Somos todos Paulo Freire?

Carlos Henrique Tretel

“No processo da fala e da escuta a disciplina do silêncio a ser assumido com rigor e a seu tempo pelos sujeitos que falam e escutam é um sine qua da comunicação dialógica. O primeiro sinal de que o sujeito que fala sabe escutar é a demonstração de sua capacidade de controlar não só a necessidade de dizer a sua palavra, que é um direito, mas também o gosto pessoal, profundamente respeitável, de expressá-la. Quem tem o que dizer tem igualmente o direito e o dever de dize-lo. É preciso, porém, que quem tem o que dizer saiba, sem sombra de dúvida, não ser o único ou a única a ter o que dizer. Mais ainda, que o que tem a dizer não é necessariamente, por mais importante que seja, a verdade alvissareira por todos esperada. É preciso que quem tem o que dizer saiba, sem dúvida nenhuma, que, sem escutar o que quem escuta tem igualmente a dizer, termina por esgotar a sua capacidade de dizer por muito ter dito sem nada ou quase nada ter escutado.” (Paulo Freire, in Pedagogia da Autonomia, p. 73)

Sem dúvida, seremos um dia um país melhor, se a maioria, concordo plenamente, assim o quiser, um dia.

Em outras palavras significa reconhecer que a opinião pública (do grande público pois) se encontra (continua, melhor seria dizer) em disputa? E que temos, cada qual de seu plano de vista, que caprichar para conquista-la, fazê-la pender para o nosso lado, para o nosso pensar?

Não vendo de minha parte, assim, do plano em que me encontro, de cidadão, manchetes em horário nobre de rádio e televisão de que o PNE e os planos subnacionais se encontram em risco de se tornarem meras cartas de intenção, até seria (des)necessário dizer que, infelizmente, vence a disputa por enquanto a opinião (de)formada pelo silêncio dos grandes grupos midiáticos quanto a esse risco, descomprometidos que são, grosso modo, bem sabemos, salvo uma ou outra noticiazinha que alguns veiculem por quase descuido, com a sorte de tod@s @sbrasileir@s, especialmente os historicamente deixados à margem, mas comprometidos sim, pelo pensar e agir, embora publicamente assim não se reconheçam, com a dos grupos com os quais têm interesses comuns.

Há alguns dias, comentei com vocês que essa ideia de Escola Sem Partido não deveria (na minha opinião inclusive) sequer ser votada, uma vez que quanto menos riscos a nossa educação pública sofrer, além dos inevitáveis que já sofre, melhor.

O que me preocupa é que por vezes nossa própria militância adiciona risco desnecessário ao sucesso de nosso esforço para o convencimento do grande público. A opinião pública acerca dessa proposta da Escola Sem Partido, por exemplo, esteve em disputa recentemente. Em audiência pública patrocinada pela Comissão de Educação do Senado Federal no dia 01.09.2016, formou-se uma interessantíssima mesa (tal como a virtual que espero ajudar a formar aqui pela PLANOS DE VISTA um dia) para discutir a proposta, ou melhor, o programa da Escola Sem Partido.

Quando me parecia chegar o debate ao momento em que se poderia desconstruir a ideia proposta, a audiência foi suspensa pelo senador Cristovam Buarque que a presidia. Deixo a análise dos motivos que determinaram a suspensão a você, leitor@, até porque, para mim, o que interessa é, de início, lamentar a oportunidade perdida pela falta de maturidade daqueles que se encontravam em plenário justamente para ajudar a desconstruir a ideia da Escola Sem Partido. E, mais à frente, um dia quem sabe?, quando talvez você se disponha (assim espero) a monitorar conosco o plano de educação da cidade em que nasceu ou vive, desenvolver com você, leitor@, uma militância mais com a nossa cara, do pensar, do pensar que se quer (embora nem sempre assim consigamos) certo, que ao menos se esforce para disso gradativamente se aproximar, coerente com o ideal por que lutamos, independência (que não é qualquer independência) e educação (que também não é qualquer educação): independência e educação que se implicam mutuamente.

