Por que é preciso ler Armadilha da identidade nos dias de hoje?

Alexandra Lima Silva

Editora Veneta

Assim que eu retornei dos Estados Unidos, após um ano me dedicando às pesquisas para meu atual projeto de pesquisa a respeito das narrativas de si na escravidão, me deparei com o livro Armadilha da identidade. A experiência de viver num país em que a segregação racial foi legal por muitos anos, ainda me intrigava quando eu ouvia pessoas brancas pobres serem contrárias às ações afirmativas. Eu ouvi algumas vezes, de pessoas brancas pobres, que “cotas” eram privilégio e que ninguém se preocupava com os problemas dos brancos pobres na América. Tudo isso me fazia considerar o conceito de classe também como fundamental para compreender as tensões do mundo contemporâneo. Precisamos, sim, falar sobre raça e classe. E essa é a preocupação central no livro Armadilha da identidade. Raça e classe nos dias de hoje, de Asad Haider.

“Todos nascemos em algum lugar”. Filho de imigrantes paquistaneses e nascido numa pequena cidade na Pensilvânia Central, nos Estados Unidos, Asad Haider sentia que  “ninguém possuía realmente capacidade de reconhecer” a identidade dele, pois vivia um não-lugar entre os “garotos brancos na Pensilvânia que perguntavam de onde eu era” e “os parentes paquistaneses que apontavam meu sotaque americano”.

O livro é leitura obrigatória para quem procura compreender melhor o momento em que o mundo vive, principalmente os protestos do movimento Black Lives Matter, que dos Estados Unidos ganharam o mundo, com gritos de “sem justiça, não há paz” e pelo fim da brutalidade policial contra a população negra e outros grupos historicamente silenciados e oprimidos.  Outro ponto forte do livro, para quem ler a edição brasileira, é o prefácio do professor Silvio Luiz de Almeida, para o qual: “a identidade se torna uma armadilha quando se converte em uma política, ou, mais precisamente, em “política de identidade” ou “identitarismo”. Ainda a respeito da leitura que Almeida faz de Haider: “o identitarismo é uma das formas assumidas pela ideologia neoliberal, que cultua o hiperindividualismo, o empreendedorismo, as ‘metas’ e que, ao mesmo tempo, justifica a destruição do valor da solidariedade e dos mecanismos estatais de proteção social. Com isso, fica aberto o espaço para o extermínio da população negra e indígena e para o encarceramento em massa como método de controle da pobreza”.

A armadilha reside no perigo de não se considerar as condições materiais da vida social. Haider falar principalmente para a “esquerda identitária”, alertando para os riscos de paralisia que o identitarismo pode gerar, ao tornar a luta contra as opressões, refém da política identitária. Por isso, Haider defende que o anticapitalismo seja também um passo necessário para que a criação de “uma nova universalidade insurgente”. Para que tal caminho seja erguido, Haider conclui: “o que nos falta é um programa, estratégia e táticas. Se deixarmos de lado o refúgio da identidade, essa discussão poderá começar”.

Referências:

ALMEIDA, Silvio Luiz de. Prefácio. In: HAIDER, Asad. Armadilha da identidade. Raça e classe nos dias de hoje. São Paulo: Veneta, 2019.

HAIDER, Asad. Armadilha da identidade. Raça e classe nos dias de hoje. São Paulo: Veneta, 2019.

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