Paisagens da região de Lagoa Santa: perspectivas de educação patrimonial no vale do Sumidouro

Vagner Luciano de Andrade

Os estudos sobre a Pré-história brasileira se consolidam no currículo da disciplina de História do 6º ano, sendo um recorte de suma importância para entendimento dos povos pioneiros que ocuparam nosso país. Neste contexto, as paisagens da região de Lagoa Santa vislumbram perspectivas de educação ambiental e patrimonial a partir dos cenários e panoramas do Parque do Sumidouro. Com área de aproximadamente 1.300 hectares, a unidade de conservação do Vale do Sumidouro foi criada em 4 de junho de 1980, pelo decreto estadual no 20.597. O parque recebe muitos visitantes, em sua maioria estudantes da educação básica. Localiza-se entre os municípios de Lagoa Santa e Pedro Leopoldo, próximo às áreas urbanas de Fidalgo, Lapinha, Quinta do Sumidouro e do Aeroporto de Confins. A área contempla, além de ensino de História, noções de Geografia e Ciências ao preservar importantes regiões de Cerrado, matas de galeria e vegetação rupícola, apresentando composição florística com muitas espécies endêmicas.

Foto: Thainá Rossatti/ Imprensa MG

No caso de conteúdos de Ciências para alunos do 7º ano há um levantamento preliminar de fauna e flora realizado pelo biólogo Jefferson Ribeiro da Silva, pelo engenheiro florestal Sérgio Kochi e pelo taxidermista Geraldo Theodoro de Mattos, técnicos do IEF-MG. Os alunos podem in loco visualizar as principais espécies da fauna local: andorinhão, beija-flor, biguá, quati, gambá, garça-grande, joão-de-barro, mão-pelada, paca, periquito-rei, sagui ou mico-estrela e tatu-galinha; e da flora: araticum, aroeira do sertão, ipê-amarelo, jatobá do campo, murici e pequi. Esses estudos, por sua vez, maximizam as perspectivas de preservação da biodiversidade local.

Museu Arqueológico de Lagoa Santa(Museu do Castelinho). Fonte: Laboratório de Ciência da Conservação (UFMG)

A cultura popular também é um potencial para visitas e vivências educativas. Lendas e histórias envolvem a lagoa do Sumidouro em seus 15 km de perímetro e localidades rurais adjacentes. No local, encontra-se um paredão, onde se apreciam pinturas rupestres ampliando possibilidades do fazer pedagógico ao revisitar tempos pretéritos. As aulas de História explicitam a importância da arqueologia no âmbito dos estudos da Pré-História Brasileira e suas interfaces. No entorno da lagoa foram encontrados muitos objetos de cerâmica, podendo haver outros para serem descobertos. Próximo ao lago fica o rochedo conhecido como Alto do Fidalgo, onde morreu Dom Rodrigo Castelo Branco, representante da Coroa Portuguesa, assassinado por integrantes do grupo de Manuel Borba Gato, genro de Fernão Dias. Assim, paisagens educativas se materializam como prato cheio para ensino de História do Brasil Colônia junto a alunos do 8º ano.

A lagoa é abastecida pelo ribeirão Samambaia, que nasce no interior de uma fazenda e desaparece na base de um rochedo calcário, onde inicia seu curso subterrâneo, ressurgindo novamente na margem oposta do rio das Velhas, num local conhecido como Olhos d’água, tornando essa paisagem também um cenário perfeito para aulas de Geografia em conexões interdisciplinares com os demais conteúdos já explicitados. A lagoa é abastecida por uma ressurgência vinda da localidade de Mocambeiro, no município de Matozinhos.

Trilha da Travessia Sumidouro. Fonte: Parque Estadual do Sumidouro/Blogspot

Elementos pedagógicos de bandeirismo e barroco mineiro estão presentes na região, evidenciando o potencial educativo das localidades citadas. O bandeirante Fernão Dias Paes Leme se estabeleceu na região do Sumidouro, a procura de ouro e pedras preciosas, trazendo consigo uma bandeira com aproximadamente 5.000 pessoas. A Quinta do Sumidouro, um dos três primeiros povoados fundados no Estado por ele, guarda importantes acervos arqueológicos, culturais, históricos, espeleológicos, naturais e paleontológicos, de reconhecimento científico internacional. A Capela de Nossa Senhora do Rosário, construída em 1676 e tombada em 1976 pelo IEPHA, é um típico exemplar da arte barroca mineira do século XVII. Sua visita permitirá aos alunos entenderem um pouco da complexidade do barroco mineiro. O altar todo esculpido em madeira é atribuído ao arquiteto e escultor Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.  A Casa de Fernão Dias é um prédio com arquitetura típica da segunda metade do século XVII e serviu de apoio à mineração no Rio das Velhas, por volta de 1701. A casa tem paredes laterais em pauapique, a frontal em adobe e as janelas em canga, o que demonstra que a edificação já foi reformada em diferentes épocas. Sua aplicação pedagógica conecta-se às empreitadas de povoamento dos sertões em tempos coloniais, com permanências e rupturas no tempo e no espaço. Um dos antigos proprietários, Gustavo Vale, presidente da Ordem dos Bandeirantes, solicitou seu tombamento e sua recuperação para posterior implantação do Museu do Bandeirante, onde seriam expostas réplicas em cera, objetos, móveis, ferramentas e documentos do período da mineração. O espaço não abrigou a respectiva coleção museológica com seus atributos educativos, tendo ocupado a sede da APA Carster de Lagoa Santa e do Centro de Referência Patrimonial do COPAM. Mas evidencia-se que a região tem conjuntos e atributos relevantes para permitir vivencias educativas ímpares, motivando alunos e professores a descobertas que inovem o jeito tradicional de educar, renovando-o, readequando-o à premissas e demandas da atualidade.

Vagner Luciano de Andrade – Casa Fernão Dias – Foto: Cíntia Palhares

Para saber mais:

ANDRADE, Vagner Luciano de. EDUCAÇÃO PATRIMONIAL E ABORDAGENS INTERDISCIPLINARES EM ECOLOGIA, GEOGRAFIA E HISTÓRIA NO TURISMO ESCOLAR: Potencial pedagógico do Parque Estadual Vale do Sumidouro – MG, berço do Homem de Lagoa Santa e da paisagem cárstica adjacente. Artigo de Conclusão de Curso / Especialização em Metodologias do Ensino de História. Centro Universitário Leonardo da Vinci: Indaial/SC, 2017

DIÁRIO DA TARDE. Reconstrução da história: Pedro Leopoldo restaura altar colonial da Capela Nossa Senhora do Rosário. Caderno Grande BH. 01/05/2000. p. 5

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