Pedagogia para negativados: elementos para problematizar a educação ao longo da vida – exclusivo

Roberto Rafael Dias da Silva

Em um breve exercício de acompanhamento das mídias e publicidades contemporâneas, desperta minha atenção o uso recorrente de uma nova adjetivação, uma nova caracterização de público intensamente visibilizada em nossa época. A expressão “negativado” ingressou na terminologia de nosso tempo, sendo utilizada para os indivíduos que permanecem em situação de compromissos financeiros em aberto. Em outras palavras, os indivíduos negativados podem ser reconhecidos como aqueles consumidores que, continuamente, seguem devendo aos seus credores. A consequência de tal condição pode ser dimensionada na negação de novas aquisições, novos financiamentos ou mesmo novos títulos de crédito.

Tornar-se negativado ou estar negativado, sob essa lógica, apresenta-se como uma das situações mais corriqueiras de nossa época, ao ponto em que começa a constituir-se como um novo mercado, paralelo e diversificado. Promete-se um mercado fácil e rápido, sem fiadores e consulta ao sistema de proteção de crédito, para todos que estejam nessa condição. Como esse cenário produz ressonâncias nos programas e políticas de educação na atualidade? Que desdobramentos subjetivos são engendrados na intensificação destas estratégias? Quais saberes são priorizados e colocados em ação nas práticas educativas de nosso tempo? Procurando examinar essa questão, de forma breve, apresentarei determinados argumentos que, com maior ou menor intensidade, delineariam essa noção que estou nomeando como “pedagogia para negativados”.

Maurizio Lazzarato, recentemente, apresentou alguns estudos acerca dos modos de governo pelos quais todos somos posicionados na condição de “endividados”. De acordo com o pesquisador, em sua obra “Il governo dell’uomo indebitato”, as variadas formas de endividamento intensificam-se nas condições atuais do neoliberalismo, produzindo mecanismos de governo de nossas condutas através de regulamentações flexíveis e da individualização/privatização das responsabilidades. Inspirado nos escritos políticos de Michel Foucault, argumenta que tais formas de regulação operam na constituição de nossa subjetividade. Entretanto, essas estratégias mobilizam nossos desejos, através de variados mecanismos comunicativos de nossa época – marketing, pesquisas, televisão, redes sociais, dentre outros. Ao contar com nossos desejos, as formas do capitalismo neoliberal tornam-se muito sofisticadas.

Estamos estudando o suficiente? Estamos preparados para o nosso trabalho? Conseguimos adquirir os objetos tecnológicos mais avançados? Somos inovadores e pró-ativos? Temos iniciativas empreendedoras, capazes de promover mudanças? Conhecemos as melhores dietas e os melhores cardápios para melhorar nossa qualidade de vida? Conseguimos postar em nossos perfis das redes sociais experiências atraentes? Temos tempo para pensar e planejar todas as nossas demandas? Mais uma vez dialogando com Lazzarato, não mais conseguimos explicar o capitalismo através das relações entre capital e trabalho. Ao longo dos últimos anos, com a financeirização do capital, as relações de débito e crédito oferecem importantes chaves de leitura para a compreensão do nosso tempo. Tal relação, materializada no mundo das finanças, “opera transversalmente na produção, no sistema político, no Estado e no consumo”.

Levando adiante a hipótese de Lazzarato, podemos afirmar que a relação crédito-débito também oferece uma grade de inteligibilidade para pensar as práticas de educação ao longo da vida, potencializando o que estou nomeando como “pedagogia para negativados”. Em outras palavras, através das formas de privatização econômica e de individualização do social, os indivíduos são interpelados a produzirem, permanentemente, novos percursos formativos – atraentes, inovadores e originais. Ao assumirmos os delineamentos dessa meta pretensiosa, aspiramos ingressar em condição de dívida permanente, tornando-nos alvos das “pedagogias para negativados”!

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