Problematizações curriculares III – protagonismo juvenil

Roberto Rafael Dias da Silva

Fonte: Armandinho

Ao longo deste semestre tenho dedicado atenção em construir problematizações em torno dos conceitos estruturantes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Após termos examinado as noções de projetos de vida e competências socioemocionais, neste mês daremos um passo adiante e tomaremos como foco o protagonismo juvenil. Nossa intenção se encontra na possibilidade de realizar uma leitura crítica e criativa deste conceito, sinalizando para a dimensão individualizante de sua forma curricular materializada na BNCC e, ao mesmo tempo, sua potencialidade para a construção de escolas democráticas. Cada tópico versará sobre nuances específicas desta crítica curricular.

  1. Etimologicamente, a palavra “protagonista” tem uma origem grega e referia-se àquele que combate na primeira fila ou mesmo que conquista a primeira posição. No início da Modernidade passou a designar o principal competidor em jogos públicos, o que incluiria, de certo modo, a política, o direito, as artes, os debates e processos públicos. Será somente no século XX que a palavra ingressará no vocabulário político indicando as atitudes de seus principais atores.
  2. Após os movimentos derivados do Maio de 1968, no Ocidente, constatamos uma utilização mais significativa do vocábulo “protagonismo juvenil”. Importante destacar que os setores estudantis, as pastorais católicas (em especial a pastoral da juventude – PJ) e os movimentos sociais logo perceberam a potencialidade política do conceito e disseminaram amplamente a sua utilização como ferramenta de militância. Eram tempos de “jovens construtores de sua própria história”.
  3. Todavia, a partir da década de 1990, há uma mudança de ênfase no uso conceitual do protagonismo juvenil. O desemprego estrutural na América Latina, o declínio das instituições modernas ou mesmo o esvaziamento da arena política deram condições para um novo modelo de cidadania, no qual os cidadãos precisariam atuar nos espaços deixados pela retração da esfera de atuação do Estado. O protagonismo deslocou-se para o âmbito da atuação individual e, nas palavras de Regina Souza, converteu-se em “ativismo privado”. O voluntariado entra em cena e, paradoxalmente, o jovem é visto como objeto de intervenção das políticas com foco no protagonismo.
  4. Será o protagonismo juvenil como ativismo privado que ingressará no debate curricular brasileiro e que se consolidará na BNCC. As conexões entre protagonismo juvenil, projetos de vida e educação integral serão efetivadas por meio de itinerários formativos. Tais itinerários serão um arranjo curricular alicerçado nas possibilidades de escolha pelos estudantes das experiências, conhecimentos e atividades que se ajustam ao seu perfil formativo. Objetivamente, na BNCC o protagonismo juvenil equivale a capacidade de escolha dos jovens.
  5. Importante salientar que não desejamos desprezar as oportunidades analíticas que este conceito oferece. Antes disso, reivindicamos uma retomada do potencial político da noção de protagonismo juvenil. Tal retomada implica em, pelo menos, três condições: a) evitar a redução dos projetos de vida à mera inserção profissional; b) qualificar as articulações entre conhecimentos e competências; c) trabalhar com processos de escuta e de negociação permanente. Tal como anunciamos na tirinha da Mafalda, na abertura deste texto, precisamos em nosso país seguir apostando nos pressupostos de uma educação democrática em que a escola possa seguir nos vacinando contra o despotismo!

Leia também:

Problematizações curriculares I – as competências socioemocionais

Problematizações curriculares II – os projetos de vida

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