Os impactos da pandemia na aprendizagem

Raquel Gentil 

Um estudo recente da Unicef revelou que mais de 5 milhões de estudantes não tiveram acesso à educação no Brasil em 2020 em razão da pandemia. Desses, mais de 40% eram crianças com idades entre 6 e 10 anos. A especialista Lourdes Atié, parceira do LIV (Laboratório Inteligência de Vida), programa de educação socioemocional, acredita que a aprendizagem desses estudantes foi bastante impactada. “Mais do que dominarmos as tecnologias, precisamos saber que aprendemos de forma diferentes em diferentes ambientes da aprendizagem. Este equívoco foi um dos mais  graves que as escolas privadas no Brasil cometeram, achando que se pode ensinar no mesmo número de horas e da mesma maneira no ensino presencial e no remoto. O novo caminho é acabarmos com a história de ensino híbrido, que de híbrido só mesmo o professor que não ficou nem lá e cá, em lugar nenhum fazendo tudo, de todo jeito. A escola que surge é a escola bimodal, que atua de forma presencial e remota, qualquer que sejam os espaços”, afirma.

Garantir êxito na aprendizagem no modelo remoto tem sido um desafio para os educadores. De acordo com Lourdes, é preciso que os professores assumam seu protagonismo como profissionais do conhecimento e não técnicos que seguem o que algum guru dizendo o que precisam executar. “Precisamos estudar muito a respeito de como o ser humano aprende nas diferentes fases da vida e como este lugar chamado escola pode ajudá-los naquilo que só na escola os alunos podem encontrar. É hora da escola provar sua relevância social, porque este governo está tentando “passar a boiada”, forçando a aprovação no congresso do ensino domiciliar ou o homeschoonling”, avalia.

Para Rafaela Paiva, doutora em educação, um dos principais desafios enfrentados pelo pensamento educacional no mundo contemporâneo é: como a escola pode melhor nos preparar para um mundo de incertezas e transformações, muitas vezes imprevisíveis? “Essa é uma resposta que a escola não tem porque está sendo construída no momento, na prática cotidiana da sala de aula, virtual ou não; nas novas formas de se comunicar, de se relacionar consigo e com o outro – não independente, mas dentro das circunstâncias; e na auto avaliação. São mudanças de sentido e de práxis que convidam e, às vezes, exigem da escola a reflexão sobre seus propósitos e necessidades do presente”, diz.

Outra preocupação dos educadores em relação aos alunos é que, mesmo em uma relação de igualdade de condições de estudo entre os alunos, pode ser criado um abismo no tocante ao aprendizado e a evolução, então, como é possível evitar situações assim? De acordo com a especialista do LIV, uma maneira de evitar que essas diferenças se transformem em desigualdades, no acesso ou na qualidade da aprendizagem dos estudantes, é criar meios de compreensão dessas diferenças e contextos, e de participação dos próprios estudantes na escolha das estratégias pedagógicas. Além disso, espaços seguros, democráticos e multidisciplinares de criação de recursos e estratégias pedagógicas para os educadores.


Imagem de destaque: Katarine Almeida / Prefeitura Boa Vista

 

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