Quando todas as escolas de ensino médio se tornam iguais

Roberto Rafael Dias da Silva

Michael Stone poderia ser considerado como uma celebridade no mundo corporativo devido a suas obras na área de atendimento ao cliente. Na condição de ícone de uma nova forma de gestão, Michael viaja para Cincinatti, nos Estados Unidos, onde proferiria uma palestra referente ao lançamento de um de seus livros. É neste cenário que o roteirista Charlie Kaufman situa sua animação “Anomalisa”, apresentada ao público no ano de 2015.

Chama a atenção na narrativa apresentada por Kaufman que seu personagem principal não somente deixa de encontrar sentido no que faz, como também, em decorrência disso, passa a notar que as vozes de todas as pessoas tornaram-se iguais. De seu filho aos atendentes do hotel ou mesmo aqueles que se tornariam seu público, todos falam com o mesmo tom de voz. O que quebra o artificialismo da situação de Michael Stone é a chegada de Lisa – tímida, desajeitada e com uma voz mais estridente. Enfim, Lisa converte-se em uma anomalia no mundo de iguais, por isso: “Anomalisa”.

Não pretendo seguir contando a história do filme até o seu final, nem mesmo avaliar a qualidade do seu enredo ou de sua edição. Também não interessa aqui examinar criticamente o potencial do filme para pensar sobre as subjetividades contemporâneas. Considero “Anomalisa” – esta grande animação de Charlie Kaufman – como uma metáfora para pensar as pedagogias contemporâneas; sobretudo aquelas que se propõem a inovar a escolarização juvenil.

Comentando a obra de Kaufman, o filósofo Byung-Chul Han (2017) provoca-nos a pensar que a Contemporaneidade, por variáveis diversas (sobretudo econômicas), contribui para uma “expulsão do diferente”. Por meio de seu excesso de positividade, a sociedade contemporânea tem optado por “atrações em série”, na qual os indivíduos “curtem” variadas experiências por meio de suas escolhas individuais. Todavia, em sua percepção, a individualização demasiada conduz à padronização, isto é, parece que “nosso horizonte de experiências se torna cada vez mais estreito” (HAN, 2017, p. 12). Tal como a animação referida, argumenta o pensador que se engendra uma “proliferação do igual” (p. 18). Os indivíduos escolhem as suas formas de intervenção no mundo de maneira autorreferenciada.

Quando deslocamos esse conjunto argumentativo para as escolas de Ensino Médio e seus currículos constatamos inúmeras convergências. Tais currículos escolares converteram-se em programas de customização, de mobilidade ou mesmo de inovação pedagógica. Instaura-se um “currículo do curtir”, no qual os jovens escolhem/“curtem” suas experiências formativas sem um quadro mais ampliado de possibilidades de construção coletiva para uma vida democrática. Por outro lado, parece que todas as escolas estão assemelhando-se muito rapidamente, isto é, estamos nos deslocando para um cenário de indistinção entre as propostas pedagógicas das variadas redes de ensino. E o que acontece quando todas as escolas de ensino médio tornam-se iguais? Como pensar um currículo no qual o único princípio organizativo é a capacidade de escolha dos jovens? O excesso de individualização conduz a intensa padronização subjetiva?


Referência:

HAN, Byung-Chul. La expulsión de lo distinto. Barcelona: Herder, 2017.

Imagem de destaque: Paramount Pictures

http://www.otc-certified-store.com/animal-health-medicine-usa.html https://zp-pdl.com zp-pdl.com

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *