Pós-graduação no Brasil: nos limites do modelo?

Pós-graduação no Brasil: nos limites do modelo?

A CAPES acaba de nomear os Coordenadores das diferentes áreas de conhecimento, os quais terão a atribuição de acompanhar os programas de pós-graduação e coordenar a realização da avaliação trienal da Pós-graduação no Brasil, o principal instrumento de  gestão  e de financiamento do sistema.

A avaliação do  triênio 2013-2015  encontra-se bastante atrasada, já que estamos caminhando para o final do segundo ano e somente agora foi disponibilizado aos coordenadores dos Programas o principal instrumento de coleta de informações sobre o trabalho realizado no ano passado – a Plataforma Sucupira. No decorrer do trabalho que se inicia,   os Coordenadores de Área e o gestores do sistema talvez tenham, também, que buscar saídas para os evidentes limites interpostos pelo modelo de pós-graduação à  pesquisa, à formação de recursos humanos de alta qualidade e, mesmo,  ao desenvolvimento das universidades no Brasil

A nossa  Pós-graduação é reconhecida como algo que “deu certo” no Brasil. Não há dúvida de que, capitaneadas pela Pós-graduação, nossas universidades e centros de pesquisa deram, nos últimos 50 anos,  um enorme salto de qualidade  tanto no que se refere à pesquisa quanto à formação de recursos humanos.  A Pós-graduação foi um instrumento fundamental para a institucionalização, profissionalização e estabilização das pesquisas nas universidades brasileiras e, do mesmo modo, constituiu-se em estratégia de sucesso na formação de professores, pesquisadores e profissionais altamente qualificados para a atuação nas próprias universidades e no sistema de C&TI que se constituiu no país no mesmo período.

No entanto, é visível que o modelo dá evidentes sinais de exaustão. De um lado, talvez pelo fato de, no Brasil, a institucionalização das próprias universidades como centros de pesquisa ter se confundido, no tempo, com a organização da Pós Graduação, é visível que esta última passou a ocupar um lugar de exagerado destaque nas instituições universitárias e nas políticas públicas de ensino superior no Brasil. O impacto disso no campo do ensino, que já era visível e denunciado por inúmeros professores e pesquisadores que salientaram a  reduzida importância da docência universitária nas políticas de avaliação do ensino superior, parece avançar cada vez mais para o conjunto da ação universitária. Se na ocasião de seu nascimento a pós-graduação era o lugar da criatividade e da invenção de novos arranjos institucionais, hoje, cada vez mais, temos que fugir da pós-graduação para sermos ousados institucionalmente e, pior ainda, no campo da própria pesquisa acadêmica.

Do mesmo modo, a sensação há muito vivida pelas ciências humanas e sociais a respeito do engessamento do modelo parece estar mostrando a sua face também para as outras áreas. Mesmo as áreas mais competitivas internacionalmente, por exemplo, parecem encontrar sérios obstáculos a uma efetiva internacionalização da pesquisa e de seu corpo docente e discente. Além disso, é preciso considerar, ainda, que tanto por obstáculos legais e institucionais quanto em razão do baixo prestígio internacional de nossas universidades, temos hoje grande dificuldade para atrair alunos e pesquisadores de várias partes do mundo.

Finalmente, mas não menos importante, há que se considerar que as políticas de pesquisa e pós-graduação, grandemente influenciadas pelo modelo de avaliação vigente, se, por um lado, lograram fazer aumentar a produção científica brasileira indexada, por outro lado parece ter conduzido  os programas e os pesquisadores a um “ensimesmamento” que dificulta enormemente os seus diálogos com as necessidades da população que os mantêm.

É necessário, pois, que os novos coordenadores da área retornem às perguntas primeiras, aquelas que em meados do século passado levaram nossos melhores intelectuais e cientistas a  pensarem e projetarem , como resposta, a pós-graduação como um lugar em que a institucionalização e a profissionalização não estariam na contramão da ousadia e da criatividade e do desenvolvimento científico, tecnológico, econômico e social do país.  Sem esse retorno ao fundamental, corremos o risco de asfixiarmos não apenas as nossas universidades, mas também os nossos melhores e mais promissores cientistas, tanto aqueles que já se encontram nos programas de pós-graduação quanto aqueles que acabaram de entrar, como alunos,  em nossas universidades.

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