentos próprios ao governo da vida, seja por si mesmo seja, sobretudo, pelos outros. Centradas em seus próprios valores e regras comportamentais, as famílias e/ou comunidades sempre buscaram integrar, com maior ou menor sucesso,  as crianças e jovens ao convívio social. Para isso, sempre se valeram dos casos exemplares, seja como modelos de comportamentos seja como bodes expiatórios.

Do mesmo modo, quando se fala em escola, a sua configuração institucional na modernidade sempre esteve atrelada aos valores e regras de comportamento oriundos dos grupos sociais médios e superiores, que nunca deixaram de considerar a si mesmos como exemplos para os demais.  De outra parte, a escola é também, devedora de seu pertencimento ao mundo urbano e à expansão dos ímpetos e interesses dos grupos dirigentes dos estados nacionais. Deriva, daí, uma educação moral familiarista e uma educação cívica profundamente nacionalista e, no mais das vezes, autoritária e militarizada, em que os supostos valores e interesses familiares e pátrios deveriam estar na base da educação.

Em nossa experiência histórica de escola, a educação moral e cívica tem sido profundamente devedora do ambiente doméstico, cristão, branco, masculino. Por meio dela que vários grupos, notadamente aqueles com pendor nacionalistas e autoritários, têm buscado legitimar regras de comportamento e modos de pensar que não ponham em risco seus próprios privilégios e a reprodução das desigualdades que nos marcam.

Apesar de estar presente ao longo de toda a história da escola, é nos momentos de maior autoritarismo e de recuo dos valores democráticos que a educação moral e cívica é mobilizada. Nestes momentos ela é uma bandeira importante para os grupos nacionalistas e autoritários brandirem suas armas por uma escola que combata a degeneração dos costumes e dos valores nacionais e familiares. Deste ímpeto nacionalista e autoritário resulta o esvaziamento, na escola, das promessas de uma educação moral e cívica pautada em valores democráticos e respeitosa das diversidades que nos constituem.

Mais do que dar aulas de moral e cívica, nossas escolas poderiam ser centros de aprendizagem da ética e dos princípios republicanos e democráticos que seriam capazes de fundar novas relações das crianças consigo mesmas e com os outros, no ambiente privado de suas casas e, sobretudo, no espaço público. Ou seja, é preciso retirar a discussão sobre as civilidades de seu arcabouço moral e deslocá-la para a discussão política. É de política – como a capacidade humana de projetar e realizar novos e ricos arranjos societários, plurais, democráticos, de respeito e promoção das diversidades – que mais precisamos hoje. Uma tal política vai na contramão daquilo propõem os defensores da educação moral e cívica na escola. E é por isso também que devemos combatê-los!

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