Quando a escrita nasce da dor: minha leitura de O pai da menina morta

Alexandra Lima da Silva

Uma das minhas leituras de férias em janeiro foi o romance O pai da menina morta, de Tiago Ferro. Naquele momento, aquela ainda não tinha sido uma “leitura de quarentena”. Eu apenas queria ler um livro que não tivesse relação com os temas de meu projeto de pesquisa. Eu queria ler algo que me impactasse, que me fizesse não querer parar de ler o livro até o final. E assim foi. Mas também foi uma leitura difícil. Não foi prazerosa. Porque é muito difícil sentir prazer num livro que nasceu de uma dor incurável, que é a dor de perder uma filha.

Eu nunca tive filhos. Então, eu nunca senti a dor de perder um. Mas eu imagino que essa seja uma dor imensurável.  Insuportável. Lembro que fiquei muito impactada após a leitura de Só as mães são felizes, de Lucinha Araújo, a mãe de Cazuza. Pais e mães podem ficar “órfãos”? O autor também traz o luto de outros pais que perderam seus filhos: Eric Clapton, Carlos Drummond de Andrade, Hermann Kafta. Como seguir vivendo após se tornar aquilo que ninguém deseja ser?

A respeito de O pai da menina morta, Beatriz Sarlo escreveu que o autor “escreve sobre a ausência”. Ouso discordar. Ele escreve sobre algo muito presente, e que para sempre o acompanhará: a dor. A escrita que nasceu da dor tem a função de trazer de volta a filha, morta aos oito anos. Ela morreu de uma gripe. Ele viu o momento exato em que a filha parou de respirar. E virou notícia. “Foi uma das vítimas da gripe H1N1”. Mas ela não era um número para o pai, para a mãe e para a irmã. Era uma pessoa. Ela tinha um nome. Tinha um brinquedo favorito. Tinha manias. Uma vida que apenas começava. Era a esperança. A alegria morreu no dia 26 de abril de 2016. Naquele dia, ele se tornou alguém que ninguém deseja ser. Ninguém deseja ser o pai da menina morta: “Eu não quero ser O pai da menina morta. Eu sempre serei o pai da menina morta. Não estou procurando ou exigindo qualquer tipo de justiça. Eu simplesmente aceito a dor aguda na ausência”.

Referências:

 FERRO, Tiago. O pai da menina morta. São Paulo: Todavia, 2018.

ARAÚJO, Lucinha. Cazuza, só as Mães São Felizes. São Paulo: Editora Globo, 1997.

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