Pelo sorriso das crianças: em defesa do brincar

Marcelo Silva de Souza Ribeiro

Thiago Silva de Freitas Santos

 

 

E a pergunta roda

E a cabeça agita

Eu fico com a pureza

Da resposta das crianças

É a vida, é bonita

E é bonita

(O que é, o que é – Gonzaguinha)

Abordar o lúdico do ponto de vista científico e assumí-lo profissionalmente como referência é um trabalho árduo, pois também há que se enfrentar pré-conceitos e transpor barreiras. Além do aspecto histórico que construiu toda uma representação de inferioridade em torno do lúdico, da brincadeira e, consequentemente, da infância, há a atual conjuntura onde o capital assume e consome a tudo e a todos, obstaculizando o parar, o ouvir e o pensar, posturas humanas imprescindíveis para estar em contato consigo e com o outro.Todo esse impedimento torna, inclusive,o espaço e o tempo do brincar escasso e até extinto. Afinal, o brincar e a vida lúdica são vistos, via de regra, como uma perda de tempo na sociedade do consumo e “times is business”!

Não é por menos, por exemplo, que os poucos espaços de brincar (e brincar livre) nas escolas, mesmo em escolas de educação infantil, tem entrado em regime drástico. É comum, por exemplo, professores castigarem os alunos por “mau comportamento” retirando seus horários de recreio e as atividades escolares sufocarem o tempo livre das crianças.

O brincar e toda a dimensão lúdica fazem parte daquelas coisas classificadas como inutilidades da vida. Apartir de algumas compreensõesde NuccioOrdine (2016), em “A utilidade do inútil: Um manifesto”, é possível dizer que a brincadeira também estaria no rol das coisas situadas como inúteis, mas que são extremamente valiosas para a vida humana. A brincadeira e a dimensão lúdica se configuram importantes (embora inúteis para um mundo produtivista e pautado na eficiência e eficácia dos resultados) para a vida humana à medida que possibilitam a alegria de estar em atenção, envolvido, atuando em algo, vivendo a fantasia e, graças a isso tudo, experimentando possibilidades de ser.

Ao abarrotarmos nossas crianças e adolescentes de obrigações, de deveres a serem executados, de inculcarmos o sucesso a qualquer custo ou quando roubamos as infâncias daquelas crianças que vivem em situações de vulnerabilidade sócio econômica, estamos dizendo que o brincar e o viver a dimensão lúdica são perda de tempo e coisas sem valor. E tudo isso pode ter um grande preço que compromete o próprio desenvolvimento e mesmo a saúde.

Talvez o sentido de vida que Jack Kerouac (2005), em o Viajante Solitário,denunciava ao se referir a “era do jato”,do prático, do rápido e do necessário, não caiba mais no “ser”, justamente porque tem crucificado, amaldiçoado e até mesmo exterminado aquele que se rebela ao modo produtivista que que reduz tudo ao ter.A brincadeira, a dimensãolúdica, portanto,nessa perspectiva passa a ser uma resistência necessária, contudo árdua.Além disso, viver e assumir a brincadeira, a dimensão lúdica, é um rebelar-seaos acontecimentos que nos retiram direitos em prol de uma produção sem vida, sem criatividade e que nos empobrece existencialmente.

Os profissionais, sobretudo da educação, e os pesquisadores que se rebelam e persistem em defender a brincadeira e a dimensão lúdica como necessárias a existência, vivem, assim, a difícil tarefa de romper barreiras. Contudo, há alentos quando, num sopro de ar fresco, mas também de força, vivem suas tragédias, até porque não é fácil,mas triunfamao possibilitar uma vida mais bonita, um sorriso de alguma criança.

Referências:

KEROUAC,Jack.Viajante Solitário.São Paulo: L&PM Pocket, 2005

ORDINE, N. A utilidade do inútil: um manifesto. Rio de Janeiro: Zahar, 2016

Foto de Destaque: Pedro Cabral

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