Protagonismo estudantil na América Latina – exclusivo

José Rubens Lima Jardilino

Estive neste fim de ano em Puerto Vallarta, na costa pacífica mexicana, participando de um congresso da Sociedade de História da Educação Latino-americana (SHELA). Em meio às muitas mesas e discussões sobre as pesquisas desse campo investigativo, destacava-se um simpósio, realizado pela Mesa n.5, que tratava da História da Formação de Professores/as e as Escolas Normais na América Latina. O destaque justificava-se por duas razões. A primeira diz respeito ao fato de a “Escola Normal”, na América Latina de fala hispânica, ser ainda hoje, por excelência, a instituição formadora de professores/as para a Escola Básica; em alguns países, a única. A segunda razão relaciona-se com o massacre de estudantes da Escola Rural de Ayotzinapa, ocorrido em 26 de setembro, na cidade de Iguala da Independência, cidade histórica do Estado de Guerrero, no México. Na sala, um público atento e politicamente muito informado ouvia as experiências e narrativas sobre a vida dessa instituição, espalhada pela “Pátria Grande” – como gostava de dizer José Martin “nuestra” América. Era um grupo de estudantes das Escolas Normais rurais da região.

O debate era efervescente. Cada fala concluída suscitava um par de questões sobre a política dos países participantes quanto à formação de professores e à respectiva atenção aos direitos garantidos por nossas frágeis democracias. Foram assim os três dias do evento.

Lamentavelmente, os diretivos da SHELA, do alto de sua insensibilidade – desconheço motivos mais pertinentes – recusaram qualquer expressão oficial, no formato de monção ou de “Carta de Puerto Vallarta”, de solidariedade aos jovens/mártires (possivelmente) de “nuestra pátria grande”. Cabia, obviamente, naquela oportunidade, repudiar a brutalidade dos governos latino-americanos que falam em tolerância, democracia e liberdade, mas que, por trás da impunidade dos poderes políticos, massacram jovens cheios de desejos e sonhos.       

No Brasil, a repercussão do caso foi ínfima, mesmo no meio acadêmico. Enquanto no mundo de fala hispânica reverberava esse atentado aos direitos humanos e à democracia, que chocou o mundo inteiro, em especial, por tratar-se de estudantes em preparação para serem professores no meio rural, nós aqui estávamos na arena da campanha para presidente, e, infelizmente, os jornais dedicaram pouco atenção ao caso.

O movimento estudantil mexicano é conhecido pela sua luta em prol de direitos. Na verdade, ofensas contra os direitos humanos repetem-se na história do México.

Em 1968, por ocasião dos Jogos Olímpicos, os estudantes da UNAM sofreram agressões e restrições quando o exército invadiu a universidade. A isso se somou uma onda de manifestações, embalada pela liderança do movimento estudantil que desaguou na fatídica noite de 2 de outubro, quando na Plaza de las Tres Culturas, em Tlatelolco, ao pôr-do-sol, as forças da polícia e do exército mexicano, armadas até os dentes como se fora uma guerra, massacraram uma multidão de jovens universitários que lutava por direitos sociais.

O que muda de Tlatelolco a Ayotzinapa? Talvez o nível escolar em que esses estudantes estavam: no primeiro caso, eram alunos da universidade; no segundo, eram jovens/adolescentes de uma Escola Normal Rural. Todavia, a truculência do Estado mexicano foi a mesma.

A força que irrompe da Juventude nesses lugares estrangeiros nos leva a pensar sobre o movimento estudantil no Brasil. Tivemos recentemente um movimento de protesto de demanda social, que, muito disperso, aproximou-se de outras experiências de movimentos na Europa, e distanciou-se dos seus pares da América Latina. Aqui, embora não se possa afirmar que o movimento tenha sido protagonizado apenas por estudantes, a juventude foi expressiva. Guardando as devidas diferenças das temáticas em pauta: as de lá expressando uma luta, ideologicamente dirigida por direitos sociais negados; as de cá, um movimento, ideologicamente disperso de protesta social, sem definição e sem foco, como muito bem se expressam as sociedades pós-modernas, podemos chamar ambos de protagonismo da juventude? Ou expressões do Movimento Estudantil na América Latina?

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