Pisa: culpa do Paulo Freire?

Tiago Tristão Artero

Comentarista da Jovem Pan, diante dos resultados do Pisa, diz que somos um país de analfabetos funcionais. Elencou diversos pontos que se seguem neste artigo de opinião e não foi corrigido em nenhum aspecto, portanto, parece ter opinado aquilo que reflete um alinhamento do programa (facilmente encontrado quando digitamos Pisa no YouTube, seguida do nome da rádio).

Disse que a pontuação não é obra do acaso, tem a ver com:

O Patrono da Educação ser Paulo Freire;

O esquerdismo que vem do Paulo Freire, que era adorador de ditadores e tinha um método que era um plágio;

A mentalidade marxista, de coitadinho;

A Indisciplina, que não tem somente a ver com a periferia, mas também com o movimento de contracultura que diz que é proibido proibir, culpa da ideia da democratização do ensino;

A desvalorização da meritocracia;

Professoras e professores ligados à politização;

O fato de que não adianta investir na educação, não há falta de dinheiro, pois gasta-se com Ensino Superior, somente;

O fato de que as alunas e alunos são formados como militantes e aprendem que não há conteúdo certo e errado, não há conhecimento objetivo;

O conhecimento ter sido substituído por ideologias;

Os especialistas da educação não entenderem de educação e terem passado pelo MEC. Por isso a situação está desta forma.

Por fim, finaliza justificando o mau desempenho das escolas particulares. Diz que estas escolas devem ficar preocupadas, pois os maus resultados são culpa das professoras e professores que vêm das universidades, locais que deformam estes profissionais e são um antro de ignorância e doutrinação ideológica. Esses professores não dominam o conteúdo e usam o tempo para falar de política que é mais fácil (falam somente de Lula livre e enaltecem Che Guevara).

Sabemos que estes argumentos têm ganhado espaço nas discussões relativas à elaboração de políticas públicas na área da educação.

A educação brasileira é atribuição essencial dos governos estaduais e dos municípios. A educação federal atual, de elaboração predominante durante o governo Lula, vai muito bem, lidera vários índices de desempenho, mesmo não tendo como foco as avaliações de larga escala, mas, sim, a formação pelo trabalho (não para o trabalho) com desenvolvimento de ciência e tecnologia (como é o caso dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, criados durante a atuação do então Ministro da Educação Haddad). Aliás, as dificuldades atuais dos Institutos Federais devem-se a ações tomadas pelo então presidente Temer e pelo governo atual.

Sobre a educação pública, por que não multiplicar as boas experiências já existentes nos níveis estaduais e municipais? Expandir os Institutos Federais, com o mesmo grau de investimento, mesmo grau de formação dos docentes (em sua maioria, mestras e mestres, doutoras e doutores, mesmo nas áreas técnicas)?

Se a maioria dos discentes das escolas particulares vai mal porque os docentes foram formados nas Universidades Públicas, por que isso não ocorre nos Institutos Federais? Aliás, como os Institutos Federais superam as escolas particulares, mesmo não tendo como objetivo alcançar médias altas em avaliações de larga escala ou preparar para o vestibular?

Vou além, quem disse que os docentes das escolas particulares foram formados nas Universidades Públicas?

Há muito o que se discutir na educação e os argumentos simplistas de boa parte dos governantes atuais só mostram o grau de ignorância da educação e da realidade (ignorância até mesmo sobre a importância da educação num regime liberal).

Numa perspectiva de articulação do marxismo com a educação, posso dizer que não está relacionado à “coitadismo” ou passividade, pelo contrário, está vinculado a processos de superação e transformação da realidade, a partir das condições materiais e aprofundamento da compreensão das causas dos problemas sociais, para além dos fenômenos.

Quanto aos mecanismos e necessidades do capital, a melhora da educação está intimamente relacionada ao desenvolvimento da indústria (aspecto em franca decadência no Brasil).

Nesta nova forma de colônia que estamos nos tornando (com intensificação do apoio do governo atual, embora os anteriores também tenham contribuído para isso), resta exportarmos matéria-prima e desmontarmos nossa indústria e toda tecnologia ligada a ela que se torna obsoleta muito rapidamente.

Aumento do agronegócio e venda de commodities, alinhado ao emprego ou subemprego (dadas às políticas trabalhistas atuais) disponível no setor de prestação de serviços não requisitam trabalhadores e trabalhadoras com um bom grau de estudos. A depender do modelo de produção atual, vamos mal.

A China (com todas as contradições sociais e ambientais que conhecemos e que devem ser revistas) está fazendo a transição da indústria para a produção de tecnologia, dependentes da educação, enquanto nós (digo, o governo atual) pretendemos precarizar ainda mais os investimentos em educação e implantar um ensino muito mais profissionalizante do que profissional/tecnológico, consolidando nosso papel de colônia.

Quanto mais passa o tempo, menos fará sentido argumentos de que Paulo Freire e toda a esquerda são responsáveis pela conjuntura atual da educação. Esta desculpa não vai mais colar e mudanças sensatas precisarão ser realizadas, algo pouco provável com os que, atualmente, definem as políticas em educação. Paulo Freire talvez nos socorra.


Imagem de destaque: Marcelo Horn/ GERJ

 

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