Isto posto, explico melhor o que tenho a lamentar, já que o que tenho a me animar (a sua participação futura, leitor@, na PLANOS DE VISTA) já se encontra, aqui e alhures, bem dito:

1- O representante da ONG Escola Sem Partido usava o belo (falacioso, no entanto, conforme exporei mais à frente) argumento de que a proposta não encerra nada que já não se encontre garantido em diversos marcos legais, etc e tal, de que a proposta, enfim, no limite, segundo ele, se presta apenas e tão somente a informar os pais e @s estudantes acerca de seus direitos, argumento sensível, pois, a tod@ e qualquer ativista da educação. Daí o perigo da proposta: de que reúna ela condições um dia de ganhar a simpatia da opinião pública de que falamos. E pela qual estamos (ou deveríamos estar tod@s?) em disputa permanente.

2- Momentos antes da audiência ser suspensa, o debate se encontrava em um momento em que se poderia argumentar, na minha opinião, com os representantes da ONG Escola Sem Partido que (já que a ideia do programa, segundo eles defendiam, é a de empoderar o segmento de pais e alun@s incorporando-os à gestão, ao que parece, das escolas) não haveria razão para não radicalizar programa já existente no MEC com idêntico objetivo. Ou seja, já que é para radicalizar a participação de pais e alun@s no dia-a-dia das escolas (como, aliás, defendo também) por que não radicalizá-la difundindo, por meio das rádios e tvs dos grandes grupos midiáticos inclusive, o Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares?

Já imaginou que interessante seria, car@ leitor@, se entre o Jornal Nacional e a Novela das Oito passasse diariamente clipe educativo, minissérie seria ainda melhor, acerca do papel do conselho escolar? Com a participação inclusive de artistas globais? Isso sim seria levar aos interessados informação de interesse: primeiramente, quanto à existência da possibilidade de participação nas escolas, para além, muito além da forma com que tradicionalmente a escola a concebe e oportuniza; em seguida, quanto aos limites e as possibilidades dessa participação. Inclusive levando a tod@s, mediante produções de qualidade, as experiências exitosas que temos espalhadas pelo Brasil afora. Essas não podem faltar, principalmente no horário nobre de nossas rádios e, principalmente, de nossas tvs. Para mostrar ao nosso povo que um outro mundo é possível!

Quanto à ideia de Escolas Sem Partido, só para finalizar, pensemos mais um pouco: por que alguém ou alguma OnG se colocaria em luta de norte a sul do país para aprovar projeto de lei que tem por objetivo último, embora assim não assumam, tutelar pais e alun@s, discernindo por el@s aquilo que consideram relevante que tod@s saibam? Por que não deixar que cada comunidade escolar decida por si o que porventura o coletivo diretamente interessado considere relevante saber? E implementar?

De todo modo, desperdiçamos, infelizmente, essa oportunidade para desconstruir a ideia da Escola Sem Partido oferecida no dia 01 de setembro. E, pior ainda, deixamos transparecer, pelo que temos muito a lamentar e refletir, à opinião pública que os defensores da Escola Sem Partido tem mais educação (e isso, não nos esqueçamos, é preponderante para a definição de quem fica com a simpatia do grande público) que os que são contrários à ideia. Sorte nossa, dirão alguns de nós talvez, que o prejuízo foi pequeno, que quase ninguém assiste à TV Senado, cuja programação, recheada de discussões complexas, não é lá do agrado do grande público. Não nos esqueçamos, entretanto, que nossa luta é para que um dia assim mais não seja! Para que um dia nada seja lá muito complexo ao nosso povo, até porque será ele bem formado pela escola pública pela qual lutamos…

É necessário, assim, urgente mesmo, que repensemos nossa militância. Se temos Paulo Freire por patrono, temos compromisso também, tal como ele sempre teve, com o pensar certo e com a ação coerente com esse pensar, com a belezura, enfim, como ele mesmo sempre dizia, de estar no mundo com o mundo para transformá-lo em um lugar melhor para se viver.

Mas o que se viu por parte daqueles que se encontravam na audiência justamente para desconstruir a ideia de amordaçar @ professor@, embutida na proposta da Escola Sem Partido, foi de fato incoerente com a proposta de belezura defendida por Freire. Perdemos a oportunidade de ganharmos a simpatia da opinião pública. Até por que se apresentou, na minha opinião, repito pela última vez, oportunidade para apresentar à opinião pública uma ideia melhor, a do Programa Nacional de Fortalecimento dos conselhos Escolares.

Muito melhor. E que já existe. Até por isso devemos alertar sempre que possível a sociedade sobre a sua existência, contrapondo-a sempre também à da Escola Sem Partido. A invenção da roda que a Escola Sem Partido quer creditar para si já aconteceu há muito tempo. A roda já existe enfim. Como, no entanto, fazê-la andar?

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